Li no Publico, num texto de Fernando Sousa intitulado "Americanos resgatados às FARC acusam Ingrid de arrogância e manipulação", que "os reféns resgatados às FARC estão a deixar as entrevistas e a passar para os livros. É o que acabam de fazer os três norte-americanos tirados à guerrilha colombiana em meados do ano passado, Marc Gonsalves, Thomas Howes e Keith Stansell, num relato onde praticamente dizem que na floresta ou são todos heróis ou não há nenhuns, na parte onde por exemplo falam de Ingrid Betancourt. A narrativa acaba de sair nos Estados Unidos com o título Out of Captivity. Surviving 1967 days in the Colombian jungle ("Fora do Cativeiro. Sobreviver 1967 dias na selva colombiana") e é assunto de abertura em muitos media. Ser refém, entre outras coisas, é ser obrigado a marchas forçadas, sob o risco de um ataque, ter departilhar um dicionário de espanhol--inglês ou disputar comida, um caldo, uma ração de arroz, a perna magra de um frango. Os três norte-americanos iam num avião, ao serviço de CIA, a fotografar as zonas controladas pelos rebeldes quando o aparelho se despenhou e foram sequestrados. Foi em 2003. Os cinco anos seguintes passaram-nos na floresta entre o medo, a angústia e a incerteza, mas também entre tensões pessoais. O que escreveram é assim também uma história de ressentimentos. E esses centram-se de acordo com quem leu - o New York Times e a imprensa colombiana - numa pessoa: a antiga candidata presidencial Ingrid Betancourt, libertada com eles há oito meses. Agentes da CIA com chipsAs más relações começaram logo no primeiro encontro, marcado pela frieza, a má vontade e a suspeição. Marc Gonsalves, de ascendência portuguesa, e Keith Stensell lembram que quando ela os viu chegar disse que não havia espaço para eles e que ia dizê-lo aos carcereiros, o que realmente fez falando com o que era chefe, Martín "Sombra". O motivo que alegou foi que eram agentes da CIA, provavelmente com chips implantados no corpo para a sua eventual detecção. Howes vai mais fundo: "Betancourt é uma pessoa que gosta de controlar e manipular, e isso em cativeiro é uma coisa muito difícil", escreveu sobre a ganhadora do Prémio Príncipe das Astúrias 2008 e que os franceses receberam como uma heroína. Estava só "interessada em si mesma" chegando ao ponto de "não querer partilhar a comida em partes iguais". Keith acusa a cativa de "arrogância" e de os ter tratado "pior" do que os próprios guardas. Um dos episódios que mais chocaram os três foi a sua recusa em partilhar as informações que obtinha do seu pequeno rádio. Os recém-chegados tiveram que entregar os que tinham. Mas ela ficou com o seu, guardando depois para si o que ouvia. Os media puxavam ontem pela parte relativa à antiga candidata presidencial por coincidir pouco com a maneira como é vista no país e no estrangeiro. Mas se Keith a compara a uma "harpia", o monstro com cabeça de mulher e corpo de ave de rapina da mitologia grega, Gonsalves reconhece que era "dura", que mesmo quando foi acorrentada por tentar escapar nunca a viu chorar e que "costumava fazer a vida difícil" aos guerrilheiros. Out of Captivity. Surviving 1967 days in the Colombian jungle aborda depois as relações mais pessoais dos reféns - um tema que Ingrid Betancourt rematou numa entrevista no ano passado ao diário espanhol El País afirmando que há coisas que devem ficar na selva. Os autores deste livro posto à venda por 28 dólares e de garantido sucesso editorial, comentava ontem a edição digital do El Espectador, não pensam assim. No Acampamento Caribe, onde estavam todos, havia dois casais. Um era "Lucho [Luis Eladio Pérez] e Ingrid". Outro era "Jorge [Géchem] e Gloria [Polanco]".
Um tema também abordado por Susana Salvador do DN de Lisboa num texto intitulado "Ingrid é uma pessoa que gosta de manipular": "Relato dos três norte-americanos sequestrados pelas FARC O mundo chorou de alegria quando Ingrid Betancourt foi libertada, após quase sete anos de cativeiro, e a franco-colombiana foi recebida como uma heroína em França. Mas oito meses depois da operação Jaque, o relato de três dos seus antigos companheiros na selva colombiana vem deitar por terra a imagem da mais famosa refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). "Ingrid é uma pessoa que gosta de controlar e manipular" é uma das críticas mais brandas que lhe fazem os norte-americanos Thomas Howes, Keith Stansell e Marc Gonçalves (um lusodescendente) no livro Out of Captivity. São 457 páginas, escritas em forma de diário num relato cronológico. Os três foram libertados a 2 de Julho, com Ingrid e mais 11 reféns numa operação arrojada do exército. Stansell é o que vai mais longe ao dizer que a ex-candidata presidencial era "egoísta", por não querer dividir a comida com os outros reféns e colocar a vida dos três em perigo ao dizer às FARC que eles eram da CIA. "Vi como ela tentava apoderar-se do acampamento com uma arrogância desenfreada. Alguns dos guardas tratavam-nos melhor do que ela", afirmou este antigo marine, de 44 anos".
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