terça-feira, abril 29, 2008

PSD: a encenação e o "pano de fundo"

Foi tudo uma tremenda encenação, reconheço que devidamente preparada, mas da qual resulta, para efeitos de opinião pública, a percepção de que ali estavam caras do passado, muitos dos quais nada dizem ao partido, e que impediam a ousadia de alguém falar em renovação. Falar em renovação do PSD, naquela sala, naquele momento, com aquele "pano de fundo" humano a rodear a candidata, daria vontade de rir a qualquer um - por muito respeito que tenhamos que ter, e eu tenho, por Manuela Ferreira Leite - e seria um paradoxo. Esse talvez o seu principal erro, deixar-se envolver por oportunismos e por oportunistas que ela certamente conhece, os quais, a reboque do seu nome e da respeitabilidade que a senhora realmente garante, estão mais a pensar em coisas que lhes interessam, ou aios "lobbies" de que são parte, mas que nada têm a ver com o projecto político que MFL diz querer defender para o partido e o país. Quantos deles estiveram, num passado recente contra ela e a favor de outros? E quantos estiveram com ela e agora viraram-se, sobretudo por causa do que acabo de referir, para outras opções, por exemplo como ainda hoje ficamos a saber que acontecerá com Miguel Frasquilho - eu sei que um simples deputado - que foi secretário de estado de MFL quando ela foi ministra das finanças? Outro registo, uma vez mais a tentar colocar-me na perspectiva das pessoas que a ouviram - já que naquela sala não estava de certeza o PSD profundo, as bases, mas apenas sectores elitistas antecipadamente convocados por SMS, telefone ou fax - e que tem a ver com o tipo de mensagem que MFL passou, a de que quase foi "obrigada" a tomar uma decisão, que aquela tinha sido "uma das piores, senão mesmo a pior decisão" da sua vida política, enfim um floreado que deixa transparecer uma falta de convicção e até falta de vontade em se envolver numa disputa para a qual, resta perguntar, precisamos saber se foi ou não empurrada. Fica, para análise posterior, a pretensa natureza cavaquista" (porque supostamente emergindo do que vulgarmente se designa de "cavaquismo" no PSD) subjacente a esta candidatura, e que não existe, de facto. Mas repito, o facto de eu ter a convicção que MFL não se envolveu nesta disputa partidária, por vaidade pessoal, por interesse, ou motivada por ambições ou procura de protagonismo pessoal ou mediático, o facto de acreditar que, pelo seu passado, o esteja a fazer por julgar que desta forma ajuda o PSD, isso não me impede de ter a opinião pessoal - que admito possa estar errada e nem seja subscrita por muitos dos que me lerem - de que dificilmente o seu nome se associa a qualquer conceito de renovação que o PSD precisa neste momento e que dificilmente ela consegue desligar-se de uma imagem de dureza e intransigência excessiva que, diga-se em abono da verdade, acabou por também contribuir, num passado recente (foi Ministra de Barroso) para o acelerar a queda do PSD até ao descalabro de Fevereiro de 2005.

Sem comentários: