sexta-feira, janeiro 08, 2016

JSD: um triste espectáculo perfeitamente dispensável e a exigir um ponto final imediato

Fiquei estupefacto com notícias hoje publicadas dando conta de mais uma situação de perfeita anormalidade no seio da JSD. Aliás, a forma como o tema foi abordado na comunicação social leva-me a pensar - até pelos anos de experiência que tenho destas coisas - que há uma deliberada passagem de informação de fontes para os média com propósitos que até poderão ser facilmente identificados por quem mais directamente lida com estas "coisas". Mas que em nada abafam a gravidade do que se passou.
Bem vistas as coisas, tudo começou, lamentavelmente, com a tentativa de antecipação do  Congresso da JSD para permitir a eleição de um candidato à beira de fazer 30 anos, limite de idade para que qualquer jovem faça parte de uma estrutura política de juventude partidária. Essas movimentações de bastidores não ficaram nada bem, não abonaram em nada a favor da organização, embora admita que essas habilidades na gestão de estatutos e/ou de regulamentos até nem sequer são novidades, nem uma exclusividade da JSD regional.
O que me parece é que estas habilidades políticas são dispensáveis neste momento e nesta conjuntura. A JSD, pelo menos é essa a minha opinião, precisa de uma espécie de depuração interna clarificadora - depuração que não visa pessoas, mas sim procedimentos, métodos, programa, postura política e cívica no terreno, objectivos, processos de afirmação junto dos jovens madeirenses, adaptação a novos tempos e a uma realidade caracterizada sobretudo por um desemprego jovem elevado, pela frustração crescente em muitas famílias devido ao facto dos jovens não encontrarem saídas profissionais a que se junta o fenómeno da emigração forçada, com tudo o que isso implica de negativo na separação de famílias, sobretudo de pais e filhos e mesmo de casais.
Pragmaticamente não tenho duvido - e lamento que não haja a coragem de o reconhecer - que, com o corte abrupto dos níveis de do investimento público e com o investimento privado claramente neutralizado pela crise em que ainda vivemos, tudo isso teve impacto altamente penalizador nos níveis de desemprego regionais, particularmente  em sectores que durante anos absorveram milhares de pessoas, muitos jovens entre eles, hoje desempregados. Ninguém exige à JSD o milagre de resolver este problema. Mas também não tem que sentar-se num discurso que se limita a ser o cumprir de calendário, sabendo de antemão que as soluções dificilmente vão aparecer. Por isso, que alternativas se colocam aos jovens? Muito sinceramente acho que deveria ser feito um estudo sério e amplo sobre esta temática para que a Madeira perceba, de uma vez por todas, o que está em causa quando se fala de desemprego e sobretudo do desemprego jovem. E identifique potenciais saídas profissionais que se colocam hoje aos nossos jovens, ou não. 
Dou alguns dados extraídos da informação mensal do IEM referente a Novembro de 2015:
  • há 3.060 desempregados (1.535 mulheres) com 25 ou menos anos de idade - a RAM tinha 22.808 desempregados registados no IEM;
  • há 2.649 pessoas à procura do primeiro emprego;
  • dos desempregados registados 1.413 não tinham qualquer nível de instrução, 5.134 tinham o secundário e 2.223 tinham licenciatura no ensino superior;
  • foram recebidas em Novembro apenas 1276 ofertas de emprego e efectuadas 155 colocações;
  • o desemprego registado em final de Novembro, 3.060 pessoas com 25 ou menos anos de idade, 2.218 estavam inscritos há um ano ou menos e apenas 842 estavam nessa situação há mais de um ano;
  • entre os 22.808 desempregados registados no final de Novembro de 2015, 8 tinham menos de 18 anos, 592 entre os 18 e os 19 anos, 2.460 entre os 20 e os 24 anos e 4.991 entre os 25 e os 34 anos de idade. Ou seja estamos a falar de 35,3% do total de desempregados registados na RAM!
  • no final de Novembro de 2015, quase 14 mil desempregados pertenciam ao sector de serviços, 69,4% do total e 5.583, 27,7% ao sector de indústria, energia e construção.

