segunda-feira, abril 19, 2010

O descaramento de Bruxelas começa a precisar de uma lição

***
Fique entretanto a saber, conforme escrevem os jornalistas do Publico, Isabel Arriaga e Cunha, Nuno Ribeiro, Sérgio Aníbal, "não houve qualquer notícia de uma derrapagem orçamental ou a descoberta de erros na contabilidade apresentada pelo Governo, mas a verdade é que diversos jornais e economistas têm estado, nos últimos dias, a colocar Portugal como o cenário da próxima grande crise da zona euro, a seguir à Grécia. O resultado destes comentários está a ser a continuação da penalização feita pelos mercados, com taxas de juro mais altas, da dívida pública portuguesa. Durante o dia de ontem, o diferencial nas taxas de juro exigidas por uma obrigação a 10 anos do Estado português e a média europeia subiu de 1,26 para 1,36 pontos, reaproximando-se dos máximos que tinham sido atingidos antes da divulgação do plano de ajuda europeu à Grécia. A esta tendência não será alheia a colagem, em muitos meios internacionais, da imagem de Portugal a um país com problemas orçamentais extremamente graves. Portugal: o próximo alvo, lia-se ontem na edição do jornal norte-americano “The New York Times”. O artigo - com o título Preocupações com a dívida mudam para Portugal, motivadas pela subida das taxas das obrigações - dizia que os especuladores dos mercados estavam, depois da Grécia, a avançar em direcção "a mais um pequeno membro da perturbada zona monetária europeia". No dia anterior, Simon Jonhson, ex-economista chefe do FMI, num artigo feito em parceria com o economista Peter Boone, dizia também que "o próximo grande problema global" seria Portugal, dizendo que até agora o país tinha conseguido estar fora do centro das atenções apenas graças à Grécia e defendendo que estes dois países estão piores que a Argentina em 2001. Ontem, outro economista de nomeada, Nouriel Roubini, dizia também que Portugal e a Grécia poderiam ter de abandonar a zona euro. Teixeira dos Santos, presente ontem em Madrid na reunião dos ministros das Finanças da zona euro, respondeu com dureza, falando de "disparates sem fundamentação sólida, reveladores de ignorância". "Não nos devemos impressionar com essas apreciações, pois, como o próprio ministro alemão referiu, Portugal não é a Grécia", disse.
Ajuda agrava dívida
A reunião do Eurogrupo serviu para discutir a aplicação do plano de ajuda à Grécia. Os ministros das Finanças da zona euro afirmaram-se satisfeitos com o desenvolvimento técnico e legislativo do programa de ajuda financeira de 45 mil milhões de euros, embora frisando que Atenas não fez qualquer pedido. Os "trabalhos preparatórios dos Estados-membros da zona avançam a um ritmo satisfatório, como de resto as discussões com o FMI sobre o programa de assistência comum", afirmou Jean Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do eurogrupo. Atenas, que continua com as taxas de juro da sua dívida pública a subir, está a fazer tudo para finalizar os detalhes da ajuda prometida no domingo passado. A Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI vão enviar missões a Atenas na próxima semana para debater as condições de concessão desta ajuda. A Alemanha continua a fazer planar uma dívida sobre todo o processo, o que tem, aliás, alimentado a especulação dos mercados sobre a sua concretização. "Pensamos que os gregos estão no bom caminho e que, no final, talvez não precisem de usar a ajuda", afirmou Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças a uma rádio alemã. O seu secretário de Estado, Jörg Asmussen, presente em Madrid, deixou por seu lado claro que o Governo de Berlim apoia "o facto de as negociações terem começado mas igualmente que o programa [de ajuda] permita à Grécia continuar a refinanciar-se nos mercados". Do lado de Portugal, Teixeira dos Santos admitiu que a contribuição portuguesa no apoio comunitário à Grécia poderá aumentar a dívida de Portugal. "Toda a gente compreende que há um esforço para garantir a estabilidade da zona euro, da qual Portugal beneficiou e tem beneficiado, pelo que temos de ser solidários com os países que partilham a moeda única, que também é a nossa moeda", sublinhou
”.

Sem comentários: