domingo, abril 27, 2008

PSD: a exigência irrealizável de João Jardim (II)

Tenho acompanhado ao longe a "novela" em torno da candidatura de Alberto João Jardim que em meu entender insiste numa exigência irrealizável, que condiciona qualquer decisão sua (que começa a ser demasiado tardia) mas que obviamente não creio que possa travar o posicionamento das distritais e de outras figuras do partido em relação às candidaturas já existentes. Se Jardim diz, e bem, que não decide sob pressão e que "quem quiser esperar espera, quem não quiser que faça o que lhe apetecer" parece-me evidente que o dirigente madeirense tem que dar idêntica liberdade de decisão às estruturas nacionais do partido para se pronunciar quando e como bem entender, sem estar condicionado por calendários ou outros cenários de candidatos ou pretensos candidatos. O que me faltava agora era voltar a ver Alberto João Jardim, depois das cenas e das histórias mal ou não contadas sobre o que se passou no Conselho Nacional do PSD, falar de mudança apoiando Santana Lopes que foi a causa da "desgraça" eleitoral do PSD, em Fevereiro de 2005 e de tudo o que desde então vem afectando o partido. Li que João Jardim insistiu hoje na desistência das restantes candidaturas - ou num projecto federador - para combater Ferreira Leite. Mas não foi isso que PSL lhe disse que queria fazer quando o informou que ia formalizar a candidatura e que a manteria até ao fim? E não foi isso que, desde início, fez AJJ hesitar por temer que por causa de uma colagem da candidatura de Ferreira Leite a Cavaco Silva, em caso de derrota daquela nas "directas", tal desfecho pudesse ser "alargado e envolvendo indirectamente o próprio Presidente, podendo (?) afectar a normalização de relações institucionais entre o Funchal e Belém que Jardim quer manter totalmente imunes a este tipo de acontecimentos partidários. Sabendo-se - e Jardim sabe-o desde a reunião do Conselho Nacional - que nem Santana Lopes nem Ferreira Leite desistirão das suas candidaturas, não terá chegado o momento para que AJJ se decida, de uma vez por todas, o que vai fazer, sem mais exigências, sem hesitações ou protelamentos de decisões que apenas o prejudicam? Eu admito que, caso Alberto João Jardim tivesse formalizado esse avanço, na reunião do Conselho Nacional, nem um (PSL) nem outra (MFL) provavelmente avançariam, por óbvia falta de espaço político no seio do partido mas sobretudo por temerem ser confrontados com a acusação de que seriam candidaturas do "passado" incapazes de renovarem fosse o que fosse, além de que dificilmente recuperariam o eleitorado que o PSD perdeu, ainda por cima por causa deles. Não só, obviamente, mas também por causa deles.
Finalmente há uma questão não menos importante, que não pode ser escamoteada: com “directas” marcadas para 31 de Maio, os candidatos estão já no terreno, com escolha de mandatários, com slogans, com cartazes, com folhetos promocionais, com sedes de campanha, com estruturas de apoio à campanha, etc. Alberto João Jardim não pode ter a veleidade de julgar que consegue mobilizar apoio das bases, o tal “PSD profundo”, sem ir ao encontro delas, sem lhes falar. E isso implica uma "ronda" por todos os distritos do Continente e Açores, porque as base precisam de ouvi-lo, de perceber o que ele quer mudar, como quer mudar, de propostas tem para o País, que garantia de unidade para o partido, que soluções proporá, caso vença, na economia, nas finanças públicas, na saúde, na educação, na economia, no emprego, no fundo os sectores-chaves do descontentamento existente em relação ao governo socialista. As bases querem perceber o que difere o PSD do PS, querem ter a certeza de que estas “directas” não serão uma perda de tempo, para dividirem ainda mais um partido já esfrangalhado, e servirão para alguma coisa de plausível e útil. E isso não pode ser feito indirectamente, através dos meios de comunicação social. Eu não tenho dúvidas: se Jardim quer avançar (e a posição do PSD do Porto hoje anunciada revela isso mesmo, que é urgente uma decisão, que mais cedo ou mais tarde se propagará às demais estruturas que estão ainda em compasso de espera, caso do Algarve), tem que decidir rapidamente, sob pena de quanto mais tarde não valer a pena, por ser tarde demais. Aliás, escrevi há dias que já não acreditava nesse desfecho, e continuo até hoje a pensar que nada aconteceu que fizesse alterar a minha opinião. Se Jardim avançar, estarei com ele, para a vitória ou para a derrota. Se Jardim não avançar, estarei com Pedro Passos Coelho, já aqui o disse. Mas parece-me importante que o líder madeirense, mais do que protelar demasiado este assunto, tenha presente que, não avançando para a disputa eleitoral interna, não se deve vincular a nenhuma das candidaturas, para que possa, eventualmente, no pós-2009 surgir como uma alternativa aglutinadora.

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