Para mais informações, inclusivamente sobre a juventude, recomendo aos interessados a leitura do Anuário Estatístico da Região Autónoma da Madeira - 2014 do INE recentemente divulgado.
A JSD precisa de combater a ideia de que existe apenas ou sobretudo para negociar lugares, na Assembleia ou nas autarquias, quando as eleições respectivas se aproximam. Aliás, essa ideia - que admito nem tenha correspondência plena com a realidade em toda a sua dimensão - acabou por funcionar ao longo dos anos contra as organizações de juventude, olhadas com desconfiança em determinados  círculos da sociedade, acabando por isso por sofrer também elas da indiferença crescente das pessoas face à política, aos políticos e aos partidos. 
A JSD, pelo menos é esse o meu entendimento, precisa neste momento de uma lufada de ar fresco. Precisa de um debate interno alargado, precisa de perceber o seu próprio enquadramento na sociedade madeirense, precisa de ter mais intervenção, de conquistar mais espaço mediático, tem que estabelecer pontes não com a sociedade civil como é vulgar dizer-se num chavão gasto, mas pontes com os jovens, com o seu universo humano de afirmação e preocupação. Não são os idosos que esperam seja o que for da JSD ou de outras organizações de juventude, nem elas estarão vocacionadas para isso. A verdade é que se confundem, muitas vezes, partidos com estruturas de juventude, deixando de haver uma linha vermelha, a tal linha vermelha, que separa duas realidades, dois mundos, dois universos diferentes apesar de próximos. O PSD é uma coisa, a JSD tem que ser outra. Ligados por afinidades políticas, ideológicas e logísticas. Mas cada qual com objectivos distintos.
O que se passou, a denúncia de assinaturas falsificadas para forçar a antecipação de um Congresso que corria o risco, ele próprio, de constituir uma palhaçada, surpreendeu-me e entristeceu-me. Pensei que existiam condições para que tudo se processasse com lisura, com elevação, com competência e com seriedade. Quando a ambição, individual ou de grupo, tenta sobrepor-se à lógica funcional de uma organização política com responsabilidades acrescidas, tudo se perde. É uma questão de tempo. E perde-se desde logo a dignidade colectiva e a credibilidade social.
Recomendo por isso, se me é permitido, que depois de tudo o que se passou abandonem imediatamente a ideia patética e altamente discutível de um congresso à força só para concretizar determinados cenários ou esquemas. Tudo isso deixou de fazer sentido.
Nada tenho contra as pessoas envolvidas neste processo.  Conheço-as de vista, julgo que nunca falei com elas, limitamo-nos por isso a ter afinidades políticas. Sou, como é público, militante do PSD desde 1974, também passei pela JSD (desde a Rua da Carreira, primeira sede do PSD) mas opções profissionais precoces determinaram o meu não envolvimento de uma forma activa e mais presente, na fase mais jovem da minha vida, numa actividade política que seria incompatível com as exigências profissionais e que colocaria óbvios problemas de consciência e deontológicos. Sempre dei importância a isso, sempre valorizei esse procedimento.
Acho muito sinceramente que Marco Gonçalves deveria, de uma vez por todas, afastar-se deste processo. Depois do que se passou a suspeição fica e tenha ele culpas no cartório ou não pelo que foi noticiado e denunciado, a insistência numa eleição para a liderança da JSD quando está à beira dos 30 anos, levanta desconfiança, alimenta a especulação política, vai enfraquecer a sua posição e colocar em causa qualquer mandato que lhe pudesse ser atribuído. O que se passou e foi hoje noticiado nos jornais é demasiado mau e grave para que alguns se julguem capazes de passar por entre os pingos da chuva! Ficará sempre no ar a dúvida sobre o que esteve subjacente a tudo isto, quais as motivações, que ambições porventura estarão associadas a estas movimentações, etc.  E isso não ajuda o Marco Gonçalves, com quem falei duas ou três vezes e que não acredito tenha algum interesse, ainda por cima sendo deputado regional, em ser queimado ou ter necessidade de correr, nestas condições, atrás de um lugar que não acredito prestigie a JSD depois do que se passou.
Muito sinceramente, e sem pretender condicionar seja o que for - não sou parte interessada em nada e porque acho que o que está mal nestes processos é o envolvimento dos seniores em disputas que deviam dizer respeito aos jovens, no cumprimento rigoroso de princípios e de valores éticos, políticos e deontológicos que este caso agora denunciado em nada ajuda - se a aposta é na mudança, se a aposta é na ideia de uma organização determinada e mais próxima do seu universo humano natural, então a deputada Carolina Silva, com quem nunca falei na minha vida - e que isso fique bem claro - parece-me ser uma boa aposta, tranquila, empenhada e com fortes possibilidades de recuperar a JSD e de lhe dar uma dinâmica que precisa urgentemente. Mas, repito, as candidaturas não se impõem, resultam de disponibilidades e de vontades pessoais. Aliás, cabe apenas e só às respectivas estruturas políticas de juventude, não a "cotas", opinadores ou políticos seniores, fazerem as suas escolhas e tomarem decisões. Por isso não volto ao tema (LFM)

Sem comentários: