Li no Dinheiro Vivo que "à mesa do Nasdaq em Estocolmo, instalado numa antiga fábrica de automóveis Ford desativada na década de 1980, são várias as crises económicas que vão desfilando entre a salada fresca de salmão e os pãezinhos de cereais variados. Jens Henriksson, presidente da bolsa tecnológica na Suécia, passou por várias e esteve envolvido na sua resolução. Nos anos 90, como conselheiro político e económico de três ministros das Finanças do governo sueco; entre 2002 e 2006, como secretário de Estado da Suécia para as Políticas Económicas e Assuntos Internacionais; entre 2008 e 2010, como diretor executivo do FMI e responsável pelo resgate económico da Letónia e da Islândia.
Em 2007, Henriksson resolveu pôr no papel aquilo que a crise sueca dos anos 90 lhe tinha ensinado: “Dez lições sobre Consolidação Orçamental”. Henriksson chama-lhe “livro de cozinha” e não deixa de sorrir quando fala em fracasso editorial. “Nem podia ser de outra maneira, porque está disponível para qualquer um, gratuitamente, na internet.” Quando, nos anos 90, uma bolha imobiliária e financeira rebentou na Suécia e abanou os bancos nacionais, o país mergulhou numa das piores crises económicas de que já não havia memória desde 1930. Em 1994, cada criança sueca chegava ao mundo com uma dívida de 150 mil coroas suecas, cerca de 17,5 mil euros. O desemprego disparou de 1,5% para 9% e de um superavit orçamental em 1989, o défice chegou aos 13%. A Suécia aproveitou a oportunidade para começar a implementar uma série de reformas estruturais, que continuam até hoje, atravessando governos social-democratas e conservadores e que o país, na verdade, precisava há quase duas décadas – as dos anos 70 e 80, a que muitos chamam “décadas perdidas”. Parece familiar.
Henriksson acredita que as lições da crise sueca podem servir, com mais ou menos diferenças a outros países. E a primeira lição, como não podia deixar de ser, chama-se “Finanças públicas saudáveis são um pré-requisito para o crescimento”. Henriksson é o primeiro a dizer, por experiência própria, que o caminho é duro. E longo. Onde o consenso alargado e a coesão social são ingredientes fundamentais para se implementarem as receitas. Assim como saber explicar o rumo e, lição número oito: “Ser honesto com os cidadãos e com os mercados financeiros”. Porque “as pessoas sabem menos do que pensamos, mas são mais inteligentes do que pensamos”, avisa o economista.
Os suecos sabiam bem o que queriam: voltar ao crescimento, mas manter um Estado social alargado. “O que fizemos foi criar um sistema social para proteger as pessoas das subidas e descidas do mercado. Proteger as pessoas e não os empregos”, sublinha o presidente do Nasdaq, social-democrata até os ossos. Hoje, a Suécia é o exemplo de que é possível ter as finanças públicas em ordem, mantendo, ao mesmo tempo, uma proteção social alargada. É claro que há vinte anos, a Suécia teve a vantagem de poder desvalorizar a moeda que flutua livremente desde 1992. Hoje, do Governo à oposição, todos os que em 2003 defendiam a troca da coroa sueca pelo euro, estão aliviados pelo “não” da maioria dos suecos. É por isso também, que Henriksson defende que uma vez que os países em crise na Zona Euro “não podem desvalorizar a moeda, tem de ser o Norte a gastar mais. Os países ricos do Norte devem comprar mais ao Sul, devem ajudar os países do Sul a exportar mais.” Social democrata de alma e coração, Henriksson não tem dúvidas: “uma boa politica económica não é fazer a coisa certa, mas evitar fazer a coisa errada. Isso, para mim, é que é política económica.” Quanto a Portugal, o economista acredita que está no bom caminho. Na fase em que se discute a “implementação das soluções”, altura em que convém lembrar a décima lição sobre consolidação orçamental: “Stick to it”. Seguir o plano. As 33 páginas de “Dez Lições sobre Consolidação Orçamental”, de Jens Henriksson podem ser lidas e descarregadas no site do Think Tank europeu Bruegel, especializado nas questões económicas"