O caso envolvendo Isabel dos Santos é um fenómeno típico do que é a descaradas hipocrisia da classe política portuguesa e de muitos meios de comunicação social nacionais, incluindo grupos pretensamente "limpos" neste conflito agora surgido com IS, que viveram muito à custa de entendimento, sobretudo publicitários, oriundos das empresas de que ela era accionista de referência. Afinal Isabel dos Santos, a filha preferida do outrora poderoso presidente angolano, não foi sempre uma testa de ferro do pai? Desde quando os negócios dela nunca foram descaradamente protegidos pelo regime angolano? Alguma vez existiam dúvidas de que a fortuna acumulada ao longo dos anos, cerca de 2,5 mil milhões de euros, e que a colocaram no lote das mulheres mais ricas de África e do mundo, era um absurdo quando Angola foi sempre, e continua a ser, um país com muitas desigualdades sociais, com muita pobreza e fome? Mas apesar disso, é factual que ao longo dos anos a classe politica portuguesa não lhe estendeu sempre uma carpete submissa, num lambebotismo vergonhoso, não lhe vendeu empresas falidas ou em vias disso (EFACEC), não lhe vendeu bancos falidos e envolvidos em casos de corrupção e gamanço de colarinho branco (ex-BPN), não viu a banca vender-lhe participações em empresas de referências como a NOS, não conhecia as relações entre a SONAE e os negócios da empresária em Angola, etc, etc?
E agora o que vemos? Toda a gente a jogar borda-fora do barco a caminho de uma tempestade que ninguém sabe como vai terminar fora, muitos até juram que não sabiam de nada do que se passava com a empresária angolana, alguns que beneficiaram com negócios envolvendo IS até são capazes de jurar pela família que nunca ouviram sequer falar do nome dela, etc.
Isabel dos Santos, de repente, virou protagonista mediática pelos piores motivos, cometeu erros desastrosos na gestão da sua imagem, junto dos média, manteve excessivos e desnecessários protagonismos públicos quando o recato e a discrição teriam sido a melhor solução, negando repetidamente o que era a maior evidência, a de que tudo o que ela construiu se ficou a dever ao proteccionismo do poder angolano e à cumplicidade do pai, antigo Presidente de Angola, algo que ela de forma ridícula tenta agora negar ou desvalorizar. Isabel está só, mais só do que sempre esteve, porque tudo o que girava à sua volta fazia-o por interesses, atraídos pelo perfume do dinheiro, pelo lucro, pelo protagonismo público sempre efémero. Por isso foi-lhes fácil, a todos eles, deixar Isabel dos Santos sozinha, sem amigos, sem que ninguém publicamente a defenda em Portugal. Talvez agora, só agora, IS perceba que certas "amizades" não se alimentam como ela fez. E que o dinheiro, enquanto existe e dura, é capaz de tudo, de comprar amizades e solidariedades que rapidamente se desvanecem quando a desgraça bate à porta. Sempre gostava de saber, gostava mesmo, quantos e quais os políticos, governantes ou não, quantos e quais os jornalistas, quantos e quais os proprietários de meios de comunicação social, quantos e quais os comentadores, professores universitários, empresários ou advogados, e quais, quantas e quais as empresas, etc, etc, se relacionaram ao longo dos anos, e como, com Isabel dos Santos ou as suas empresas, e quanto ganharam com tudo isso. Gostava de conhecer essa lista, não apenas os nomes daqueles que trabalham com ela e para ela, mais directamente. Ainda tenho essa esperança, mesmo que admita que algumas "descobertas" com a divulgação de documentos pelo consórcio de jornalistas internacionais de investigação, possam ser filtradas. Delicadamente... (LFM)
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