sábado, fevereiro 02, 2013

A lógica de uma recusa

Escrevi recentemente, a propósito da alegada coligação eleitoral no Funchal, que dificilmente o PCP teria muito espaço de manobra para aceitar envolver-se nessa proposta que mais parecia uma rasteira. O PCP tem um vereador eleito directamente no Funchal (Artur Andrade) e apesar de tudo corria o risco de perder espaço eleitoral se envolvido e secundarizado numa coligação.
Reconheço que o PCP tem, em termos de prática política no terreno, no que ao Funchal diz respeito, uma presença constante junto das populações, sobretudo na periferia, ao contrário dos demais partidos da coligação proposta pelo PS. O PCP tem uma presença pública na cidade, tem carisma no domínio do poder autárquico da capital, não tenho dificuldade em reconhecê-lo, é persistente, suscita questões algumas delas acabaram por ser resolvidas. Mesmo que essa presença pública na cidade não seja compensada eleitoralmente da forma como os comunistas desejariam, o PCP por si só mobiliza as pessoas e marca um espaço de actuação e de intervenção próprio. Correndo riscos que poderiam colocar em causa os objectivos das regionais de 2015 relativamente às quais o PCP pretende recuperar o seu estatuto de grupo parlamentar (que perdeu devido aos resultados eleitorais do PTP) e reforçar a sua posição eleitoral, animado, como é previsível, pela difícil e explosiva situação política, social e económica regional e nacional que pode abrir uma janela de oportunidades para os pequenos partidos da oposição.
Por isso não me espanta a decisão hoje anunciada pelo PCP da Madeira. Aliás, conhecendo a política regional, até pelos anos que a acompanhamos, era mais do que evidente que o PCP olhou sempre com desconfiança para estas propostas dos socialistas, ainda por cima depois do CDS ter avançado com uma candidatura autónoma. Ou seja, admito que entre correr o risco de perder o seu eleito ou perder espaço eleitoral ao ser secundarizado numa coligação que seria sempre liderada pelo PS, nesta ponderação entre os riscos de concorrer sozinho e as regionais de 2015, o PCP acabou por tomar a decisão que me parecia ser claramente a mais óbvia e lógica, na óptica dos interesses do partido. Ainda por cima quando já esteve sempre envolvido numa coligação (CDU) com os Verdes que, ao que sei, deseja alargar a outros sectores da sociedade funchalense sem compromissos partidários ativos. Para nem falar nas notícias que correm em certos círculos políticos regionais de que pode aparecer uma lista de cidadãos "independentes" que não sendo potencial candidata a vencer as eleições pode complicar a aplicação do método de Hondt no processo de o apuramento dos 11 membros do executivo camarário. Para não falar na falta de consistência no sucesso eleitoral nesta proposta de coligação, aliás confirmada por uma sondagem de "exploração ao mercado" encomendada pelo PS mas não divulgada - que incidiu em vários concelhos - e cujos resultados ficaram muito aquém dos esperados.