sábado, março 02, 2013

Justiça francesa aperta cerco a Christine Lagarde no caso Tapie

Li no Expresso, num texto do jornalista Daniel Ribeiro que a “ex-ministra francesa e atual diretora do FMI é suspeita de "cumplicidade de desvio de fundos". Homem de confiança do ex-Presidente Nicolas Sarkozy diz ter sido ela que tomou as decisões que renderam 403 milhões de euros a Bernard Tapie. Depois de buscas da brigada financeira francesa, nos últimos dias, aos domicílios e escritórios do polémico homem de negócios Bernard Tapie, e de Claude Guéant, ex-ministro francês do Interior e ex-secretário geral do Palácio do Eliseu, este descartou qualquer responsabilidade do ex-Presidente Nicolas Sarkozy na resolução de um litígio de Tapie com o banco Crédit Lyonnais, que terminou, em 2008, com uma indemnização milionária a este último. "O Eliseu estava a par do procedimento que foi decidido e considerou-o uma boa medida, mas foi o Ministério das Finanças que decidiu recorrer a esse procedimento", disse Claude Guéant, esta manhã, a uma rádio francesa. O homem de confiança de Sarkozy referia-se ao facto de o diferendo ter sido resolvido por uma "arbitragem privada" em prejuízo da via judicial, que estava então a revelar-se muito desfavorável ao empresário francês e antigo presidente do Olympique de Marselha. A Justiça suspeita que Nicolas Sarkozy e Christine Lagarde , na época ministra da Economia e das Finanças, tenham intencionalmente favorecido Bernard Tapie, ex-ministro de um Governo socialista durante a presidência do falecido François Mitterrand e, depois, apoiante de Nicolas Sarkozy nas presidenciais de 2007 e 2012.
Tribunal de exceção instrui processo
Com as explicações de Guéant aperta-se o cerco a Christine Lagarde, que deverá ser convocada nas próximas semanas pelo Tribunal de Justiça da República, jurisdição de exceção composta por parlamentares e magistrados, que instrui o processo contra a diretora do FMI e que é o único tribunal com competência para julgar infrações cometidas por ministros franceses no exercício das suas funções. O processo contra a agora diretora do FMI foi desencadeado em meados 2011, depois do procurador Jean-Louis Nadal o ter recomendado por considerar terem existido irregularidades na arbitragem favorável a Tapie. "A senhora ministra exerceu constantemente os seus poderes ministeriais para chegar a uma solução favorável a Bernard Tapie, que a assembleia plenária do Tribunal de Cassação (Recurso) parecia considerar ter comprometido", escreveu na época o procurador. Com o procedimento escolhido por Lagarde, eventualmente apoiada por Nicolas Sarkozy, o diferendo de Bernard Tapie com o Crédit Lyonnais, que dizia respeito a um complicado negócio relacionado com a compra da empresa Adidas pelo empresário, no inicio de 1990, terminou com uma indemnização de 403 milhões de euros (incluindo juros de 118 milhões) a este último. Na altura da compra da Adidas, o Crédit Lyonnais era um banco público e Tapie foi apoiado pelos socialistas, que então estavam no poder em Paris.
Sarkozy também suspeito
Christine Lagarde, que é suspeita de "cumplicidade de desvio de fundos públicos", é igualmente acusada por juristas e adversários políticos de ter prejudicado o Estado por não ter deixado prosseguir a via judicial normal para resolver aquele litígio financeiro. As buscas que esta semana visaram Claude Guéant têm a ver com o facto de Bernard Tapie ter tido diversas reuniões com Nicolas Sarkozy na época da "arbitragem privada". Os inspetores da brigada financeira suspeitam que Largarde e o antigo Presidente francês agiram de forma concertada neste controverso caso, com o objetivo de favorecer o polémico homem de negócios que tinha "evoluído" da esquerda para a direita. A atual diretora do FMI indicou há dias estar "à disposição da Justiça para responder no momento oportuno" sobre um caso no qual garante não ter sido cometida qualquer ilegalidade”