É tão fácil idealizar a
mancha de um cartaz, as cores a utilizar, os protagonistas do espaço, a(s)
frase(s) essencial(is) a constar, a dimensão do cartaz e depois a localização
para a sua implantação exterior.
É tão fácil elaborar
postais de apelo ao voto ou de apresentação dos candidatos ou mesmo produzir
info-mails para inundar as caixas de correio das pessoas, de forma
indiscriminada.
É tão fácil vender gato
por lebre, enganar as pessoas, prometer o que sabem não ser possível, entrar numa
espirar de demagogia e de populismo desmedido ou optar por um ambiente descontrolado
caracterizado pelo vale tudo - incluindo a criação de uma rede de páginas
fantasmas nas redes sociais, assentes em perfis falsos, através dos quais atacam
adversários políticos, alguns desses escroques e fdp indo até mais longe do que
as meras trincas políticas – tudo isto “justificado” pela ânsia de poder, pela
falta de noção do ridículo ou pela fome de visibilidade mediática, sem antes de
tudo isso ter a dignidade ou a coragem de se colocar em casa frente a um
espelho e pensar seriamente no que vê, no que vale essa imagem projectada e na
mediocridade que comporta.
Difícil já é elaborar um
manifesto eleitoral para uma campanha eleitoral séria e com conteúdo, reunindo
propostas para todos os sectores de actividade, sérias e exequíveis, documento
esse que sirva de base a um eventual programa de governo, isto apenas no caso
dos partidos com aspirações de poder.
É tão fácil elaborar
tempos de antena, distribuindo-os pelos candidatos e elaborando uma espécie de cartilha
com as ideias-força essenciais para serem repetidamente utilizadas nos espaços
de antena, nas rádios ou nas televisões.
Já não é tão fácil, como
acontecia no passado - quando a política estava no terreno em contacto muito
mais frequente, mesmo que corresse o risco de ser incomodativo e saturador para
com as pessoas - elaborar planos de acções de campanha, com o envolvimento de
pequenas equipas de militantes e candidatos no terreno, continuamente, ao nível
do sítio, da freguesia e do concelho, equipas que todos os dias, mas sobretudo
aos fins-de-semana, batam o terreno e garantem visibilidade. Tudo isto contando
com festividades e celebrações litúrgicas aos fins-de-semana que durante anos
foram os alvos preferenciais das campanhas eleitorais, dado que ali se concentra
elevado número de cidadãos a quem pretendemos passar a mensagem.
O problema é outro, mais
complexo, mais difícil, o de saber chegar às pessoas, de conseguir ganhar a sua
confiança, de estar habilitado a construir uma imagem de seriedade e de
credibilidade, o saber motivar o eleitorado a dar ao candidato uma
oportunidade. Isso é que é difícil porque não tem nada de artificial, tudo funciona
com naturalidade, no domínio das emoções e das relações humanas.
Não, não há espaço para
segredos, nem truques, nem especialistas neste âmbito: ou é ou não é, ou é sim
ou é não. Não restam alternativas. E é aqui que as coisas depois falham, porque
há uma realidade que muitas vezes os políticos e candidatos, por comodismo, ignoram
deliberadamente ou escamoteiam, correndo riscos de humilhação eleitoral, na
medida em que insistem em construir um mundo irreal, ilusório, que depois nada
tem a ver com o mundo real, com a realidade concreta que se sente quando os
candidatos e as suas máquinas de campanha vão para o terreno, ouvir as pessoas,
falar com elas, trocar ideias, ouvir elogios, reclamações e insultos, tomar um
copo numa tasca ou fazer porta-a-porta onde o grau de receptividade pode ser
avaliado, dado que o contacto directo com os cidadãos varia muito em função de
vários factores.
Difícil é os partidos e os candidatos fazerem estudos prévios sobre os níveis de abstenção nas freguesias, tentar perceber as causas desses fenómenos, procurar inverter a tendência, ouvindo as pessoas, as suas reclamações, as suas principais ambições ou desejos, as desilusões e frustrações com a política e os políticos, etc, no fundo adaptando uma atitude e um discurso a uma realidade que frequentemente é descartada por quem deveria saber, passados 50 anos de democracia, o que é uma campanha eleitoral, para que serve, etc (LFM)
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