quarta-feira, janeiro 15, 2020

Nota: crise por causa da saúde? Onde andam os líderes carismáticos e coerentes?

Se há crise no sector da saúde (e cuidado com a especulação levada ao extremo), então há que saber quem provocou e devido a quê, que propósitos animaram certos comportamentos, mesmo antes das eleições regionais de Setembro numa vergonhosa promiscuidade que apenas tinha por propósito a distribuição de lugares e a conquista de poder tentacular no sector. Esta é a verdade, esta é a triste realidade. Se há instabilidade política e institucional no sector da saúde por causa da distribuição de lugares - o que dirão as pessoas a isto? - então há que perceber que imposições terão sido feitas, ou não, que geraram essa previsível situação. A mim não me impressiona nada disto, porque quando há uma coligação política de poder, o entendimento é sempre político e desenvolve-se num certo patamar superior de negociação, que, repito, é sobretudo política.
No caso da Madeira, e no caso da saúde, em meu entender apenas e só por causa de caprichos pessoais, desceu-se a um nível nunca antes imaginado, envolvendo num pretenso acordo político de âmbito regional, cargos que nunca poderiam ser objecto de intervenção política. Por isso, é difícil que resolvam este alegado impasse sem assumirem os erros, sem acabarem de uma vez por todas com as causas de todo este mal-estar. Ninguém pode obrigar, acho eu, profissionais de um sector, seja ele qual for, a aceitar qualquer imposição política para resolver berbicachos (pelos vistos, a teoria agora é mudar a lei para resolver impedimentos legais). Se for essa a ideia, então corremos o risco de maior instabilidade, com o tempo. E tenham todas as cautelas para que estes processos não acabem na justiça, com perdas de mandatos, desnomeações forçadas e devoluções de salários e outros itens complicados. Não seria caso único.
PSD e CDS, por culpa própria, e por terem dado corda a quem não devia ter tido corda - porque sempre foi sectário e tendencioso na abordagem do tema - colhem os frutos do que semearam (mal). E das duas uma: ou há juízo e muito pragmatismo e resolvem rapidamente esta situação para bem dos utentes e do SRS - que não pode ser uma arena para conflitos nojentos e jogos de ambições pessoais ou ajustes de contas de "importados" que por causa das suas frustrações chegaram à política com o propósito da vingança e do achincalhamento público - ou comportam-se como crianças mimadas agravando tudo. É nestes momentos que se procura e precisa de líderes a sério e sérios, carismáticos e não de gente fraca ou que anda na política apenas para deixar o tempo correr, aguentar o poder e usar argumentos conforme o momento e o que mais lhes interessa a cada momento.
Afinal uma crise por causa de uma guerra de nomes?
Lamento que a médica Filomena Gonçalves, minha colega no Liceu, e com quem tive há dias uma excelente e esclarecedora conversa bem alargada, tenha sido atirada para esta arena de suspeição e de polémica desnecessária e evitável, não fosse a desconfiança que determinada "peça" gera, a começar na sua classe profissional, e que tem tanto de CDS como eu tenho de Bloco de Esquerda. Lamento que FG se veja envolvida nisto tudo e seja obrigada a passar por isto. Repito, ela não merece passar pelo que está a passar. Se eu lhe pudesse dar um conselho amigo, seria o de prescindir, de uma vez por todas, de qualquer nomeação prometida. Caso isso se confirme, ela sabe que nunca será uma nomeação pacífica, porque dificilmente deixará de ter o selo da imposição. Acresce que trará, inevitavelmente, para a arena a Ordem dos Médicos, cujo Bastonário numa recente reunião no Hospital Nélio Mendonça - e que não creio tenha sido noticiada - foi agreste com aquela médica madeirense, mesmo sabendo que ela não estava presente, nem teve possibilidades de responder e se defender. E mais, aos olhos da opinião pública a pressão sobre FG será mais do que muita. Caso queiram, haverá certamente soluções que permitam envolver FG na política de saúde na RAM, na lógica do CDS. Imaginação...
Acresce que, neste puzzle demasiado pessoalizado mas complicado na mesma, sei que há pessoas que não podem ter um jogo duplo que depois disfarçam ou tentam esconder. Porque elas têm responsabilidade políticas nesta conjuntura, algo que não se passa comigo que não passo de um mero opinador que procura contudo nunca inventar e saber todos os elementos essenciais a emissão de uma opinião.
Confesso que sempre olhei para esta coligação com distanciamento e desconfiança, não por ter nascido mas devido ao processo negocial adoptado e sobretudo ao que se passou na saúde, mesmo antes do 22 de Setembro, com uma lamentável partilha de lugares e de nomes demonstrativos do descaramento corporativista a que se chegou. Entendo e mantenho essa lógica, ser esta a única solução para que dois partidos - PSD e CDS - situados numa área ideológica próxima, encontrassem plataformas de entendimento e sejam capazes de esmagar todas e quaisquer ameaças que subsistem e que vão subsistir se não houver a coragem de neutralizar tudo o que represente ameaça e conspurque a saúde madeirense que precisa de competência, profissionais, meios, recursos, etc, e não de uma mera visão de partilha de lugares e de criação de perigosos modelos de poder pessoal tentacular.
Afinal não é mais importante para o CDS saber quando vai a nova secretaria regional do mar ter instalações definitivas, condignas, para que tudo funcionar em pleno? Não é importante para o CDS perceber que poderia ter sido evitada aquela cena com Lino Abreu, que acabou por causar uma espécie de enxovalho público desnecessário do ex-deputado e dirigente do CDS, onde não faltaram desmentidos que desmentem o que afinal - é lugar comum - terá sido uma realidade e não uma invenção jornalística, e que tudo isso poderia ter sido evitado se a inteligência e a habilidade política marcassem presença em vez de uma postura a roçar o absurdo?
Acho que será verdadeiramente criminoso que PSD e CDS não sejam capazes de resolver estes "amendoins" quando a realidade política, económica, social e orçamental regional exige responsabilidade, competências, determinação, afirmação de liderança, seriedade e carisma político. Acho que uma crise destas e por causa de lugares será fatal para os partidos em causa, perigosamente fatal. Pensem nisso e sejam eficazes e coerentes (LFM)

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