segunda-feira, outubro 11, 2010

Espanha: começou a era do “pós-zapaterismo”

Garante o Expresso que "o ocaso de José Luis Zapatero pode ter começado. À erosão da sua base eleitoral por causa da luta contra a crise económica junta-se, agora, a contestação dentro do próprio partido. A sua última aventura política — a designação do candidato socialista às eleições autonómicas de Madrid, para maio de 2011 — correu pessimamente. Apostou em Trinidad Jiménez, ministra da Saúde e uma das pessoas que lhe são mais próximas, mas em vão. O vencedor, Tomás Gómez, tivera a ousadia de dizer “não” ao pedido de Zapatero para desistir a favor de Jiménez. Por muito que o aparelho do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) se esforce, por mais que a cúpula do partido apele à unidade, a quebra de solidez da liderança de Zapatero tornou-se evidente. Nestas “primárias” de Madrid, praça-forte do socialismo espanhol, repetiu-se o processo de rutura com a liderança que há seis anos levou o atual chefe do Governo ao cargo de secretário-geral do partido. Zapatero pondera se deverá ou não candidatar-se à re-eleição, em 2012. O seu ‘núcleo duro’ insiste publicamente que não há outro candidato, mas personalidades importantes do PSOE não escondem a sua convicção de que, com ele, é impossível ganhar. Entretanto, o primeiro-ministro empenha-se em fazer frente à crise económica — “custe-me o que me custar”, segundo as suas próprias palavras. Deu uma volta radical às suas convicções e começou a fazer o contrário do que dizia há apenas meio ano. Primeiro, negou a crise; depois, garantiu que não haveria diminuição do Estado social; mais tarde afirmou que a recuperação estava em marcha. Nada disto estava correto. Pressionado pelos mercados, pelas instituições financeiras internacionais e pela UE, Zapatero foi obrigado a abraçar princípios neoliberais: cortou nos salários dos funcionários públicos, reduziu os investimentos em infraestruturas, congelou pensões, promoveu uma reforma laboral lesiva para os trabalhadores, anunciou a mudança do sistema de reformas e o Orçamento do Estado para 2011 enquadra-se em parâmetros de austeridade desconhecidos. Que obteve em troca? O afastamento dos seus apoios eleitorais, uma greve geral, sondagens desfavoráveis e uma palmada nas costas do Fundo Monetário Internacional e da UE, que declararam que “a Espanha está no bom caminho” e que Zapatero “pegou o touro pelos cornos”. Mas nem assim a crise cede: reduziu o défice, mas o crescimento é praticamente nulo e o desemprego situa-se perto dos 20%. Admite-se que os primeiros sinais sérios de recuperação não surjam antes de 2012. No domingo passado, o diário “El País” publicava uma sondagem pondo o PSOE a 14,5% do Partido Popular (PP). A oposição não corre riscos de desgaste. Adotou a estratégia de deixar que o adversário se enterre lentamente, sem apostar numa única proposta de relevo. Não há dúvida que o ‘pós-zapaterismo’ já começou"

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