Diz a Visão que “como presidente do
Centro Português para a Cooperação, Passos Coelho viajava em executiva - ao
contrário do que hoje acontece. Mas, aos 32 anos, foi sobretudo com a sua
recheada e seleta agenda de contactos que impressionou quem ali o rodeava. Quando,
em fins de 1996, aceitou ser presidente do Centro Português para a Cooperação
(CPPC), uma ONG com ligação umbilical à empresa Tecnoforma, o seu único
mecenas, Passos Coelho não perdeu tempo. Formulou os convites, todos bem
sucedidos, para o conselho de fundadores, e explicou-os a Fernando Madeira,
fundador e patrão da Tecnoforma: alguém próximo do então PR, Jorge Sampaio
(seria Júlio Castro Caldas, à época bastonário da Ordem dos Advogados), do
Governo de António Guterres (o deputado do PS Fernando de Sousa), da oposição
(Marques Mendes, líder parlamentar do PSD), da Comunicação Social (Eva Cabral,
na altura jornalista do Diário de Notícias e hoje assessora política do
primeiro-ministro) e até um dirigente maçónico (coronel Oliveira Marques).
Em março de 1997, Passos Coelho já
telefonava a Fernando Madeira, para lhe dizer: "Prepare-se que vamos a
Bruxelas. O João de Deus Pinheiro vai receber-nos." Voaram em executiva,
no dia 10, e o então comissário europeu deu-lhes uma indicação importante -
havia verbas do Fundo Social Europeu (FSE) disponíveis para cursos de Função
Pública em Cabo Verde e nos outros PALOP. Outro exemplo: foi preciso obter de
Isaltino de Morais, presidente da Câmara de Oeiras, uma "carta de
interesse" para viabilizar um curso de costura no então bairro de barracas
da Pedreira dos Húngaros, sobretudo habitado por cabo-verdianos, e subsidiado
pelo FSE. Essa "carta de interesse" de Isaltino acabaria por chegar
ao CPPC antes mesmo de o autarca receber em audiência formal a ONG, representada
por Passos e Madeira. Mas, claro, nem tudo foram rosas. Na verdade, é
desconhecida a verba canalizada pelo FSE para o mencionado curso de costura. O
Instituto do Emprego e Formação Profissional, após insistentes pedidos de
consulta da VISÃO, acabou por responder que não encontrava o processo
respetivo.Fontes conhecedoras estimam que a Tecnoforma injetou
no CPPC cerca de €225 mil, no conjunto de três anos - 1997, 1998 e 1999. É um
montante muito acima das verbas inscritas nos mapas contabilísticos da ONG,
arquivados no Instituto Camões e subscritos por um técnico oficial de contas,
José Duro, que faleceu em 2004. Em teoria, o chamado Balancete Analítico é
suposto ser mais pormenorizado e assertivo, mas parece que ninguém sabe onde
tal documento se encontra. Até ver”