O que poderá acontecer domingo na Madeira?
Desde logo começo por referir que admito que estas eleições autárquicas, pela
proliferação de candidaturas, de independentes e de falsos independentes –
porque neste caso envolvendo militantes de um partido político que o
abandonaram apenas para concorrem a estas eleições – e provavelmente pelos
resultados finais, vão claramente indiciar que vamos entrar num novo ciclo
eleitoral na Madeira. Mas sobre isso prefiro falar depois de conhecidos os
resultados finais, na medida em que acho que tem havido muita especulação na
tentativa de projectar resultados alegadamente “finais”, quer por via de
sondagens de universo muito reduzido e sem representatividade, quer por via da
habitual troca de informação e contra-informação, este ano ajudada pelas redes
sociais e pela blogoesfera, mais envolvidas em eleições.
Julgo que a abstenção deverá situar-se entre
os 45 e os 48% e dela depender a composição dos executivos. Tudo depende das
condições climatéricas já que os abstencionistas já tomaram a decisão. O estado
do tempo, sobretudo se mais agreste, pode influenciar a decisão de eleitores
que tendo decidido que votariam nas eleições autárquicas, pode ser dissuadidos
a não fazê-lo
Começo por lembrar que é esta a composição
dos executivos das Câmaras Municipais na Madeira dos quais fazem parte 71
eleitos:
Calheta, 7
Camara de Lobos, 7
Funchal, 10
Machico, 7
Ponta do Sol, 5
Porto Moniz, 5
Porto Santo, 5
Ribeira Brava, 7
Santa Cruz, 7
Santana, 5
São Vicente, 5
Relativamente às Assembleias Municipais,
serão 213 os eleitos – embora das Assembleias Municipais façam parte, por
inerência de funções, os Presidentes das Juntas de Freguesia dos respectivos
municípios:
Calheta, 21
Camara de Lobos, 21
Funchal, 33
Machico, 21
Ponta do Sol, 15
Porto Moniz, 15
Porto Santo, 15
Ribeira Brava, 21
Santa Cruz, 21
Santana, 15
São Vicente, 15
Para a esmagadora maioria dos observadores, o
que está em causa, nalguns casos, é saber até que ponto o PSD manterá a maioria
municipal, ponde perderá terreno, onde ganhará sem maioria absoluta. Tudo gira
em torno do PSD e percebe-.se, dado que todas as Câmaras Municipais da região
são lideradas pelos social-democratas.
As dúvidas na oposição e nalguns comentadores
ligados à oposição:
Porto Moniz – será desta que Emanuel Câmara
(PS) conseguirá a vitória camarária num concelho ponde o PS tem 2 Juntas de
Freguesia, uma das quais a do Porto Moniz. A minha previsão é a de 3-2 no
executivo da Câmara a favor do PSD
São Vicente – Como penso que o PSD vai
ganhar, em termos de partido com mais votos, a dúvida reside em saber até que
ponto uma candidatura de independentes, essencialmente ex-militantes do PSD que
entraram em choque com as estruturas dirigentes locais de regionais, acabando
por abandonar o partido para se candidatarem. A minha previsão é a de 3-2 no
executivo da Câmara a favor do PSD
Porto Santo – a proliferação de candidaturas,
duas das quais com origem em ex-militantes do PSD que entraram em choque com as
estruturas dirigentes locais de regionais, acabando por abandonar o partido
para se candidatarem, anima o debate eleitoral. A dúvida é saber até que ponto
o PSD consegue a maioria absoluta. A minha previsão é a de 3-2 no executivo da
Câmara a favor do PSD
Santana – Embora seja apenas o CDS a traçar
cenários eleitorais paradisíacos para o deputado-candidato, estamos a falar de
um concelho que tem mantido uma fidelidade eleitoral e apesar das dificuldades
porque passa, acredito que o PSD manterá os 3 – 2 no executivo camarário e
folgadamente.
Ponta do Sol – Apesar da existência de uma
candidatura de independentes, com origem em ex-militantes do PSD que entraram
em choque com as estruturas dirigentes locais de regionais, acabando por
abandonar o partido para se candidatarem, e do PS apostar na ex-líder da JS,
Célia Pessegueiro, não creio que o PSD tenha grandes dificuldades. Aposto com
tranquilidade no 3-2 para os social-democratas até porque o facto de não haver
uma relação presencial mais constante entre esta e o Concelho isso impede de
ser suficientemente conhecida para sonhar com altos voos apesar do apoio na
blogoesfera que distorcem a realidade e alimentam a ilusão. Ninguém ganha
eleições com campanha aos fins-de-semana e a pensar que as redes sociais
resolvem o problema.
Calheta e Ribeira Brava – Embora admita que
possa haver uma subida eleitoral do CDS, em grande medida devido à
agressividade da sua campanha e à substituição de dois autarcas do PSD – Ismael
Fernandes e Manuel Baeta – que há muitos anos exerciam as funções e agora
abandonam as respectivas edilidades, a tradição eleitoral mostra que o PSD não
deverá ter grandes dificuldades para manter-se. Com alguma contenção, para
evitar estimativas que numa resposta imediata porventura seriam diferentes,
direi que o PSD aguenta tranquilamente a maioria absoluta com 4 a 5 mandatos na
Calheta 4 mandatos na Ribeira Brava.
