Nóvoa tornou-se
pouco a pouco o candidato oficioso do PS jogando com figuras como Eanes, Soares
e Sampaio e muitos dirigentes e membros do governo socialista. Numa fase inicial percebeu-se que estava distante do PS, que provavelmente não era bem visto pelo
PS porque não tinha qualquer percurso partidário nem experiência política. O PS
hesitou e a candidatura de Belém acabou por salvar a face de Costa, porque lhe
permitiu manter o PS distante desta corrida presidencial - Costa nunca
pretendeu hostilizar MRS - e não colocar a sua máquina eleitoral ao serviço de
qualquer dos dois candidatos. O PS curiosamente teve 4 candidatos envolvidos
nesta corrida presidencial - Nóvoa, não militante, Belém antiga Presidente,
Henrique Neto e o médico, ambos militantes e antigos dirigentes.
Apesar de não ter conseguido uma votação próximo
da que o PS obteve em Outubro, Nóvoa beneficiou da constatação que os eleitores
socialistas começaram a consolidar – e Belém começou a descer e a estabilizar
nos 10 a 11% das sondagens muito antes das subvenções que não tiveram efeito nenhum
nos seus resultados – e foi esse voto útil que durante algum tempo alimentou
a ilusão de uma segunda volta que provavelmente não se realizou porque a esquerda
dividida acabou por ser a sua própria coveira. Percebe-se que PS, PC e Bloco
dificilmente sejam incapazes de obrigar os seus eleitores naturais a apoiarem apenas um candidato
comum. Mas ninguém sabe se nas negociações para o entendimento parlamentar que
suporta o governo de Costa, a possibilidade de uma candidatura comum que
obrigasse Marcelo a uma outra campanha e a uma outra atitude. A hipocrisia de
Marisa Matias e de Jerónimo Sousa sobre este pretenso objectivo não disfarça a realidade que no caso de um candidato único à esquerda, provavelmente a segunda
volta teria lugar independentemente do que depois seriam os cenários eleitorais
dela decorrentes. Dividir os votos quando o que estava em causa era forçar o
único candidato do centro-direita – e por isso mesmo com o trabalho muito facilitado
– em nada ajudou esse desiderato.
Tenho para mim que tanto o PCP como o Bloco
não estavam interessados na vitória de Nóvoa por temerem que com isso o PS
reforçasse o seu papel. O que agora aconteceu é que o PCP foi provocado,
sente-se diminuído, pode constituir uma real ameaça à estabilidade do acordo da
esquerda, porque o PCP pode resolver que mais facilmente recupera tudo em
eleições antecipadas – eu tenho uma outra visão e acho que essas eleições a acontecerem
por culpa do PCP seriam catastróficas para os comunistas – do que continuar a
ser assado em lume brando quer pelo PS, quer pelo Bloco nesta solução de
recurso que comporta imensas fragilidades. Sobretudo pelos bloquistas.
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