"Pedro Passos Coelho fez, nas jornadas parlamentares conjuntas do PSD e CDS, um número garantido: atirou-se como gato a bofe aos jornalistas e a todos os que criticaram a proposta de Orçamento do Estado para 2015 ou, mais especificamente, a falta de cortes na despesa. Como seria de esperar, a casa veio abaixo com tanto aplauso.
Resulta sempre.
Ao dr. Passos não lhe bastam a cumplicidade entusiástica do dr. Marques Mendes, porta-voz oficioso do Governo. Ou o criticismo benevolente do Prof. Marcelo e do dr. Morais Sarmento. Ou os elogios firmes do dr. João Carlos Espada. Ou a cobertura científica dos professores João Cantigas Esteves e João Duque. Não. O dr. Passos é ambicioso. Queria mais.
Queria que todos vissem que ele não varre despesa pública para baixo do tapete ou que desorçamenta a dita cuja ou que faz alguma engenharia financeira para reduzir o défice. O dr. Passos quer, exige, que o mundo, pelo menos o mundo nacional, lhe reconheça os méritos notáveis, a formidável capacidade, a certeza inquestionável do rumo. O dr. Passos queria que também a dra. Manuela Ferreira Leite lhe batesse palmas com fervor. Ou o dr. Pacheco Pereira o reverenciasse semanalmente.
Da parte dos escribas ou jornalistas televisivos ou opinadores avulsos não basta ao dr. Passos o fundamentalismo económico do dr. Camilo Lourenço. Ou a visão gloriosa sobre todos os atos deste Governo, em particular na Educação, do dr. José Manuel Fernandes. Ou o olhar cor-de-rosa do dr. António Costa (não confundir com o verdadeiro). Ou o apoio escrutinador do dr. José Gomes Ferreira. Não. O dr. Passos queria que a dra. Constança Cunha e Sá lhe reconhecesse as qualidades, que o dr. Vasco Pulido Valente lhe entoasse loas, que o dr. Miguel Sousa Tavares não fosse tão abrasivo com ele.
Esta gente, «que errou, que foi preguiçosa, que não se interessou, que não comparou» e que «só quer causar uma boa impressão», dizendo o que toda a gente diz, esta gente, subentende-se pelas palavras do dr. Passos, deveria pedir desculpa – ao dr. Passos, em primeiro lugar, e à maioria, em segundo.
Na verdade, o dr. Passos nunca errou. Não errou no défice de 2011, de 2012, de 2013. Não errou no nível de desemprego nem na evolução da dívida pública. Não errou na quebra do consumo nem na retração do investimento ao longo destes anos. Não leu a carta do seu ex-ministro das Finanças, onde este se demite admitindo que a receita falhou e que perdeu credibilidade para continuar no posto. Não foi o dr. Passos que disse que a economia recomeçaria a crescer logo em 2012. E depois no segundo semestre de 2012. E depois em 2013. E se foram três anos de recessão não se pode chamar a isso uma espiral recessiva, como explicou o dr. Passos. Para uma economia estar em recessão, é necessário que o PIB caia em dois trimestres consecutivos. Em Portugal caiu em pelo menos nove trimestres consecutivos.
Mas não se pode chamar a isso uma espiral recessiva.
Ouçam, senhores jornalistas, o dr. Passos.
Na verdade, o dr. Passos preparou-se intensivamente para o cargo que ocupa com notável brilho e rara presciência. Se disse que não aumentava impostos nem sonegava o subsídio de Natal nem cortava salários e pensões era porque estava convencido que não o faria.
Só o fez porque a realidade o impôs. Se disse que fazia o ajustamento em 2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita, é porque estava convencido que o faria. Se não o fez foi porque a realidade o impôs. Se disse que este seria o mais pequeno Governo de sempre, assim o fez. Só o aumentou porque a realidade o impôs.
O grau de preparação do dr. Passos é o que ele exige à sua equipa. Só este ano tivemos três magníficos exemplos. O novo sistema informático da Justiça, que infelizmente lançou o caos nos hospitais – mas só porque houve sabotagem computacional. O arranque do ano escolar, que bateu todos os recordes de turbulência dos últimos 40 anos – mas só, claro, porque mais uma vez alguém meteu um pauzinho na engrenagem do sistema informático. E a reforma do IRS, que não levaria a que ninguém ficasse pior, descobrindo-se depois que os casais sem filhos ficavam um bocadinho pior, mas depois apareceu uma cláusula de salvaguarda que afinal evita isso e agora parece que há casais sem filhos que afinal já vão ficar melhor que os que os têm.
Enfim, de falta de preparação, de estudo, de planeamento é aquilo de que seguramente o dr. Passos e o seu Governo não podem ser acusados.
Proponho, portanto, que todos os plumitivos e opinadores públicos encartados combinem ir um dia destes a São Bento, com um baraço ao pescoço em missão de desagravo ao primeiro-ministro, pelas aleivosias que têm dito ou escrito, pelos erros reiterados, pela notória falta de preparação, pela preguiça lamentável de que dão mostras. Ou que, num mesmo dia, todos escrevam ou leiam o mesmo texto em todos os meios de comunicação social, dando razão aos suaves reparos que o primeiro-ministro lhes dirigiu - um texto onde, obviamente, reconhecem toda a sua formidável incapacidade para apreciar a notável peça orçamental com que os portugueses foram brindados para 2015 e todas as benfeitorias que o dr. Passos tem trazido para o país" (texto de Nicolau Santos, Expresso Diário, com a devida vénia)
Resulta sempre.
