domingo, janeiro 26, 2020

PSD: Surpresas da direção de Rui Rio em risco de sair

Sangue fresco precisa-se. Rui Rio vai renovar a direção social-democrata com um dado em mente: será preciso mais músculo político para enfrentar os próximos dois anos de mandato, absolutamente decisivos para as aspirações do líder social-democrata, que sempre entendeu as autárquicas de 2021 como o ponto de viragem para o PSD. Para já, as futuras composições da Comissão Permanente (onde têm assento os vice-presidentes e o secretário-geral do partido) e da Comissão Política nacional (direção alargada) estão no segredo dos deuses. “Rui Rio não fez convites, nem tratou disso. Neste momento, nem às paredes confessa”, comenta com o Expresso fonte próxima do líder. Na linha da frente dos remodeláveis está a vice-presidente Elina Fraga. A ex-bastonária da Ordem dos Advogados foi uma aposta de Rio (muito polémica, por sinal, depois das críticas que fez à ex-ministra Paula Teixeira da Cruz e ao Governo de Passos Coelho), mas terá acusado o desgaste destes dois anos, sem deixar uma marca evidente no núcleo duro. O mais certo é estar de saída. Ouvida pelo Expresso, a própria recusou confirmar um ou outro cenário e limitou-se a resumir o tema a “mera especulação”. Por confirmar está também a continuidade de Isabel Meirelles.
A deputada e vice-presidente do PSD garante ao Expresso que não colocou o lugar à disposição, assume vontade de continuar para experimentar a sensação de ser “vice-presidente em paz”, depois de dois anos particularmente conturbados, mas é cristalina: “Pu-lo [a Rio] completamente à vontade: decidirá como quiser e estarei com ele para o que precisar”, diz. No núcleo duro são poucos os que se atravessam pela continuidade de ambas e o diagnóstico é quase unânime: acrescentaram pouco. Caso diferente é o de Nuno Morais Sarmento. O ex-ministro de Durão Barroso e Santana Lopes foi uma figura intermitente nestes dois anos, mas a sua recente reaproximação foi notada na São Caetano: Sarmento fez questão de estar presente em ações de campanha de Rio em Lisboa e esteve com o líder no Porto, durante a noite eleitoral. A perceção que existe é a de que, se quiser, o antigo ministro tem todas as condições para continuar como vice-presidente. Sarmento é, a par de David Justino, o único com dimensão nacional e Rio valoriza a sua capacidade de leitura política. De resto, o líder social-democrata deverá manter o seu núcleo restrito, em quem tem uma confiança inabalável. No discurso da vitória, não passou despercebido, aliás, o elogio público, raro em Rio, que fez a Maló de Abreu (deputado e membro da direção), a Salvador Malheiro (vice-presidente), a José Silvano (secretário-geral) e a Florbela Guedes (assessora de imprensa).
Adão Silva no gabinete
Arrumada parece estar a questão da liderança da bancada parlamentar. Rui Rio deve deixar o cargo assim que o debate do Orçamento do Estado esteja terminado, convocar eleições e indicar Adão Silva, o seu primeiro vice-presidente, como favorito. O deputado, sabe o Expresso, já terá inclusivamente ocupado um lugar no gabinete parlamentar do líder social-democrata, pelo que a transição será pouco mais do que um pró-forma. Esta escolha pode obrigar a alguns ajustes e compensações, não apenas na direção da bancada, mas também na direção do partido. O deputado André Coelho Lima, que é uma figura em ascensão — foi cabeça de lista em Braga e um operacional importante nas diretas do PSD —, ambicionava o lugar de líder da bancada parlamentar, mas deverá ter de esperar. Em contrapartida, poderá ganhar preponderância na direção de Rio, como vice-presidente do partido.
Autárquicas começam hoje
Escolhida a equipa, que só estará verdadeiramente fechada no último dia do congresso social-democrata — agendado para 7, 8 e 9 de fevereiro —, Rui Rio começará já a preparar o ataque às próximas eleições autárquicas, criando uma equipa própria para estudar o terreno e consolidar estratégias. Chegou a existir um esforço nesse sentido e a missão foi atribuída a José Silvano, mas foi rapidamente abortada, dado o perío­do de convulsão interna em que os sociais-democratas entretanto mergulharam. E que deixou marcas: Silvano assumiu grande parte das ‘despesas’ da campanha interna e estaria pronto para passar o testemunho; mas Rio conta com ele e o secretário-geral jamais dirá que não ao desafio do líder social-democrata. A ideia passa, portanto, por criar um grupo autárquico, mais alargado e com uma “composição diferente”, verdadeiramente política, para preparar já a corrida às eleições autárquicas, com o objetivo de reconquistar 15 a 20 câmaras, sobretudo no Norte e Centro do país, disputar terreno nas 25 maiores (Sintra é um alvo, por exemplo) e tentar crescer nos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto (Expresso)

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