terça-feira, janeiro 26, 2016

CURIOSIDADES DAS PRESIDENCIAIS: Nóvoa foi sempre o candidato envergonhado do PS. Mas PCP e Bloco nunca aceitaram que o PS consolidasse a sua posição política hemónica à esquerda

Nóvoa tornou-se pouco a pouco o candidato oficioso do PS jogando com figuras como Eanes, Soares e Sampaio e muitos dirigentes e membros do governo socialista. Numa fase inicial percebeu-se que estava distante do PS, que provavelmente não era bem visto pelo PS porque não tinha qualquer percurso partidário nem experiência política. O PS hesitou e a candidatura de Belém acabou por salvar a face de Costa, porque lhe permitiu manter o PS distante desta corrida presidencial - Costa nunca pretendeu hostilizar MRS - e não colocar a sua máquina eleitoral ao serviço de qualquer dos dois candidatos. O PS curiosamente teve 4 candidatos envolvidos nesta corrida presidencial - Nóvoa, não militante, Belém antiga Presidente, Henrique Neto e o médico, ambos militantes e antigos dirigentes.
Apesar de não ter conseguido uma votação próximo da que o PS obteve em Outubro, Nóvoa beneficiou da constatação que os eleitores socialistas começaram a consolidar – e Belém começou a descer e a estabilizar nos 10 a 11% das sondagens muito antes das subvenções que não tiveram efeito nenhum nos seus resultados – e foi esse voto útil que durante algum tempo alimentou a ilusão de uma segunda volta que provavelmente não se realizou porque a esquerda dividida acabou por ser a sua própria coveira. Percebe-se que PS, PC e Bloco dificilmente sejam incapazes de obrigar os seus eleitores naturais a apoiarem apenas um candidato comum. Mas ninguém sabe se nas negociações para o entendimento parlamentar que suporta o governo de Costa, a possibilidade de uma candidatura comum que obrigasse Marcelo a uma outra campanha e a uma outra atitude. A hipocrisia de Marisa Matias e de Jerónimo Sousa sobre este pretenso objectivo não disfarça a realidade que no caso de um candidato único à esquerda, provavelmente a segunda volta teria lugar independentemente do que depois seriam os cenários eleitorais dela decorrentes. Dividir os votos quando o que estava em causa era forçar o único candidato do centro-direita – e por isso mesmo com o trabalho muito facilitado – em nada ajudou esse desiderato.
Tenho para mim que tanto o PCP como o Bloco não estavam interessados na vitória de Nóvoa por temerem que com isso o PS reforçasse o seu papel. O que agora aconteceu é que o PCP foi provocado, sente-se diminuído, pode constituir uma real ameaça à estabilidade do acordo da esquerda, porque o PCP pode resolver que mais facilmente recupera tudo em eleições antecipadas – eu tenho uma outra visão e acho que essas eleições a acontecerem por culpa do PCP seriam catastróficas para os comunistas – do que continuar a ser assado em lume brando quer pelo PS, quer pelo Bloco nesta solução de recurso que comporta imensas fragilidades. Sobretudo pelos bloquistas.

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