quinta-feira, janeiro 16, 2020

Nota: Cafofo, que nem a chave do partido tem, precisa de ser eleito para depois ser avaliado

Recebi, por via privada, um comentário curioso de um político do PS-Madeira, que faz parte de um dos seus órgãos regionais, alertando-me para um "potencial erro de cálculo" relativamente ao enquadramento que fiz de Paulo Cafofo no PS-Madeira, neste PS-Madeira de Emanuel Câmara que apostou tudo, o que tinha e não tinha, na vitória nas regionais de Setembro do ano passado mas que ficou muito distante desse desiderato.
Depois de ler e reler a argumentação usada nesse comentário - que agradeço reafirmando que mantenho o silêncio total e absoluto sobre as minhas fontes - concordo com muitos dos pontos de vista dele constantes que basicamente são os seguintes, segundo o referido político socialista madeirense:

- Paulo Cafofo não controla o PS-Madeira, ele nem a "chave da porta da sede tem". Cafofo é neste momento um militante, um "cristão novo" com três meses de filiação, pelo que dificilmente poderia ser tratado de forma diferenciada ou beneficiar de "mordomias" políticas quando nem líder é e pelos vistos nem sabe, dado que a corrida nas directas socialistas não se farão apenas com PC, quando o será e como. Ou seja, diz o referido militante que Cafofo tem que ser eleito, escolher a sua equipa, anunciar o programa de acção (moção de estratégia) e só depois ser avaliado. Pessoalmente dou de barato essa perspectiva;

- Paulo Cafofo cometeu um erro, segundo o meu interlocutor, o de ter prolongado demasiado tempo a sua (reclamada) inscrição no PS-Madeira, sobretudo depois de saber que não conseguia qualquer coligação eleitoral como logrou na CMF em 2013 e 2017. Ou seja, Cafofo apostou muito no apoio de Costa - que o apoiava mais do que a direcção do PS-Madeira - mas depois acabou por pagar caro essa proximidade do primeiro-ministro e secretário-geral do PS, levantando várias desconfianças subterrâneas;

- Essa demora gerou desconfiança, alimentou dúvidas quanto ao seu real enquadramento no PS-Madeira e provocou um mal-estar no partido em grande medida devido ao facto de Cafofo, derrotado nas regionais, ter deixado o PS-Madeira refém dele e de ser obrigado a uma encenação "absurda" de adiar o congresso apenas para que a candidatura de Cafofo se concretizasse" nos prazos regulamentares e estatutários estabelecidos;

- Cafofo está agastado com o tratamento dado na CMF a várias pessoas que foram escolhidas por ele, que trabalharam vários anos com ele na CMF, mas que Miguel Gouveia - com toda a legitimidade e naturalidade, digo eu - foi afastando para que pudesses ter - regra essencial da política - pessoas da sua confiança naquele que seriam um resto de mandato (2017-2021) marcado pela eventual candidatura do vice de Cafofo promovido a Presidente depois do abandono do anterior autarca. Este agastamento de Cafofo, segundo a mesma fonte, tem causado irritação noutros sectores do PS-Madeira e logo depois da eleição do novo líder regional, em Maio próximo, a problemática das autárquicas assume todo o destaque;

- Outro ponto de discórdia tem a ver com Santa Cruz. Enquanto a ala política do PS-Madeira mais dura parece apostar na conquista de SC e na derrota da JPP - e pretende apresentar um documento no congresso de Maio definindo esse objectivo como prioritário, Cafofo, segundo o meu informador, mostra-se mais renitente e avesso a posições políticas mais agressivas e extremadas com potenciais parceiros futuros seja em que frente eleitoral for. Ou seja, há quem acuse Cafofo de não estar disposto, por questão pessoal relacionada com a sua imagem pública, a atacar Santa Cruz como deve fazer, de uma forma politicamente contundente e com um discurso de "clara mudança que não deixe dúvidas entre os eleitores". Os resultado do PS em Santa Cruz nas eleições de 2019 (vitória nas regionais e nas legislativas nacionais) parece ser a "justificação" para essa aposta eleitoral da linha dura;

- Cafofo tem manifestado a sua frustração aos seus colaboradores mais directos pelo facto de uma eventual chamada de Costa para desempenhar funções de secretário de estado - quiçá das comunidades portuguesas ou adjunto para a administração local - ter sido boicotada por uma campanha com epicentro no próprio PS-Madeira. Inicialmente Cafofo desvalorizou o assunto, pensou tratar-se de mais uma especulação jornalística ou das redes sociais, mas com o tempo percebeu que o que foi referido correspondeu integralmente à realidade e tinha fundamento. A dúvida de Cafofo, segundo o meu informador, tem a ver com o facto dele desconhecer se esse boicote teve a ver com a ideia de o manterem "retido" na política regional, ou se, segunda hipótese, foi "castigado" quer pela derrota nas regionais, quer pelo seu alegado pouco empenho demonstrado na campanha das legislativas.

