segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Opinião: “Três perguntas sobre a RTP”

“Na minha profissão, muitas vezes confronto-me com a seguinte lição: fazer a pergunta certa tem tanto ou mais valor do que ter a resposta correta. Sei pouco sobre o negócio da televisão, mas depois do debate sobre a RTP em Portugal fiquei com algumas questões para as quais não tenho resposta. Agora que as paixões sobre o assunto acalmaram, talvez seja o momento de as colocar.
Primeiro, porque é que a RTP não é popular? As pessoas dos media são supostos especialistas em gerar e gerir popularidade. Em Itália, o controlo de Berlusconi sobre uma grande fatia de media é visto como uma das suas maiores armas eleitorais. No limite, há quem acredite que, com uma televisão por trás, qualquer fantoche podia ser eleito. Mas em Portugal, apesar destes supostos poderes, a RTP e os seus profissionais parecem incapazes de conquistar a simpatia dos portugueses, que não se opõem à privatização.
Em Inglaterra, as sondagens mostram que a BCC tem o apoio da população e que a maioria dos ingleses está de acordo com pagar uma taxa anual que não é assim tão pequena para manter a BBC no serviço público. Uma das últimas edições da revista New Yorker contava a história da televisão pública dinamarquesa, que acarinhou uma geração de realizadores e argumentistas que entretanto transformaram cinema e televisão dinamarquesas numa importante fonte de exportações para o país. Qual é o sucesso comparável da RTP que pode ser exibido para convencer os portugueses da importância da televisão pública?
A segunda questão é, se é importante que exista uma RTP Internacional, porque é que ela precisa de acarretar os custos fixos que tem hoje? É perfeitamente plausível imaginar uma RTPI com apenas um punhado de funcionários. A sua principal função seria comprar programas aos muitos fornecedores de conteúdos em língua portuguesa. A RTPI podia perfeitamente emitir concursos da TVI e telenovelas da SIC, ou documentários de produtores independentes, e só produzir internamente, a baixo custo, um programa de notícias virado para o mundo lusófono. Se é para mim claro que há um serviço público valioso em ter uma televisão portuguesa pelo mundo fora, já não sei porque é que este implica uma grande e custosa organização.
Terceiro, quando ouço os operadores privados garantirem em público que a entrada de um novo concorrente privado no mercado publicitário iria pôr em risco a sua sobrevivência, pergunto: onde está a Autoridade da Concorrência? Uma das perguntas-chave em qualquer processo de violação de concorrência, para por exemplo perceber se a TVI e a SIC estão em colisão na fixação dos preços, seria: se entrasse mais um concorrente, os preços de mercado mudariam? Se a resposta é sim, e para mais é claro que as empresas atuais não sobreviriam à entrada de um concorrente, então o mercado não pode ser concorrencial. Os responsáveis da TVI e da SIC já responderam a esta questão, em público, sem precisar de julgamentos ou advogados caros. Para quando a multa?”! (texto de Ricardo Reis, professor de Economia na Universidade de Columbia, Nova Iorque, Dinheiro Vivo, com a devida vénia)