sexta-feira, janeiro 10, 2020

Boeing sob pressão, com terceiro acidente mortal em menos de um ano e meio

A Boeing está em maré de azar – registou esta madrugada o terceiro acidente mortal em menos de um ano e meio. Aconteceu esta madrugada, pouco depois de um Boeing 737 da Ukraine International Airlines, ter descolado em Teerão rumo a Kiev. As causas estão ainda por apurar. E embora a embaixada ucraniana no Irão tenha apontado, numa primeira comunicação, para falhas no motor do avião, nada garante que assim tenha sido, e a própria acabou por recuar. A Boeing, cujas ações na Bolsa de Nova Iorque abriram em queda, ainda não se pronunciou. As autoridades iranianas avançaram entretanto que não iriam entregar as caixas negras aos EUA. A Ucrânia pede para que não se especule. Há a lamentar mais de 170 vítimas, a maioria iraniana e canadiana. Vive-se um período negro na companhia norte-americana Boeing, que no último ano tem estado sob forte pressão por causa de dois acidentes mortais com o modelo 737 Max 8 em outubro de 2018 e abril de 2019 – tragédias que vitimaram 436 pessoas e que obrigaram a companhia acabou a retirar este modelo do mercado. O acidente desta quarta-feira, em Teerão, não envolve um 737 Max 8, mas um modelo anterior – o 737-800 – que não tem revelado problemas.

Não obstante, este é mais um fator de stresse sobre a companhia norte-americana, cujo novo presidente executivo, David Longridge, tomou posse esta segunda-feira. As ações da Boieng na Bolsa de Nova Iorque abriram em queda e já estiveram a perder 1,70%, mas entretanto têm estado a recuperar, embora continuem em terreno negativo, a meio da sessão. As causas do acidente são ainda desconhecidas. E dado o contexto em que este aconteceu - horas depois do Irão atacar uma base norte-americana no Iraque, em retaliação pelo assassinato do general Ghassem Suleimane - a prudência deverá ser grande.  O acidente provocou 176 vítimas, a maioria são iranianas e canadianas.
Não à especulação
O governo Ucraniano já veio pedir para que não se especule. O avião, um Boeing 737-800, foi entregue em 2016 à Ukraine International Airlines, e tinha tido uma revisão técnica, a 6 de janeiro. Ou seja, era uma aeronave nova e não tinha sido detetado qualquer problema na última revisão, feita este ano. E embora a embaixada ucraniana no Irão tenha apontado, de imediato, para falhas no motor do avião, acabou por omiti-las numa segunda intervenção.
A Boeing ainda não se pronunciou. Entretanto, a autoridade de aviação civil iraniana já veio dizer que não vai entregar aos Estados Unidos da América as duas caixas negras do avião acidentado. “Não vamos entregar as caixas negras ao fabricante (Boeing) e aos americanos”, afirmou o chefe da Organização da Aviação Civil iraniana, Ali Abedzadeh, citado pela agência de notícias Mehr. E acrescentou. “Ainda não está claro em que país as caixas negras irão para investigação”, “A investigação deste acidente estará sob a responsabilidade do Irão, mas os ucranianos poderão participar”.
Vai ser agora preciso esperar para apurar a responsabilidade que a Boeing terá neste acidente, dizem várias pessoas do sector da aviação ouvidas pelo Expresso, sendo que nenhuma quer ser citada, e todas sublinham ser demasiado cedo para especular sobre as causas. Certo que a companhia norte-americana está sob forte pressão e que atrai todas as atenções já que a generalidade das companhias aéreas mundiais voam com aeronaves da Boeing. A TAP não tem aviões Boeing, o último voou em 2011.
737 começaram a voar nos anos 60
Os Boeing 737 voaram pela primeira vez em 1967 e tornaram-se dos aviões mais vendidos de sempre na história da aviação. O modelo Max, o que entretanto foi retirado do mercado, foi anunciado em 2011, e apresentado como um avião com motores mais eficientes a nível de combustível e com capacidade de voar a uma distância maior - a que se acrescentava custos operacionais mais baixos, mas semelhanças suficientes para que os pilotos pudessem trocar com os modelos anteriores. Surgiu numa altura de alguma indefinição estratégica por parte da Boeing, que tinha hesitado entre fazer um novo avião e atualizar o 737. O facto de a Airbus se ter antecipado, lançando o A320 Neo, levou algumas companhias relevantes, como a American Airlines, a trocar a Boeing pela Airbus. Uma situação que acabou por pressionar os norte-americanos a avançar com o Boeing Max. O novo modelo não teve grandes alterações, mas o motor é maior, o que poderá, tem-se admitido, ter estado na origem dos problemas que levaram aos dois acidentes.
O primeiro teste de voo com o 737 Max teve lugar a 29 de janeiro de 2016. O avião entrou ao serviço em 2017 e o primeiro acidente aconteceu a 29 de outubro desse ano, num avião que saiu de Jacarta e que vitimou 189 pessoas.
Nessa data tinham sido entregues 230 aviões 737 Max a companhias aéreas. A 10 de março de 2019 há novo acidente, desta vez na Etiópia, vitimando 157 pessoas. Nesse dia e nos três dias seguintes as autoridades reguladoras da aviação, um pouco por todo o mundo, mandaram suspender a utilização do 737 Max. Falhas no sistema de software foram apontadas como responsáveis pelos acidentes. A empresa garantiu que estava a resolver os problemas, mas perante a pressão anunciou a paragem da produção deste modelo a partir de 2019. E a 23 de dezembro Dennis Muilenburg foi despedido do cargo de presidente executivo da companhia de aviação. A fundação da Boeing remonta a 1910, quando o norte-americano William E. Boeing, nascido a 1 de outubro de 1881, comprou o estaleiro Heath em Seattle, que se tornou mais tarde a primeira fábrica de aviação (Expresso, texto dos jornalistas Anabela Campos e Pedro Lima)

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