Consumada a previsível despromoção ao
segundo escalão do futebol nacional - previsível porque, desde cedo, pelas
dificuldades e carências demonstradas, percebemos que só um milagre impediria
esse desfecho a um plantel mal construído, sem liderança competente e onde
apenas 3 ou 4 jogadores escapavam a uma inegável falta de qualidade minimamente
exigida a um plantel apostado numa Iª Liga - que alternativas restam agora ao
Marítimo?
Para além de ter que tomar decisões
inevitáveis e que nalguns casos serão polémicas, quer em termos de redução de
funcionários dos seus quadros, prescindindo de muitos deles, do repensar a
continuidade de certas modalidades, do apostar a sério, finalmente, numa
verdadeira formação com madeirenses, sem manipulações, sem importações de
praticantes de duvidosa ou nula mais-valia e sem dependências doentias de
lógicas competitivas, e que se confundem com outros caprichos, o Marítimo vai
ter que mudar muita coisa, repensar uma estrutura clubista caduca, que persiste
há décadas sem a adaptação aos novos tempos, etc.
O Marítimo, 38 anos depois, vai ter que
pensar, organizar-se, escolher e gastar como um clube de segundo escalão que eu
estimo irá perder entre 2,5 a 3 milhões de euros por época (ou mais…). O problema,
contudo, é mais grave do que parece: se regressar à I Liga é obrigatório, mais
para a Madeira que para o CSM, como é que o Marítimo pode pensar numa subida
rápida desinvestindo na sua equipa porque não tem recursos financeiros para o
fazer? Endividando-se junto da banca? Duvido muito do sucesso de tal cenário.
Correndo atrás de investidores privados? Parece-me haver falta de vontade para
tomar decisões que o tempo vai impor. Fazendo uma parceria com um clube europeu
de nomeada? Seria porventura uma mais-valia, mas confesso que não identifico
potenciais parceiros interessados. Aceitando um contrato publicitário chorudo
embora não se saiba bem em que condições, até porque o CSM, neste caso, nunca
seria o elo mais forte neste negócio?
Como resolver este imbróglio? Acabar com a
equipa sub-23 era uma inevitabilidade, mas outras decisões terão de ser
tomadas. Os sócios do clube - não da SAD… - que reivindicam e criticam tanto, e
com razão, devem ir à AG do clube para perceberem as alternativas existentes e
sobretudo perceberem, de uma vez por todas, que contando só com as receitas das
quotas dos sócios, o Marítimo, e dezenas de outros clubes nacionais, nem na
Liga 3 provavelmente estariam. A direção do Marítimo que aproveite o momento e
explique o peso das quotizações dos sócios no orçamento de uma época
futebolística. Confesso que não vejo alternativas consistentes e as saídas, nos
tempos difíceis que corremos, são cada vez menores e demasiado estreitas.
Acresce que esta época tudo poderia ter
sido pior caso o Nacional não tivesse garantido a sobrevivência na IIª Liga a
escassas jornadas do final da prova. Estamos a falar de um clube que já esteve
na Iª Liga mas que não foi além do 13º lugar na II Liga a escassos 4 pontos da
descida!
Aguardemos pela Assembleia Geral do CSM, embora pessoalmente tenha uma tremenda dificuldade em entender a estratégia de Rui Fontes e seus pares, sobretudo depois do maior desaire desportivo do Marítimo. Não entendo como é que a direção pretende continuar em funções, aparentemente planificando a próxima época, sem saber se vai ser destituída na AG ou se uma potencial revolta dos sócios do clube obrigará a eleições antecipadas. Há riscos que não se devem correr e isto da direção do CSM querer “fazer-se de morta”, como se nada se tivesse passado - quando na realidade o Marítimo foi atirada para a IIª Divisão do futebol nacional – pode virar um pesadelo. Mas enfim, esse é um problema do Marítimo, claramente a braços com um pesadelo (LFM, texto publicado no Tribuna de Madeira de 16.6.2023)
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