quinta-feira, outubro 23, 2014

Realidade interna



Já uma vez escrevi nesta minha coluna de opinião - e reafirmo-o hoje - que no quadro de um novo ciclo que o PSD da Madeira inevitavelmente iniciará depois das diretas e do Congresso de Janeiro de 2015, não estou disponível, no imediato, para aceitar integrar qualquer órgão partidário, por entender que não podemos pensar no futuro e pretender dar espaço de manobra ao líder que for eleito, pressionando-o, ao invés disso, a manter as mesmas escolhas ou a reduzir-lhe o seu espaço de decisão. Tenho contudo o dever, a obrigação, de colaborar, caso seja esse a vontade do líder eleito, onde for considerado útil. Não tenho o dever de lhe virar as costas, seja ele quem for. Não tenho o direito de andar por aí armado em tonto, como se as fações internas, constituídas sobretudo por derrotados, constituam uma mais-valia para um partido sério.
Faço parte da Comissão Política Regional do PSD da Madeira desde Dezembro de 1991 e curiosamente, penso que salvo uma exceção, todos os agora candidatos já dela faziam parte.
Não tomei, porque não me sinto obrigado a isso, tal como qualquer dos militantes, a tomar posições públicas de apoio seja a quem for, independentemente de terem toda a legitimidade e o direito aqueles que o fizeram de forma diferente, optando por assumir um compromisso público concreto com qualquer dos candidatos. A liberdade é a mesma, para ambas as situações.
Este novo ciclo partidário, que tem que ser construído com tranquilidade, mobilização, solidariedade e respeito e tolerância internas, não se compadece com ajustes de contas tardios e absurdos, com recusas de colaboração ou indisponibilidades. Na política, quando fazemos uma escolha, isso quer dizer que temos um ideal e uma opção ideológica definidas. Fazemos parte de uma família ideológica que tem o dever de conhecer os seus adversários, porque ao longo destes 40 anos percebemos facilmente onde estão e quem são. Não encontraremos solidariedade nem apoio nesses. Desiludam-se os que pensam que vão transformar o barro em ouro só porque se julgam filhos de um qualquer deus menor.
Odeio o autoelogio. Lamento a falta de humildade. O PSD regional, mesmo nesse novo ciclo, continuará a ter os mesmos adversários de sempre, do passado, porque os partidos da oposição, os seus eleitores e as entidades que os têm apoiado ao longo dos anos, estarão todos concentrados na derrota eleitoral dos social-democratas, no mínimo a perda da maioria absoluta. É legítimo que pensem assim, é lógico que o queiram.
Neste contexto, lamento a agressividade, alguns ataques pessoais, uma certa falta de coragem para assumir um passado político, com erros e virtudes, com sucessos e fracassos, mas que não deixa mesmo assim de constituir um, património que marca um ciclo que foi determinante para a Madeira, os madeirenses e a Autonomia.
Tenho grande respeito pelos candidatos à liderança do PSD envolvidos na corrida interna. Ao longo destes anos, e ressalvando o facto de a minha militância datar de 1974, vi-os a todos em funções de destaque e responsabilidade, no partido ou noutras frentes, pelo que tal como eu, não acredito que os militantes e simpatizantes olhem para eles e passem uma esponja nesse tempo, por muito incómodo que ele possa ser - e parece que é - para algumas estratégias. Percebo, confesso, algumas razões para um certo radicalismo discursivo exagerado. As recentes "primárias" no PS deviam ter servido de lição, mas pelos vistos não foram.
O PSD regional não vai morrer quando Alberto João Jardim abandonar a sua liderança. Os militantes e os simpatizantes - e o PSD tem uma importante fatia do eleitorado que não prescinde de uma fidelidade eleitoral intocável - têm essa obrigação, preservar o partido, defendê-lo de tudo o que possam prejudicar nesta fase de mudança.
Encaro pois, com absoluta naturalidade o que se passa, esta disputa, um certo radicalismo de opiniões. Mas esbarro no insulto, no ataque pessoal e rejeito a subversão do que está realmente em causa e a negação de um passado-presente que deve constituir património de cada um. Independentemente de discordâncias que agira possam existir ou de erros que agora são apontados.
Neste momento, o que mais desejo, é que tudo isto passe rapidamente, que os militantes do PSD da Madeira acompanhem todo este processo, que oiçam as pessoas, que reflitam sobre o modelo de partido que os candidatos desejam e que escolham livremente, sem compromissos que manietam as consciências. As “diretas” de 19 de Dezembro destinam-se a eleger um novo líder para o PSD regional, que tenha uma visão nova para um partido que precisa de adaptar-se aos novos tempos, que seja capaz de mobilizar a militância perdida ou aqueles que se distanciaram – os mais de 7 mil pagamentos de quotas é um sinal de que podemos fazer de positivo neste domínio. Sem um partido moderno, unido, funcional, dotado de uma estrutura eficaz, que defina procedimentos internos nos momentos de decisão, não há líder nenhum que ganhe seja o que for.