“Não creio que
Portugal voltará a ser brevemente, isto é nos próximos 7 a 10 anos financeiramente independente; não
acredito que tenha havido um grande voto de confiança dos nossos parceiros (por
isso não nos autorizam o cautelar); não acredito que haja entendimento entre os
partidos do Governo e da Oposição. Apesar de todo o Governo, estar todo ao lado
do primeiro-ministro, para dar credibilidade, eu não creio que a decisão da
saída limpa seja mais do que uma imposição da troika; e não acredito que sem
tutela e com eleições à portanão não haja demagogia a rodos. Dir-me-ao:
preferias a troika? E eu respondo, calmamente, que sim.
Um dia Portugal
vai ter de resolver-se, adaptar-se ao mundo novo, que podemos gostar ou
detestar, mas que é aquele em que temos de viver.
No entanto, sou
otimista. Ontem mesmo, li um post de Manuel S. Fonseca , no seu blogue Escrever
é Triste, no qual também modestamente colaboro. O texto do Manuel não tem nada
a ver com a política interna, mas com o estado do mundo. Leiam para crer: desde
diminuição dos crimes violentos, à brutal descida de mortes por guerras e
conflitos, a enorme queda da fome no mundo, a queda da mortalidade infantil e o
aumento enorme da esperança de vida.Ou seja, o mundo está muito melhor, embora
Portugal esteja pior.
Mas que tem isso
a ver com o discurso de Passos Coelho. Nada, salvo isto. O líder do PSD e do
Governo ja percebeu que Portugal não pode continuar a fazer o discurso do
pobrezinho a quem os ricos devem solidariedade. Mas a esquerda não. As soluções
do PS passam todas por pedir mais à Europa, obscurecendo dois factos. Primeiro
, é que o nosso país está entre os 20% de países mais ricos, segundo - e
sobretudo o PS, que são alguns dos partidos da sua família política - o Partido
Socialista Europeu - que não querem ajudar o nosso país, porque acham que,
ainda assim, temos mais do que capacidade de aguentar sacrifícios em Portugal.
Em duas palavras, como disse Fernando Ulrich há já uns tempos "ai aguenta,
aguenta!".
Porque, por muito
que eu desconfie do que Passos diz e nem creia que ele diga a verdade, ou pelo
menos toda a verdade, não esqueço que Cavaco, Ferreira Leite, Bagão Félix e
quase todos os economistas da esquerda diziam, há um ano, que Portugal entraria
numa espiral recessiva com as políticas do Governo. A verdade é que não entrou.
E não vejo da parte dessas pessoas o reconhecimento do seu erro.
O facto de não
acreditar em Passos não me leva a acreditar em qualquer líder político. Omitem
a verdade, têm artifícios de linguagem, são demagogos. E isso é que triste.
Muito triste! Sobretudo quando somos dos poucos países onde a ausência da
extrema-direita podia propiciar uma discussão elevada.
PS: Depois de
mais de 500 posts publicados no Expresso online mudo de lugar. Vou para o
Expresso Diário digital, que sairá, a partir de amanhã, de segunda a sexta.
Algo que recomendo a todos os leitores, pela qualidade esmerada que os seus
dirigentes estão a colocar na preparação do jornal, pela forma inovadora que
tem como vespertino digital. E, apesar de pago, é muito barato, como podem ver
nos anúncios aqui no site” (texto de Henrique Monteiro, Expresso, com a devida
venia)