domingo, setembro 20, 2020

Sondagem: PS e PSD recuam e novos partidos ganham força

A descrença dos eleitores portugueses parece arrastar consigo toda a Esquerda e Direita tradicionais. Sondagem da Aximage para o JN e a TSF demonstra tendência para uma reconfiguração de apoios à Direita: Liberais e sobretudo o Chega já "roubaram" sete pontos a sociais-democratas e a centristas desde as últimas legislativas. PS também perde quase três pontos, mas continua acima do resultado de outubro passado.
Partidos tradicionais em queda, novos partidos em alta. É a principal leitura que resulta da mais recente sondagem da Aximage para o JN e a TSF. A liderar as perdas estão o PS e o PSD (descem quase três pontos percentuais face a julho), bem como o CDS, que se aproxima da irrelevância. No sentido ascendente destacam-se o Chega (multiplicaria hoje por cinco o resultado das legislativas) e o PAN (sobe mais de dois pontos entre julho e setembro).
O prolongar da crise económica, agora acompanhada de uma nova vaga da crise sanitária, seria uma justificação plausível para a queda do PS nas sondagens. Trata-se, afinal, do partido que está no comando. Mas, se são essas as causas para o desgaste, os socialistas e António Costa não são as únicas vítimas.
A descrença dos eleitores portugueses parece arrastar consigo toda a Esquerda e Direita tradicionais (ainda que em graus diferentes), em benefício de atores políticos mais recentes. Se esta tendência se manterá, ou se é apenas um percalço momentâneo, saberemos em próximos barómetros.
PS acima do total da direita
As maiores quedas na sondagem da Aximage são as dos dois maiores partidos. Mas os impactos são diferentes, com vantagem para o PS. Porque mantém uma vantagem de quase 14 pontos percentuais sobre o PSD; porque os atuais 37,6% dos socialistas estão ainda acima do resultado das legislativas de 2019; e porque, por comparação, os sociais-democratas, com os seus magros 23,9%, estão quatro pontos abaixo do que conseguiram nas últimas eleições. António Costa não tem razões para sorrir, Rui Rio terá talvez razões para temer novas revoltas internas.
Há outros dados que porventura ajudam o PS a respirar de alívio. À sua Esquerda, ninguém sai beneficiado: o Bloco de Esquerda só perde duas décimas de julho para setembro, mas tem menos 1,2 pontos do que nas legislativas, marcando 8,3%; a CDU continua em processo de erosão, porventura sofrendo os efeitos (ligeiros) da contestação à Festa do Avante, conseguindo agora 5,6%. Mas também à Direita do PS, se é verdade que há reconfiguração, não há mais força: os socialistas têm mais três pontos do que a soma de todos os partidos, velhos e novos, à sua Direita.
Chega a multiplicar por cinco
A nova força do PAN não deve ser menosprezada (sobe mais de dois pontos para 4,2%); o ressurgimento do Livre também não, embora seja mais difícil assegurar que veio para ficar (tem agora 1,2%); mas é de facto à Direita que a reconfiguração do sistema partidário assume contornos mais definidos e radicais (que só umas eleições, é bom lembrar, podem confirmar).
As legislativas de 2019 testemunharam o nascimento de dois novos partidos na Direita parlamentar - Chega e Iniciativa Liberal - e o tempo que decorreu entretanto mostra que o universo eleitoral, sendo o mesmo (34,5% em 2019; 34,4% em 2020), continua a redistribuir-se. Os sete pontos percentuais que PSD e CDS perdem entre o resultado das urnas no ano passado e a projeção atual foram na íntegra para os dois partidos da nova Direita liberal e radical: valiam em conjunto 2,6 pontos em outubro e somam agora 9,4 pontos. Mas não têm os dois a mesma força.
O Chega vai-se tornando, de mês para mês, de sondagem para sondagem, uma força política incontornável. Os seus atuais 6,8% representam uma subida de 1,6 pontos face à sondagem de julho passado da Aximage e de 5,5 pontos relativamente aos votos de 2019. O novo partido toma o lugar do velho CDS, que se degrada de forma acelerada: perde um ponto face a julho e um pouco mais de três comparando com outubro do ano passado (o seu eleitorado fugiu para a abstenção, PS, PSD e Chega). Vale agora 1,1%, ou seja, está em último lugar, ultrapassado até pelo Livre, que estava há muito desaparecido do radar (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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