domingo, abril 18, 2010

Entrevista (na íntegra) de João Jardim à revista "NS"

"Quando se explica ao presidente do Governo Regional da Madeira os temas da entrevista, a resposta corta qualquer dúvida pela raiz: «Pergunte o que quiser.» É o género de afirmação que o entrevistador gosta de ouvir e de, durante o diálogo, ver como é que Jardim reage às questões mais inesperadas. Umas vezes faz um breve silêncio para encaixar a pergunta, outras ajeita-se na cadeira e pesa as palavras e, quando acha que foi longe de mais e que pode haver uma suavização das suas palavras, aponta o dedo para o gravador e avisa: «Isto é para sair mesmo como eu disse.» Certo, senhor presidente, será feita a sua vontade e quem se sentir ofendido que reclame directamente para a Quinta da Vigia. DA VARANDA DO PALÁCIO vê-se o «jardim» que Alberto João, o eterno presidente do Governo Regional, controla há mais de três décadas. Chamam-lhe Madeira e também Pérola do Atlântico, tem hotéis por todo o lado, está furada por dezenas de túneis ligados a viadutos como um queijo suíço e o povo vota sempre nele. Por isso ninguém lhe faz frente na ilha, não teme o Governo da República e aprecia brincar com os primeiros-ministros e presidentes da República que os continentais elegem. Todos sabem que o seu PSD tem o pé bem firme em cada metro quadrado da ilha e que nada se faz sem a sua aprovação, mas ninguém lhe encontra os escândalos que envolvem a classe política portuguesa nem lhe apontam um enriquecimento por favorecer interesses. Este fim-de-semana, Jardim recebe José Sócrates, o seu mais recente amigo, que se desloca à região para participar da Festa da Flor, em solidariedade com a tragédia que se abateu em Fevereiro sobre a Madeira. Na semana passada falhou o congresso que entronizava o novo presidente social-democrata. São dois passos da última cartada que joga antes de se reformar de uma vida em grande parte dedicada à política, desde que em Maio de 1974 foi um dos fundadores do PPD.
Administra a Madeira a partir de um palácio onde os turistas entram sem pedir autorização, tiram fotografias para recordar o momento e podem abordar Alberto João Jardim ao cruzarem-se com ele. Faz questão de ter o portão sempre aberto e não esconde o que lhe vai na alma logo na sala onde se aguarda pela hora de subir ao seu gabinete. Nessa sala estão posters, cartões e fotografias espalhados pela parede que entretêm a breve espera.
O primeiro que chama a atenção é um postal de boas-festas que tem a assinatura de José Sócrates. Seguem-se outros cartões, com frases: «Tenho sempre razão»; «Vida longa aos inimigos para que assistam de pé à minha vitória»; «Porquê questionar? Deixem-me seguir o meu próprio caminho» ou «Mais tarde ou mais cedo os visionários provaram ser verdadeiros realistas». Esta última máxima é do antigo chanceler alemão Helmut Kohl, as anteriores são ditados populares, frases que interpretam o instinto político matador e os ideários de governabilidade de João Jardim, também expostos em fotografias inesperadas como uma em que surge com a bandeira do Partido Comunista Português nas mãos. No final do encontro, enquanto se passeia pelos jardins do palácio, dirá uma frase que sustenta a sua orientação económica: «Salazar defendia o equilíbrio orçamental. Viu-se o resultado em Abril de 1974.»
Alberto João Jardim acabou de almoçar mas não lhe falta apetite para a sobremesa. Coloca na ementa a «inexistente» oposição madeirense, o velho e o novo PSD de Pedro Passos Coelho, o apoio à reeleição de Cavaco Silva e a candidatura de Manuel Alegre, entre outras questões polémicas. O presidente do Governo Regional vai provando as sugestões do cardápio mas acaba por degustar com mais prazer os pratos fortes e polémicos. De lado fica a obstinação de Sócrates em legalizar o casamento gay com o argumento de que não vai estragar a convergência que neste momento é necessária para discutir a questão mas evita considerá-la uma garotice porque, diz, «cada um tem as suas ideias e valores». Quando se lhe faz a pergunta que está dentro da cabeça de todos os portugueses – se alguma vez alguém o vai meter na ordem? – a resposta é desabrida: «Espero que Nosso Senhor Jesus Cristo, quando eu chegar ao céu. Porque senão vai ser uma marabunta lá para cima
" (Leia aqui, na integra, a entrevista de Alberto João Jardim à revista NS, distribuída sábado em suplemento com o DN de Lisboa. Uma entrevista realizada pelo jornalista João Céu e Silva

Sem comentários: