O que se passa com as candidaturas patéticas de Filipe Meneses no Porto e de Fernando Seabra em Lisboa, e outros mais, é uma vergonha. Vergonha para a política, vergonha para os políticos fazedores de leis abjectas e mafiosas, vergonha para os partidos e os seus dirigentes, vergonha para a democracia portuguesa.
No quadro de uma falsa ideia de prestigiar a política e garantir a renovação de eleitos, foi aprovada legislação impondo um limite de mandatos aos autarcas, impedindo assim que se eternizassem no poder. Não vou discutir se em democracia, onde o que conta é o voto soberano e livre dos cidadãos, deve haver lugar (e cabimento) a essa limitação de mandatos, por imposição consubstanciada numa lei, cortando a possibilidade de uma pessoa livremente se candidatar. Não vou por aí. A lei está publicada e ponto final.
O que se questiona é este expediente triste e mafioso de um presidente de Câmara, impedido de se recandidatar no seu concelho, poder ser candidato noutros,ou mesmo num concelho vizinho. O PSD, que anda a espalhar por todos os cantos e esquinas, moralismo e rigor ético na política, é o espelho dessa aldrabice, dessa fabricação de leis em função de determinados interesses, da preservação de estranhas ligações. Até o autarca das Caldas da Rainha, useiro e vezeiro em inflamadas intervenções nos congressos do PSD, é outro "artista" no aproveitamento de uma omissão legislativa que em meu entender foi deliberada, por falta de seriedade dos seus autores. Vem das Caldas da Rainha e não satisfeito com não sei quantos anos de executivo autárquico naquela cidade, quer ser agora presidente da Câmara de Loures por onde é candidato.
Meneses - que até conseguiu "meter" o filho na "entourage" mais próxima de Passos e no respectivo grupo parlamentar... - passa a ponte e troca Gaia pelo Porto. Fernando Seabra, mais conhecido como comentador desportivo nas televisões do que como autarca, desce do alto de Sintra para ser candidato em Lisboa. Fora outros casos que por aí vão. Uma vergonha, intolerável nos tempos que correm onde mais do que nunca se precisa da credibilização da política. É é lamentável que os tribunais competentes e os órgãos de soberania democraticamente eleitos pelos cidadãos (caso da Assembleia da República) sejam cúmplices desta aldrabice e tolerem que aos olhos das pessoas, a política fique mais porca e desacreditada e que os partidos sejam olhados como meros bandos de mafiosos aldrabões sem qualquer direito a respeitabilidade.
Penso que foi contra este chico-espertismo que tem vindo a permitir a criação e manutenção temporal de determinadas "quintas" que a lei foi aprovada pela Assembleia da República. O problema é que alguns "capatazes" se mostraram mais espertalhões que os legisladores! Salvo se entre uns e outros, como desconfio que aconteceu, existiu cumplicidade, como diz o povo, estavam todos feitos para que todo este processo desembocasse nesta palhaçada. (LFM)