Ao dr. Passos não lhe bastam a cumplicidade entusiástica do dr. Marques Mendes, porta-voz oficioso do Governo. Ou o criticismo benevolente do Prof. Marcelo e do dr. Morais Sarmento. Ou os elogios firmes do dr. João Carlos Espada. Ou a cobertura científica dos professores João Cantigas Esteves e João Duque. Não. O dr. Passos é ambicioso. Queria mais.
Queria que todos vissem que ele não varre despesa pública para baixo do tapete ou que desorçamenta a dita cuja ou que faz alguma engenharia financeira para reduzir o défice. O dr. Passos quer, exige, que o mundo, pelo menos o mundo nacional, lhe reconheça os méritos notáveis, a formidável capacidade, a certeza inquestionável do rumo. O dr. Passos queria que também a dra. Manuela Ferreira Leite lhe batesse palmas com fervor. Ou o dr. Pacheco Pereira o reverenciasse semanalmente.
Da parte dos escribas ou jornalistas televisivos ou opinadores avulsos não basta ao dr. Passos o fundamentalismo económico do dr. Camilo Lourenço. Ou a visão gloriosa sobre todos os atos deste Governo, em particular na Educação, do dr. José Manuel Fernandes. Ou o olhar cor-de-rosa do dr. António Costa (não confundir com o verdadeiro). Ou o apoio escrutinador do dr. José Gomes Ferreira. Não. O dr. Passos queria que a dra. Constança Cunha e Sá lhe reconhecesse as qualidades, que o dr. Vasco Pulido Valente lhe entoasse loas, que o dr. Miguel Sousa Tavares não fosse tão abrasivo com ele.
Esta gente, «que errou, que foi preguiçosa, que não se interessou, que não comparou» e que «só quer causar uma boa impressão», dizendo o que toda a gente diz, esta gente, subentende-se pelas palavras do dr. Passos, deveria pedir desculpa – ao dr. Passos, em primeiro lugar, e à maioria, em segundo.
Na verdade, o dr. Passos nunca errou. Não errou no défice de 2011, de 2012, de 2013. Não errou no nível de desemprego nem na evolução da dívida pública. Não errou na quebra do consumo nem na retração do investimento ao longo destes anos. Não leu a carta do seu ex-ministro das Finanças, onde este se demite admitindo que a receita falhou e que perdeu credibilidade para continuar no posto. Não foi o dr. Passos que disse que a economia recomeçaria a crescer logo em 2012. E depois no segundo semestre de 2012. E depois em 2013. E se foram três anos de recessão não se pode chamar a isso uma espiral recessiva, como explicou o dr. Passos. Para uma economia estar em recessão, é necessário que o PIB caia em dois trimestres consecutivos. Em Portugal caiu em pelo menos nove trimestres consecutivos.
Mas não se pode chamar a isso uma espiral recessiva.
Ouçam, senhores jornalistas, o dr. Passos.
Na verdade, o dr. Passos preparou-se intensivamente para o cargo que ocupa com notável brilho e rara presciência. Se disse que não aumentava impostos nem sonegava o subsídio de Natal nem cortava salários e pensões era porque estava convencido que não o faria.
Só o fez porque a realidade o impôs. Se disse que fazia o ajustamento em 2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita, é porque estava convencido que o faria. Se não o fez foi porque a realidade o impôs. Se disse que este seria o mais pequeno Governo de sempre, assim o fez. Só o aumentou porque a realidade o impôs.
O grau de preparação do dr. Passos é o que ele exige à sua equipa. Só este ano tivemos três magníficos exemplos. O novo sistema informático da Justiça, que infelizmente lançou o caos nos hospitais – mas só porque houve sabotagem computacional. O arranque do ano escolar, que bateu todos os recordes de turbulência dos últimos 40 anos – mas só, claro, porque mais uma vez alguém meteu um pauzinho na engrenagem do sistema informático. E a reforma do IRS, que não levaria a que ninguém ficasse pior, descobrindo-se depois que os casais sem filhos ficavam um bocadinho pior, mas depois apareceu uma cláusula de salvaguarda que afinal evita isso e agora parece que há casais sem filhos que afinal já vão ficar melhor que os que os têm.
Enfim, de falta de preparação, de estudo, de planeamento é aquilo de que seguramente o dr. Passos e o seu Governo não podem ser acusados.
Proponho, portanto, que todos os plumitivos e opinadores públicos encartados combinem ir um dia destes a São Bento, com um baraço ao pescoço em missão de desagravo ao primeiro-ministro, pelas aleivosias que têm dito ou escrito, pelos erros reiterados, pela notória falta de preparação, pela preguiça lamentável de que dão mostras. Ou que, num mesmo dia, todos escrevam ou leiam o mesmo texto em todos os meios de comunicação social, dando razão aos suaves reparos que o primeiro-ministro lhes dirigiu - um texto onde, obviamente, reconhecem toda a sua formidável incapacidade para apreciar a notável peça orçamental com que os portugueses foram brindados para 2015 e todas as benfeitorias que o dr. Passos tem trazido para o país" (texto de Nicolau Santos, Expresso Diário, com a devida vénia)