quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Campanhas eleitorais: É tão "fácil"....

É tão fácil reunir à volta de uma mesa uma task-force - ou algo do género - para preparar uma campanha eleitoral e despejar ideias que serão depois discutidas e seleccionadas, ou não, por quem de direito.

É tão fácil idealizar a mancha de um cartaz, as cores a utilizar, os protagonistas do espaço, a(s) frase(s) essencial(is) a constar, a dimensão do cartaz e depois a localização para a sua implantação exterior.

É tão fácil elaborar postais de apelo ao voto ou de apresentação dos candidatos ou mesmo produzir info-mails para inundar as caixas de correio das pessoas, de forma indiscriminada.

É tão fácil vender gato por lebre, enganar as pessoas, prometer o que sabem não ser possível, entrar numa espirar de demagogia e de populismo desmedido ou optar por um ambiente descontrolado caracterizado pelo vale tudo - incluindo a criação de uma rede de páginas fantasmas nas redes sociais, assentes em perfis falsos, através dos quais atacam adversários políticos, alguns desses escroques e fdp indo até mais longe do que as meras trincas políticas – tudo isto “justificado” pela ânsia de poder, pela falta de noção do ridículo ou pela fome de visibilidade mediática, sem antes de tudo isso ter a dignidade ou a coragem de se colocar em casa frente a um espelho e pensar seriamente no que vê, no que vale essa imagem projectada e na mediocridade que comporta.

Difícil já é elaborar um manifesto eleitoral para uma campanha eleitoral séria e com conteúdo, reunindo propostas para todos os sectores de actividade, sérias e exequíveis, documento esse que sirva de base a um eventual programa de governo, isto apenas no caso dos partidos com aspirações de poder.

É tão fácil elaborar tempos de antena, distribuindo-os pelos candidatos e elaborando uma espécie de cartilha com as ideias-força essenciais para serem repetidamente utilizadas nos espaços de antena, nas rádios ou nas televisões.

Já não é tão fácil, como acontecia no passado - quando a política estava no terreno em contacto muito mais frequente, mesmo que corresse o risco de ser incomodativo e saturador para com as pessoas - elaborar planos de acções de campanha, com o envolvimento de pequenas equipas de militantes e candidatos no terreno, continuamente, ao nível do sítio, da freguesia e do concelho, equipas que todos os dias, mas sobretudo aos fins-de-semana, batam o terreno e garantem visibilidade. Tudo isto contando com festividades e celebrações litúrgicas aos fins-de-semana que durante anos foram os alvos preferenciais das campanhas eleitorais, dado que ali se concentra elevado número de cidadãos a quem pretendemos passar a mensagem.

O problema é outro, mais complexo, mais difícil, o de saber chegar às pessoas, de conseguir ganhar a sua confiança, de estar habilitado a construir uma imagem de seriedade e de credibilidade, o saber motivar o eleitorado a dar ao candidato uma oportunidade. Isso é que é difícil porque não tem nada de artificial, tudo funciona com naturalidade, no domínio das emoções e das relações humanas.

Não, não há espaço para segredos, nem truques, nem especialistas neste âmbito: ou é ou não é, ou é sim ou é não. Não restam alternativas. E é aqui que as coisas depois falham, porque há uma realidade que muitas vezes os políticos e candidatos, por comodismo, ignoram deliberadamente ou escamoteiam, correndo riscos de humilhação eleitoral, na medida em que insistem em construir um mundo irreal, ilusório, que depois nada tem a ver com o mundo real, com a realidade concreta que se sente quando os candidatos e as suas máquinas de campanha vão para o terreno, ouvir as pessoas, falar com elas, trocar ideias, ouvir elogios, reclamações e insultos, tomar um copo numa tasca ou fazer porta-a-porta onde o grau de receptividade pode ser avaliado, dado que o contacto directo com os cidadãos varia muito em função de vários factores.

Difícil é os partidos e os candidatos fazerem estudos prévios sobre os níveis de abstenção nas freguesias, tentar perceber as causas desses fenómenos, procurar inverter a tendência, ouvindo as pessoas, as suas reclamações, as suas principais ambições ou desejos, as desilusões e frustrações com a política e os políticos, etc, no fundo adaptando uma atitude e um discurso a uma realidade que frequentemente é descartada por quem deveria saber, passados 50 anos de democracia, o que é uma campanha eleitoral, para que serve, etc (LFM)

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