No Executivo de Luís Montenegro há pelo menos três ministros e quatro secretários de Estado que têm ou tiveram ligações a lojas maçónicas. Muitos foram iniciados no início da carreira política mas afastaram-se entretanto. No Governo, no maior partido da oposição e nos altos cargos da Administração Pública são vários os que foram iniciados na maçonaria, tendo muitos deles partilhado rituais juntos, segundo apurou uma investigação CNN Portugal/TVI. Muitos, ou até mesmo grande parte deles, aderiram logo no início das carreiras políticas e profissionais, tendo-se, entretanto, afastado das obediências.
Só no Executivo de Luís Montenegro há, pelo menos, três ministros e quatro secretários de Estado com ligações a obediências maçónicas. A ministra da saúde Ana Paula Martins entrou há mais de 20 anos numa das maçonarias mais discretas do país – a Grande Loja Feminina de Portugal. Mas afastou-se entretanto. Já o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, e o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, foram recrutados pela Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), de onde se desligaram há muito tempo.
Era exatamente nesta mesma obediência - que há longos anos recrutou os dois ministros - que quatro secretários de Estado costumavam fazer os rituais nos templos: o secretário de Estado dos Assuntos Locais, Hernâni Dias, o secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, o secretário de Estado do Trabalho, Adriano Rafael Moreira, e o secretário de Estado da Agricultura, João Moura, apurou a CNN Portugal. Ao contrário do que acontecia em muitos governos anteriores, o Grande Oriente Lusitano (GOL), a maçonaria mais antiga do país, não tem peso no atual executivo. Agora, os holofotes estão na Grande Loja Legal de Portugal, que conta com vários governantes iniciados nas suas lojas.
O próprio Luís Montenegro chegou, em 2012, a ser associado a esta maçonaria. No entanto, o primeiro-ministro garantiu na altura que não pertencia a nenhuma obediência, tendo assumido, porém, ter participado em eventos. O seu nome constava na lista de convidados para um jantar da Loja Mozart, da GLLP, que juntava várias figuras do país, desde a área dos serviços secretos, com Jorge Silva Carvalho ou João Alfaro, políticos como Neto da Silva e empresários como Nuno Vasconcellos, e que promovia jantares com várias personalidades. A convocatória para um dos jantares - que foi noticiada pela comunicação social - foi feita por Nuno Manalvo, um social-democrata que foi chefe de gabinete de Isaltino Morais. Grande parte destes políticos foram recrutados através do "Projeto Mercúrio", montado a partir de 2004
Maçonaria na oposição
Também no maior partido da oposição, o PS, alguns dos que fazem parte do círculo mais próximo do líder, Pedro Nuno Santos, foram iniciados na maçonaria, a maioria deles exatamente na Grande Loja Legal de Portugal, a mesma dos elementos que estão agora no Governo social-democrata. É o caso de Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente de António Costa, Francisco César, o dirigente e deputado que foi diretor de campanha do líder do PS, e Pedro Vaz, deputado que também integrou a direção da campanha eleitoral de Pedro Nuno Santos. Da lista dos “irmãos” maçónicos consta ainda Francisco André, que foi secretário de Estado do Negócios Estrangeiros e da Cooperação, atual embaixador da UE no México, e ainda Pedro Pinto, dirigente socialista que está nas Águas de Portugal.
Já Pedro Nuno Santos nunca entrou na maçonaria, mas esteve como principal convidado num encontro promovido por maçons de uma obediência maçónica (Grande Loja Soberana de Portugal). Estes maçons lançaram ao mesmo tempo um clube de negócios que prometia aos sócios acesso a governantes proeminentes e que chegou a ser investigado pelo Ministério Público.
Muitos que ocupam cargos de poder passaram pela maçonaria. A maioria acaba por se afastar. Entre os membros que estão ou estiveram no Governo de Luís Montenegro, segundo apurou a CNN Portugal, há apenas dois secretários de Estado que constam nos documentos internos da GLLP como maçons ativos: Hernâni Dias, que se demitiu recentemente de secretário de Estado da Administração Local, e João Moura, secretário de Estado da Agricultura. Aliás, este governante negou pertencer à maçonaria, mas a CNN Portugal sabe que consta da lista de maçons da Loja Liberdade em Santarém, depois de ter passado por uma Loja em Tomar chamada Gualdim Pais. Quanto a Hernâni Dias, que não respondeu aos contatos da CNN Portugal, costuma frequentar uma loja chamada Domus, em Bragança.
