sábado, junho 17, 2023

Sondagem Expresso/SIC: Portugueses querem mais referendos, mas nem pensar em mudar idade de voto

Influência, novos mecanismos de participação e mais referendos: os portugueses querem ser mais vezes, e de mais formas, chamados a participar nas decisões políticas do país. É o que se retira de vários indicadores analisados pela sondagem ICS/ISCTE. Na comparação entre influência ideal e influência real, em que os inquiridos dizem que a população deveria ter muito mais influência do que tem, e nas sugestões de reformas políticas (ver gráfico no fim do texto).

Marcelo fez bem em não dissolver e Costa fez mal em manter Galamba. Sondagem mostra que maioria dos inquiridos não acredita em grandes mudanças mas espera um Presidente mais atento e interveniente

As duas ideias com maior aprovação são a de criar novos mecanismos para os cidadãos participarem politicamente (85%) e fazer mais referendos para “decidir assuntos importantes” (82%), questão recentemente levantada a propósito da eutanásia, por exemplo. Contudo, nenhum dos referendos nacionais que foram feitos — dois à legalização do aborto (1998 e 2007) e um à regionalização (1998) — chegou aos 50% de participação, meta a partir da qual se tornam vinculativos.

Segundo a sondagem, todas as referências sobre participação política parecem apontar para uma tentativa de pessoa­lização e dessacralização da política. No fundo, confirmando a desconfiança em relação a partidos, Governo e Parlamento.

Mudar o sistema eleitoral para “votar menos por partidos e mais por candidatos”, ou seja, caminhar para um sistema de círculos uninominais, e passar “mais poderes para as autarquias” são outras das ideias com maior concordância.

Há, no entanto, outras mudanças do sistema eleitoral a que os portugueses parecem avessos. À cabeça, a antecipação do direito de voto para os 16 anos, que foi proposta por vários partidos na revisão constitucional em curso, e que é rejeitada pela esmagadora maioria. Os inquiridos parecem mais divididos em relação a mudanças que alterem as formas de ir às urnas.

Se a possibilidade do voto por correspondência, prática comum noutras geografias, é chumbada pela maioria, o voto por via digital parte a sondagem quase ao meio. Diferente do voto eletrónico há muito estabelecido nos EUA e no Brasil, a pergunta da sondagem era sobre a votação através da internet, à qual a maioria diz que sim: 53% contra os 41% que recusam a hipótese.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 13 e 28 de maio de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE/IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis: sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 128 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 3894 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 1204 entrevistas válidas (taxa de resposta de 31%, taxa de cooperação de 42%). O trabalho de campo foi realizado por 52 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 1204 inquiridos é de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas João Diogo Correia e Sofia Miguel Rosa)

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