Câmara de Lobos – Considero que se trata de
um concelho que eleitoralmente tem sido de uma fidelidade inquestionável e
surpreendente ao PSD e que porventura não tem sido tratado da mesma forma, por
exemplo se comparado com outros concelhos da mesma dimensão e com realidades
eleitorais diferentes, mormente quando se trata de discutir investimentos
públicos. Com uma candidatura liderada por Pedro Coelho, deputado regional, o
PSD não deverá ter dificuldades em suplantar uma coligação do PS, reduzida
comparativamente à do Funchal, e mesmo considerando a presença do MPT, por via
do seu principal dirigente regional, a tentar manter o mandato conquistado em
2009. Aposto na manutenção dos 4 mandatos em 7 mas tenho a consciência de que
se trata de um concelho com muitos problemas sociais, a que se junta a admissão
da possibilidade das medidas anunciadas pelo governo de coligação de Lisboa
poderem ter algum impacto e causar irritação.
Machico – Será porventura o concelho onde o
combate eleitoral se resume ao PSD e ao PS, mas onde a influência dos “irmãos
Martins”, primeiro na UDP, depois no PS é inquestionável. Beneficiando de
grandes investimentos públicos a verdade é que Machico é sempre uma incógnita,
mas em situações normais, pela mobilização que a candidatura do PSD demonstrou,
apresenta do um novo candidato (em 2009 foi Emanuel Gomes que abandonou a
edilidade em 20011 para se candidatar a deputado) acredito que o PSD poderá
manter a maioria absoluta de 4 dos 7 mandatos, mas será sempre “pelas peles”.
Ou seja, sem grande folga.
Santa Cruz – parece concentrar todas as
atenções do combate eleitoral, regional, devido ao facto da derrota do PSD
estar dada como adquirida. Admito que possa acontecer uma coisa, a
possibilidade do PSD poder ganhar a maioria das Juntas de freguesia do concelho
mas poder esbarrar com o espectro de uma derrota eleitoral para uma coligação
com origem na freguesias de Gaula e que vai da direita à extrema-esquerda, o
que não deixa de ser curioso. A divergência do PND que recomendou o voto no PAN
depois de abandonar a coligação, não teve a amplitude mediática e política que
porventura seria de esperar – talvez não fosse essa a intenção do PND... - e o
facto do PCP ter uma posição eleitoral que coloca os comunistas a roçar a
eleição de um mandato, a que se junta o crescimento dos eleitores no Caniço, a
freguesia da Madeira com mais eleitores inscritos, levam-me a admitir um
cenário plausível de PSD e coligação de Gaula poderem ter o mesmo número de
mandatos cabendo ao PCP, caso eleja um vereador, um papel fundamental na gestão
futura deste concelho. Penso que esse será um dos grandes pontos de interesse, num
concelho onde a abstenção é uma matéria igualmente importante.
Funchal - finalmente o concelho onde se concentram as
maiores apostas. O CDS de José Manuel Rodrigues que pretende “roubar” ao PSD
uma parte significativa do seu eleitorado, o que explica o crescimento que as sondagens
indiciam. O PSD porque apresenta uma candidatura nova em vez de Miguel Albuquerque
que durante anos foi o rosto da cidade e da Câmara Municipal e um autarca que
sempre conseguiu resultados positivos, também por garantir apoios junto do
chamado eleitorado flutuante que vota à direita ou à esquerda do PSD noutras
eleições que não as autárquicas. O PCP porque se colocou à margem de uma
coligação que vai da extrema-direita à extrema-esquerda, mas liderada de facto
pelo PS, e que aposta na manutenção do seu vereador. Os comunistas temeram
sobretudo que a sua inclusão numa coligação de oposição pudesse prejudicar o
PCP e impedir a eleição do vereador que elegeram em 2009. Apesar de tudo
mantenho que o PSD será o partido vencedor, porque mais votado, mas que o objectivo
da maioria absoluta deverá ser uma aposta perdida, embora tudo dependa de dois
factores: a abstenção e a confirmação, sim ou não, do “roubo” do CDS de
eleitores do PSD. A coligação do PS basicamente mantem os mesmos votos que os
partidos que a integram, por exemplo, obtiveram nas regionais de 2011. Num
cenário de 11 membros do executivo não me espantaria nos 5 (PSD), 3
(coligação), 2 (CDS) e 1 (PCP). Recordo que em 2009 foram eleitos 7 membros do
PSD, 1 do PS, 1 do CDS, 1 do PND e 1 do PCP. O Funchal é o concelho mais
emblemático em termos eleitorais não só porque tem cerca de 49% dos eleitores
da Madeira mas porque é a capital da Região.