"Gostei de estar na maçonaria. Foi um orgulho"
Tanto Miguel Pinto Luz como Pedro Duarte não escondem a sua ligação à maçonaria. O ministro dos Assuntos Parlamentares garante, porém, que apenas esteve numa reunião da Loja Mozart - que em 2012 gerou uma das maiores polémicas a envolver a maçonaria. Já Pinto Luz confirma que sempre assumiu que entrou na maçonaria quando tinha 20 e tal anos, tendo-se afastado há muito. Também o secretário de Estado Pedro Machado explicou à CNN Portugal que a sua ligação, pouco duradoura, com a maçonaria, terminou há mais de 15 anos. Chegou a ir a uma loja maçónica a convite de um amigo, mas por não “se ter identificado” afastou-se sem passar do primeiro dos graus da maçonaria - que internamente se chama de aprendiz. Todos os maçons, depois de passarem pelo processo de iniciação maçónica, vão evoluindo, passando a “companheiro” e por último ao grau de “mestre”, o que lhes dá acesso, entre outros aspetos, a reuniões diferentes.
Quem também se afastou da maçonaria foi Francisco César, dirigente do Partido Socialista e deputado pelo círculo dos Açores. “Entrei na maçonaria ainda novo, mas depois vim para os Açores e acabei por me afastar”, diz Francisco César à CNN Portugal, acrescentando: “Gostei muito de estar na maçonaria, na Grande Loja Legal de Portugal. Foi um orgulho fazer parte.” Francisco César garante ainda que “não há nada a esconder”. Foi iniciado na Loja Mercúrio, uma das mais emblemáticas lojas da GLLP. Foi precisamente nesta loja que se deu início a um plano de expansão de poder da obediência.
Projeto Mercúrio
Por isso, grande parte destes políticos foram recrutados através deste projeto de poder que existiu dentro da Grande Loja Legal de Portugal e que foi montado a partir de 2004 para conseguir captar pessoas influentes ou que viessem a ter influência. Ficou conhecido como “Projeto Mercúrio”, por ter tido início na loja com esse nome, e foi executado quando José Moreno, antigo assessor de Manuela Ferreira Leite, era grão-mestre. Foi através desse plano que se recrutaram muitos dos atuais dirigentes do PSD e do PS, segundo documentos internos.
“Entre os objetivos desse projeto estava o de recrutar jovens promissores da política que se viessem a destacar, contou à CNN Portugal um dos elementos que esteve a liderar o projeto. Por isso, muitos dos atuais políticos que estão no Governo e oposição partilharam reuniões e lojas maçónicas. Pinto Luz, por exemplo, passou pela Loja Mercúrio, onde foi também iniciado Duarte Cordeiro. “Na época, muitos deles tinham cargos nas distritais dos partidos e achavam que a maçonaria os ajudava a subir no partido”, refere fonte maçónica. Nessa altura, Rui Paulo Figueiredo, pelo PS, e Marco António Costa, pelo PSD, foram dois elementos importantes dentro da GLLP para o recrutamento em cada uma das esferas partidárias.
Muitos dos políticos que hoje estão em lugar de destaque acabaram por sair ou afastar-se das obediências maçónicas. “Quando chegam a lugares mais importantes muitos afastam-se”, refere outro dos maçons que esteve envolvido na iniciação de alguns destes políticos e que agora estão em cargos governativos. As sessões com rituais que os maçons fazem incluem pactos de silêncio e de entreajuda. E fazem também juramentos, uns sobre a constituição, outros sob um livro sagrado, como a Bíblia.
Nomeações de topo
Além do Governo e da oposição, as ligações maçónicas espalham-se pelos altos cargos da administração. Alguns dos nomes que têm sido escolhidos e nomeados pelo Executivo para ocupar lugares de topo nas entidades públicas são ou foram da maçonaria. É o caso do líder da PSP, Luís Carrilho, que assumiu o cargo em outubro de 2023, ou do nomeado administrador das Águas de Portugal Carmona Rodrigues, que assumiu o lugar em junho de 2024. Ambos foram iniciados na GLLP. O primeiro, segundo dados a que a CNN Portugal teve acesso, foi iniciado na Mercúrio – a loja que veio a ter aquele projeto de poder.
Quanto ao antigo presidente de Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues foi iniciado em total segredo dentro da obediência, na época em que estava a liderar a autarquia. Mas depois tornou-se um elemento assíduo e hoje é membro da Loja Astrolábio, costumando reunir-se com os ‘irmãos’ num templo que foi montado na quinta do maçon Alberto Trovão do Rosário, em Palmela.
A lista continua. O social-democrata que há poucos meses foi nomeado presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude é também membro da GLLP: Ricardo Gonçalves, antigo presidente da Câmara de Santarém. Junta-se, assim, a muitos outros maçons que há vários anos dirigem lugares no topo, como é o caso do diretor das secretas, Neiva da Cruz (CNN-Portugal, texto da jornalista Catarina Guerreiro)
Sem comentários:
Enviar um comentário