terça-feira, maio 06, 2014

Opinião: “Peço desculpa, mas não acredito em Passos (nem nos outros)”



“Não creio que Portugal voltará a ser brevemente, isto é nos próximos  7 a 10 anos financeiramente independente; não acredito que tenha havido um grande voto de confiança dos nossos parceiros (por isso não nos autorizam o cautelar); não acredito que haja entendimento entre os partidos do Governo e da Oposição. Apesar de todo o Governo, estar todo ao lado do primeiro-ministro, para dar credibilidade, eu não creio que a decisão da saída limpa seja mais do que uma imposição da troika; e não acredito que sem tutela e com eleições à portanão não haja demagogia a rodos. Dir-me-ao: preferias a troika? E eu respondo, calmamente, que sim.
Um dia Portugal vai ter de resolver-se, adaptar-se ao mundo novo, que podemos gostar ou detestar, mas que é aquele em que temos de viver.
No entanto, sou otimista. Ontem mesmo, li um post de Manuel S. Fonseca , no seu blogue Escrever é Triste, no qual também modestamente colaboro. O texto do Manuel não tem nada a ver com a política interna, mas com o estado do mundo. Leiam para crer: desde diminuição dos crimes violentos, à brutal descida de mortes por guerras e conflitos, a enorme queda da fome no mundo, a queda da mortalidade infantil e o aumento enorme da esperança de vida.Ou seja, o mundo está muito melhor, embora Portugal esteja pior.
Mas que tem isso a ver com o discurso de Passos Coelho. Nada, salvo isto. O líder do PSD e do Governo ja percebeu que Portugal não pode continuar a fazer o discurso do pobrezinho a quem os ricos devem solidariedade. Mas a esquerda não. As soluções do PS passam todas por pedir mais à Europa, obscurecendo dois factos. Primeiro , é que o nosso país está entre os 20% de países mais ricos, segundo - e sobretudo o PS, que são alguns dos partidos da sua família política - o Partido Socialista Europeu - que não querem ajudar o nosso país, porque acham que, ainda assim, temos mais do que capacidade de aguentar sacrifícios em Portugal. Em duas palavras, como disse Fernando Ulrich há já uns tempos "ai aguenta, aguenta!".
Porque, por muito que eu desconfie do que Passos diz e nem creia que ele diga a verdade, ou pelo menos toda a verdade, não esqueço que Cavaco, Ferreira Leite, Bagão Félix e quase todos os economistas da esquerda diziam, há um ano, que Portugal entraria numa espiral recessiva com as políticas do Governo. A verdade é que não entrou. E não vejo da parte dessas pessoas o reconhecimento do seu erro.
O facto de não acreditar em Passos não me leva a acreditar em qualquer líder político. Omitem a verdade, têm artifícios de linguagem, são demagogos. E isso é que triste. Muito triste! Sobretudo quando somos dos poucos países onde a ausência da extrema-direita podia propiciar uma discussão elevada.
PS: Depois de mais de 500 posts publicados no Expresso online mudo de lugar. Vou para o Expresso Diário digital, que sairá, a partir de amanhã, de segunda a sexta. Algo que recomendo a todos os leitores, pela qualidade esmerada que os seus dirigentes estão a colocar na preparação do jornal, pela forma inovadora que tem como vespertino digital. E, apesar de pago, é muito barato, como podem ver nos anúncios aqui no site” (texto de Henrique Monteiro, Expresso, com a devida venia)