sexta-feira, outubro 25, 2013

Checos descobrem os pequenos partidos nas eleições do descontentamento

Escreve o jornalista João Ruela Ribeiro do Público, que "o desagrado com a classe política actual deverá provocar uma fragmentação do voto na República Checa. A meio de uma crise política e económica, as eleições legislativas da República Checa, que decorrem hoje e amanhã, prometem vir a confundir ainda mais o panorama do país. Espera-se uma penalização dos partidos da direita, que formavam o anterior Governo, e uma "invasão" do Parlamento por pequenos partidos que podem baralhar o xadrez político checo. De cinco partidos com representação parlamentar, a Câmara dos Representantes pode passar a contar com dez. Depois da queda do Governo de centro-direita, na sequência de um caso de corrupção que envolvia um colaborador próximo do ex-primeiro-ministro, Petr Necas, o Governo tecnocrata nomeado pelo Presidente Milos Zeman não teve melhor sorte, acabando por não resistir a uma moção de confiança do Parlamento, no início de Agosto. As sondagens mais recentes, da empresa CVVM, apontam para uma vitória dos sociais-democratas (CSSD, centro-esquerda), com um resultado entre os 25% e os 30%, seguidos do Partido Comunista da Boémia e da Morávia (herdeiro do partido único que dominou o país até ao colapso da União Soviética), que deverá obter entre 15% e 20% dos votos. A grande novidade é a queda acentuada dos partidos que constituíam a coligação governativa, o Partido Democrata Cívico (ODS), de centro-direita, que deverá ficar ligeiramente acima do limite mínimo de 5% para entrar no Parlamento, e o TOP09, do antigo candidato presidencial Karel Schwarzenberg, que não deverá ir além dos 10%. Numa campanha vivida sob o espectro da corrupção e da crise económica, num país que atravessa a mais longa recessão da sua história, o ANO 2011, partido recém-criado pelo bilionário Andrej Babis, pode ser o grande vencedor das eleições. As sondagens apontam para um resultado entre os 10% e os 16,5%, tornando-se na terceira força. Uma sondagem recente da Gallup revelou que 94% dos checos consideram que a corrupção está espalhada pelo Governo, o valor mais alto entre os países com liberdade de imprensa. Babis, dono da segunda maior fortuna do país, percebeu isto mesmo e fundou o ANO, acrónimo para "Aliança dos Cidadãos Descontentes". O partido "é um movimento antipolítico, que advoga slogans do género "nós não somos como os políticos" e "nós trabalhamos duro"", considerou o politólogo Jiri Pehe, citado pela AFP. As projecções indicam ainda a possível entrada de outros pequenos partidos, como o KDU-CSL, uma coligação entre verdes e democratas-cristãos, o SPOZ, partido próximo do Presidente Zeman, o UPD ("Amanhecer da Democracia Directa"), liderado pelo empresário de origem japonesa Tomio Okamura, conhecido pela hostilidade em relação aos ciganos, e ainda uma coligação de nacionalistas eurocépticos, liderados pelo ex-Presidente Vaclav Klaus, com o nome "Anime-se!". Perante um panorama de tão elevada desagregação, a prioridade é formar um Governo estável, que assegure a estabilidade política do país, uma das principais características da República Checa aos olhos dos investidores estrangeiros, segundo a Reuters. No entanto, o processo pode ser longo e polémico. Sem maioria absoluta, o CSSD terá de assegurar o apoio parlamentar dos comunistas, olhados ainda com desconfiança por parte de uma população que se recorda das décadas anteriores à Revolução de Veludo, em 1989. Por outro lado, o Presidente não deverá querer entregar o Governo ao líder do CSSD, Bohuslav Sobotka, com quem não tem boas relações, mas sim a alguém mais próximo de si".