domingo, março 17, 2013

A primeira eleição pós-dinossauros

Segundo o jornalista do Expresso Paulo Paixão (com Ângela Silva, Cristina Figueiredo e Isabel Paulo), “se o poder local democrático mudou a face do país real, há autarcas que fazem parte da paisagem de cidades e vilas. Muito se tem falado de “dinossauros” como Fernando Seara ou Luís Filipe Menezes, há 12 anos ou mais no poder... Parecem criaturas imberbes quando comparados com Jaime Marta Soares (PSD), Mesquita Machado (PS) ou António José Ganhão (CDU), para citar apenas um por cor política com pergaminhos autárquicos. Ganhão preside a Benavente há 34 anos (eleito em 1979, foi reconduzido oito vezes). Machado (Braga) e Marta Soares (Vila Nova de Poiares) fazem o pleno (dez vitórias, todas as eleições desde 1976, 37 anos a governar as suas terras). Num desempate, o título honorífico vai para o autarca do PSD, escolhido logo em 1974, por assembleia popular, para a comissão administrativa do concelho. Rankings à parte, é muito difícil imaginar Vila Nova de Poiares, Braga ou Benavente sem o cunho desses homens — agora prestes a sair de cena.
GANHOS & PERDAS
Nos estados-maiores partidários e das autarquias fazem-se cálculos. O PS candidata notáveis em três câmaras que admite ganhar ao PSD (Basílio Horta em Sintra, Elísio Summavielle em Mafra e Idália Serrão em Santarém). Com grande apreensão é vista a situação em Matosinhos. Em três casos (Loures, Évora e Beja) os socialistas admitem perder para o PCP. Já na Amadora, Castelo Branco, Braga, Fafe e Guimarães, onde há limitações de mandatos, o PS pensa manter a presidência. Esta grelha encaixa, por vezes, na do PCP e do PSD. Sem abrirem o jogo, os comunistas têm evidentes expectativas em Loures e nas duas capitais alentejanas referidas. Como o PS, também o PSD tem um concelho especialmente fratricida (embora com menos fações): Sintra. Aqui reside uma grande dor de cabeça. A outra é Faro, onde o folhetim da perda de mandato de Macário Correia afundou os sociais- -democratas. Já Santarém, sem Moita Flores, parece perdida para o PSD. Braga é vista como um possível ganho.
ALAS ABERTAS
Alguns dos autarcas impedidos de recandidatura foram saindo de cena ao longo deste mandato, dando espaço aos respetivos números dois. Nos sociais-democratas, António Capucho deixou Cascais entregue a Carlos Carreiras; Carlos Encarnação passou em Coimbra o testemunho a João Paulo Barbosa de Melo; e Mata Cáceres, em Portalegre, cedeu o lugar a Adelaide Teixeira. Entre os comunistas e socialistas, as alas foram abertas em concelhos de menores dimensões. Montemor-o-Novo e Serpa, no PCP; Grândola, Tábua, Lousã, Cartaxo e Santa Cruz das Flores, nas câmaras do PS.
DE PEDRA E CAL
São nove os ‘dinossauros’ que se aventuram noutros concelhos. O ónus mediático foi pago pelo PSD, sobretudo por Menezes (de Gaia para o Porto) e Seara (de Sintra para Lisboa). Mas há mais quatro: Francisco Amaral (de Alcoutim para Castro Marim), Pedro Lancha (de Fronteira para Estremoz), José Estevens (de Castro Marim para Tavira) e Fernando Costa (das Caldas da Rainha para Loures). Pé ante pé, o PCP posicionou-se nesta frente e já tem três candidatos: João Rocha (de Serpa para Beja), Carlos Pinto de Sá (de Montemor-o-Novo para Évora) e Vítor Proença (de Santiago de Cacém para Alcácer do Sal).
FAMÍLIAS DIVIDIDAS
São várias as câmaras com mais de um candidato por partido, entre factos consumados e ameaças. Em Matosinhos configura-se o caso de maior divisão, com os socialistas retalhados em três. O concorrente oficial é António Parada. Guilherme Pinto, atual presidente, eleito duas vezes pelo PS, partido de onde entretanto saiu, marca o terreno para ir novamente a votos. E também o carismático Narciso Miranda (derrotado há quatro anos por Pinto) promete lutar para reconquistar um lugar que já foi seu durante 29 anos. Além de Parada, só estão oficializadas as candidaturas de Vinha da Costa (PSD) e Pedro Rodrigues (CDU). A sul, a rutura maior é em Sintra, com Marco Almeida (número 2 de Seara) a ir a votos contra a decisão do PSD, que apresenta Pedro Pinto. Em Oeiras, o confronto é mais esbatido, pois uma franja da família social-democrata está no movimento que suporta Isaltino Morais e dará agora o apoio ao seu número 2, Paulo Vistas. Em Cascais, o ruído ouve-se no CDS: Paulo Sande e Castro, vereador centrista da atual maioria liderada (PSD/CDS) por Carlos Carreiras, está ao lado da candidata independente Isabel Magalhães. Aqui o PS aposta em João Cordeiro, o patrão das farmácias.
INDEPENDENTES DE SEGUNDA VAGA
Em 2009, sete câmaras foram conquistadas por independentes, todos eles em tempos militantes de um partido político. Em três casos (Gondomar, Oeiras e Redondo), os presidentes (Valentim Loureiro, Isaltino Morais e Alfredo Barroso, respetivamente) atingiram o limite de mandatos. Agora, dos movimentos criados para suportar aqueles três autarcas sai um sucessor: Fernando Paulo, no concelho do norte; Paulo Vistas, no da Grande Lisboa; e António Recto, no do Alentejo.
RETOMA COMUNISTA
O PCP atingiu há quatro anos o patamar mais baixo (28 câmaras) e é nesta altura, com boas sondagens à escala nacional, o partido com o horizonte mais radioso e, com os dados hoje disponíveis, sem perdas significativas. Três concelhos nas mãos do PS (Loures, Évora e Beja) são particularmente cobiçados pelos comunistas, que assim os reconquistariam. Para os três casos foram seguidas duas vias: aposta forte em Loures, com o líder parlamentar, Bernardino Soares; e o lançamento, de mansinho, de dois dinossauros com provas dadas: João Rocha em Beja (após 33 anos em Serpa) e Carlos Pinto de Sá em Évora ( 20 anos em Montemor-o-Novo)”.