Segundo o Jornal I, num texto do jornalista Pedro Rainho, "mais de dois terços dos inquiridos consideram insuficientes os resultados da renegociação com a troika das metas do défice e dos cortes na despesa que permitiram ao governo ganhar um ano E à sétima visita dos responsáveis da troika a Portugal, metade dos portugueses atiram a toalha ao chão. O barómetro i/Pitagórica de Março revela que, ao fim de sete avaliações do programa de ajustamento, 52,9% dos inquiridos perderam a confiança no modelo de ajustamento concebido pela troika que tem sido aplicado nos últimos dois anos. Os descontentes são sobretudo as mulheres entre os 18 e os 35 anos, da classe social média-baixa, que votaram no PS de José Sócrates nas legislativas de 2011, a evidenciar uma perda de crédito da ideia de que o Memorando é a solução para a recessão económica que o país atravessa. Menos taxativos são 26,2% dos inquiridos, que vêem no fracasso das metas negociadas em Maio de 2011 um tiro na credibilidade das medidas da austeridade negociadas em primeira mão pelo PS e assinadas também pelo PSD e pelo CDS. Do universo de 503 respostas obtidas no barómetro deste mês, apenas 14,3% dos participantes aceitam o facto de as previsões terem falhado. Em Novembro de 2012, o ministro das Finanças garantia que “o ajustamento português [continuava] a progredir” e que “o programa [estava] bem adaptado” à realidade do país.
Mau aluno/bom aluno
Gaspar anunciou a meio deste mês ter conseguido uma renegociação dos prazos para que o país reduzisse o seu défice para menos de 3% do PIB, ganhando o fôlego de um ano para alcançar esse objectivo. O ministro das Finanças conseguiu também alargar o período de aplicação dos cortes estruturais na economia. Agora o pacote de reduções de 5,6 mil milhões de euros - que já foi de 4 mil milhões - só terá de ser um capítulo encerrado no final de 2015, e já não no final do próximo ano. É um dado garantido que o esforço pode ser repartido por mais um ano, mas o governo ainda não revelou de que forma - e a que ritmo - pretende aplicar essa reforma estrutural à economia portuguesa. Sentados na tribuna dos professores, incitados a fazer de avaliadores das novas metas propostas pelo governo e aceites pela troika na última ronda de negociações, quase 70% dos inquiridos dão ao executivo de Pedro Passos Coelho nota negativa - o primeiro-ministro e Vítor Gaspar são os maus alunos neste exame de rotina. Do universo de participantes no barómetro, a maioria (49,1%) daqueles que atribuem nota negativa ao executivo acredita mesmo que os resultados alcançados por Portugal na última ronda de avaliações da aplicação do Memorando foram maus. Os restantes 20,6%, que completam o grupo, dão a nota mais baixa do nível de classificações - muito mau. São os homens acima dos 55 anos, de classe social mais baixa e que votaram no PS e no BE em 2011 a determinar o resultado mais negativo para o governo.
Consequências
Há pouco mais de duas semanas, o i avançou que o governo estaria a fazer depender a divulgação desses dados da posição final que o Tribunal Constitucional viesse a tomar relativamente ao Orçamento do Estado para este ano. Recorde-se que o presidente da República, a 1 de Janeiro, e o PS, pouco depois, solicitaram aos juízes do Palácio Ratton a fiscalização da constitucionalidade de três normas do documento - a suspensão do subsídio de férias a trabalhadores e aposentados, a taxa extraordinária de solidariedade e a sobretaxa de 3,5% no IRS. Há uma semana, o semanário “Sol” escreveu que a decisão dos juízes deveria estar fechada nas duas semanas seguintes. Segundo jornal “Púbico”, um chumbo das normas do Orçamento pode levar a uma queda do governo. As cartas ficariam então nas mãos do Presidente da República"