- Finalmente a questão das autárquicas que para Cafofo, caso seja eleito em Maio, será a prioridade das prioridades. O problema é que a máquina partidária controlada por Avelino Conceição dificilmente aceita ser conivente com qualquer rasteira a Emanuel Câmara se os interesses políticos do actual Presidente não forem salvaguardados. Sem a máquina socialista - estamos a falar de 1.500 a 2000 eleitores - ninguém terá votos no PS-Madeira, nem mesmo Cafofo que nem a máquina socialista no Funchal controla.
Em Janeiro de 2018, recordo, Emanuel Câmara foi eleito presidente do PS Madeira com 57% dos votos, tendo alcançado 877 votos contra 668 votos de Carlos Pereira, ex-presidente dos socialistas madeirenses e que apenas ganhou em Câmara de Lobos e no Porto Santo.
Neste quadro, o futuro líder do PS-Madeira tem que resolver rapidamente a questão da candidatura socialista à Câmara do Funchal. Depois dos resultados das regionais que pulverizaram os pequenos partidos - tudo graças à bipolarização - o PS local não pode deixar a fritar em lume brando Miguel Gouveia, apesar das divergências que já surgiram no seio do partido quanto à sua candidatura. Há quem no PS-Madeira entenda que sem uma coligação, sem a certeza da realidade eleitoral depois das regionais de Setembro, e com o partido a braços com alguns problemas internos que podem acentuar-se com as directas que provavelmente dividirão as bases socialistas, a lógica recomenda uma candidatura politicamente mais forte, surgindo de novo o nome de Carlos Pereira, deputado na Assembleia da República, e que já concorreu no passado contra Miguel Albuquerque e foi derrotado. Acresce que duvido que o actual deputado aceite esse desafio eleitoral até porque os resultados eleitorais do PS-Madeira nas legislativas de Outubro aconteceram a reboque dos bons ventos que sopraram favoráveis ao PS nacional e a Costa tendo ainda beneficiando dos resquícios de um certo empurrão dado nessa altura pelo eleitorado apesar da derrota socialista nas regionais.
Cafofo vai ter que domar o partido internamente na questão da Câmara do Funchal mas ao mesmo tempo vai ter que definir claramente a sua posição em relação a este dossier. Ou apoia Miguel Gouveia, que fez parte da sua equipa e era o seu braço-direito, ou insiste num distanciamento determinado pelo facto do actual autarca funchalense ter resolvido reforçar o seu poder na estrutura camarária, afastando algumas escolhas do "cafofismo". Ponta do Sol e Santa Cruz podem ser outro berbicacho - o primeiro por causa das três derrotas socialistas consecutivas, demonstrativas de que o PSD é que perdeu a autarquia devido a escolhas precipitadas e impostas a partir do Funchal, feitas à margem da opinião das bases do partido, e o segundo porque é preciso o PS-M definir objectivos eleitorais inequívocos, que internamente já foram, assumidos, mas que cabe ao futuro líder do partido clarificar em tempo oportuno - a que se junta o Porto Santo e Porto Moniz e Machico, embora nestes dois últimos casos se prevejam algumas mudanças.
No caso do Funchal referência ao facto de Duarte Caldeira, presidente da Junta de Freguesia de São Martinho, ter garantido publicamente ao JM que não está na corrida à liderança à Câmara Municipal do Funchal (CMF), o que veio aliviar a tensão sobre Miguel Gouveia decorrente de um cenário que repetidamente era apontado como possível mas que pessoalmente nunca acreditei fosse plausível. Caldeira não admitiu que o seu nome estaria a ser falado em alguns ‘corredores’ do PS-Madeira, como alternativa a Miguel Silva Gouveia, nas próximas eleições autárquicas, porque garante que o actual líder da CMF é o “candidato natural do partido” pelo que “não faz sentido pensar-se noutro candidato” (LFM)

Sem comentários: