Li no Correio dos Açores que "a concentração de serviços em S. Miguel rebentou com o emprego nas ilhas mais frágeis. A autonomia, diz Fernando Menezes, chegou ao tempo de ser repensada.
- Os Censos 2011 provam (excluindo o caso do Corvo) que chegámos a este ano com cinco ilhas em mínimos populacionais históricos, duas estagnadas (Terceira e Faial) e uma beneficiária (S. Miguel), aparentemente através da concentração de serviços. Como terá sido possível chegar a este cenário?
- Na verdade, com estagnação na Terceira e Faial e crescimento em S. Miguel, observa-se uma preocupante diminuição de população nas restantes ilhas que, a manter-se, conduzirá a prazo a uma verdadeira desertificação. Entendo que tal situação é o resultado do modelo de desenvolvimento adoptado em que a economia ou melhor, o sistema económico, determina quase tudo. Para além de historicamente a ilha de S. Miguel ter sido sempre a mais forte economicamente, a verdade é que pela sua dimensão geográfica e populacional é dotada de um mercado mais vantajoso e atractivo, capaz de gerar mais riqueza e consequentemente mais emprego. Reconheço contudo que tem havido ao longo do tempo uma importante concentração de serviços em S. Miguel apoiada nas novas tecnologias e justificada com a racionalização dos meios e dos custos, com graves consequências ao nível do emprego nas ilhas mais frágeis. As medidas adoptadas de incentivos mais vantajosos para estas ilhas não têm dado resultados visíveis, pura e simplesmente porque nelas não existe riqueza, investimento e mercado. Em muitos casos são os serviços públicos da administração regional e local os únicos a assegurarem emprego e a sobrevivência de muita gente. A acrescentar a tudo isto é ainda preciso considerar a taxa de natalidade, que tem diminuído drasticamente, não só nos Açores, mas também em todo o nosso País e na Europa.
- O debate inicial sobre a autonomia de 1976 apontava para um processo de desenvolvimento harmónico. É hoje claro que o processo é unipolar (restando saber se o pólo único também não terá pés de barro). Parece-lhe que a autonomia pode resistir ao modelo de facto implementado ou teremos que inventar outro caminho?
- Tanto quanto sei, a economia de S. Miguel não é tão sólida como pode parecer e existem graves riscos sobretudo ao nível dos recursos e do financiamento. Quanto às outras ilhas, não se pode dizer que não exista desenvolvimento. Existe uma clara melhoria na qualidade de vida e no bem-estar geral em resultado de importantes investimentos públicos nas mais diversas áreas, desde a saúde e segurança social até aos portos e transportes, passando pelo ensino e pelas condições ambientais, entre outros. Sendo muito difícil a instalação de unidades industriais nestas ilhas em virtude de muitos fatores e desde logo por falta de mercado local, a aposta no turismo parece-me correcta, embora também nesta área existam constrangimentos de toda a ordem (clima, distância, transportes, crise nacional e global, etc.) Provavelmente é necessário inventar outros caminhos, mas não será fácil, sobretudo na atual conjuntura.
- Intelectuais açorianos relembram que a multipolaridade teria que ter ícones logo na origem, como foi a ideia abandonada de localizar uma cidade-capital no Pico, para criar um novo pólo irradiador. Nessa inação inicial estará uma das causas da situação atual?
- Compreendo a ideia dos ícones na origem do processo autonómico, mas não creio que os resultados fossem substancialmente diferentes. Os exemplos que conheço não evitaram concentrações em determinados pólos de desenvolvimento e os resultados desse tipo de decisões foram localmente incipientes. As regras do modelo capitalista têm a ver com lógicas de mercado que não se invertem com decisões administrativas”.
- Os Censos 2011 provam (excluindo o caso do Corvo) que chegámos a este ano com cinco ilhas em mínimos populacionais históricos, duas estagnadas (Terceira e Faial) e uma beneficiária (S. Miguel), aparentemente através da concentração de serviços. Como terá sido possível chegar a este cenário?
- Na verdade, com estagnação na Terceira e Faial e crescimento em S. Miguel, observa-se uma preocupante diminuição de população nas restantes ilhas que, a manter-se, conduzirá a prazo a uma verdadeira desertificação. Entendo que tal situação é o resultado do modelo de desenvolvimento adoptado em que a economia ou melhor, o sistema económico, determina quase tudo. Para além de historicamente a ilha de S. Miguel ter sido sempre a mais forte economicamente, a verdade é que pela sua dimensão geográfica e populacional é dotada de um mercado mais vantajoso e atractivo, capaz de gerar mais riqueza e consequentemente mais emprego. Reconheço contudo que tem havido ao longo do tempo uma importante concentração de serviços em S. Miguel apoiada nas novas tecnologias e justificada com a racionalização dos meios e dos custos, com graves consequências ao nível do emprego nas ilhas mais frágeis. As medidas adoptadas de incentivos mais vantajosos para estas ilhas não têm dado resultados visíveis, pura e simplesmente porque nelas não existe riqueza, investimento e mercado. Em muitos casos são os serviços públicos da administração regional e local os únicos a assegurarem emprego e a sobrevivência de muita gente. A acrescentar a tudo isto é ainda preciso considerar a taxa de natalidade, que tem diminuído drasticamente, não só nos Açores, mas também em todo o nosso País e na Europa.
- O debate inicial sobre a autonomia de 1976 apontava para um processo de desenvolvimento harmónico. É hoje claro que o processo é unipolar (restando saber se o pólo único também não terá pés de barro). Parece-lhe que a autonomia pode resistir ao modelo de facto implementado ou teremos que inventar outro caminho?
- Tanto quanto sei, a economia de S. Miguel não é tão sólida como pode parecer e existem graves riscos sobretudo ao nível dos recursos e do financiamento. Quanto às outras ilhas, não se pode dizer que não exista desenvolvimento. Existe uma clara melhoria na qualidade de vida e no bem-estar geral em resultado de importantes investimentos públicos nas mais diversas áreas, desde a saúde e segurança social até aos portos e transportes, passando pelo ensino e pelas condições ambientais, entre outros. Sendo muito difícil a instalação de unidades industriais nestas ilhas em virtude de muitos fatores e desde logo por falta de mercado local, a aposta no turismo parece-me correcta, embora também nesta área existam constrangimentos de toda a ordem (clima, distância, transportes, crise nacional e global, etc.) Provavelmente é necessário inventar outros caminhos, mas não será fácil, sobretudo na atual conjuntura.
- Intelectuais açorianos relembram que a multipolaridade teria que ter ícones logo na origem, como foi a ideia abandonada de localizar uma cidade-capital no Pico, para criar um novo pólo irradiador. Nessa inação inicial estará uma das causas da situação atual?
- Compreendo a ideia dos ícones na origem do processo autonómico, mas não creio que os resultados fossem substancialmente diferentes. Os exemplos que conheço não evitaram concentrações em determinados pólos de desenvolvimento e os resultados desse tipo de decisões foram localmente incipientes. As regras do modelo capitalista têm a ver com lógicas de mercado que não se invertem com decisões administrativas”.
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