segunda-feira, novembro 24, 2008

PSD: João Jardim com muitos recados no "Madeira Livre"

O Presidente do PPD/PSD da Madeira escreve na próxima edição do boletim social-democrata - "Madeira Livre" - que esta semana é distribuído na Região um texto com, muitas críticas e algumas ideias novas para reflexão do partido. O "Ultras" antecipa-se:
"Quase trinta e cinco anos de vida do Partido Social-Democrata da Madeira deram-lhe uma identidade muito própria, ao ponto de só formalmente poder ser confundido com o Partido ao nível nacional.
Tal coincide com o facto de hoje, e dados os percursos da Madeira após a Autonomia Política conquistada, existir uma caracterização específica, particular, da sociedade madeirense em termos civilizacionais – aquisição de conhecimentos, comportamentos, ideias e valores, funcionamento social, adaptação às novas condições tecnológicas e de conforto, hábitos, etc. – que não é igual à das duas outras parcelas de Portugal, os Açores e o Continente, o que resulta das diferentes evoluções sociológicas nos três territórios.
Como assim, nos diferenciamos do Rectângulo em termos de vida e episódios partidários, onde não se verificaram constâncias de poder porque à “fé” dos eleitorados seguiu-se sempre a desilusão. Porém, na Madeira, o Partido Social Democrata entendeu e assimilou o conteúdo de “mudança revolucionária” que um fenómeno novo como a Autonomia Política devia e podia representar na nossa sociedade.
Entendeu que Democracia e Autonomia obrigavam necessariamente a alterações essenciais, a transformações radicais nos planos social, económico e educativo-cultural, processo decisivo para que o Povo Madeirense aderisse e interiorizasse o novo modelo de institucionalização político-administrativa.
O PSD da Madeira entendeu também que se tais objectivos de mudança fossem concretizados, pese embora em Política haja sempre lacunas e imperfeições, a maioria do Povo Madeirense consolidaria democraticamente o caminho traçado e acompanharia o Partido em estabilidade de opção.
Neste quadro, tendo sobretudo como grandes obstáculos:
- o centralismo de séculos do Estado português;
- os poucos meios materiais do arquipélago (a exigir muita imaginação);
- um certo individualismo que marca normalmente as sociedades insularizadas; é evidente que o modelo partidário do PSD/Madeira formalmente não poderia coincidir com o dos Partidos continentais, nem igual à prática, estratégica ou táctica, nem à acção corrente.
De tal ordem, o desafio posto à Madeira e ao Porto Santo, que ou o PSD/Madeira se embrenhava, organizava e confundia com um importante volume de massas populares madeirenses e, assim firme, avançava para o arrojo das mudanças que coincidiam e se identificavam com o querer colectivo, em dinâmica permanente e dialéctica irrecusável; ou, então, não haveria força para concretizar um projecto cujo arrojo não pactua com liturgias político-partidárias rotineiras de países ricos, liturgias porém distantes, não osmoseadas com as respectivas massas populares.
Tal como nalgumas outras Democracias, o Partido Social Democrata da Madeira, diferentemente dos Partidos portugueses, assumiu-se como organização popular de massas, liderando as motivações legítimas destas e, fundamental, concretizando-as. Fazendo o Povo se sentir decisor e participante por dentro, no que se for conseguindo.
Em termos de Ciência Política, o caso PSD/Madeira define-se como um Partido-Vanguarda. Um Partido que se assume como VANGUARDA na grande movimentação de massas populares, no caminho das transformações desejadas.
Tal como noutros casos na História Política mundial, assim o Partido Social Democrata da Madeira demonstra ser possível, em Democracia, existir Partidos-Vanguarda, fora dos modelos marxistas ou de extrema-direita. Nestes dois últimos modelos, aliás, a “vanguarda”, ao contrário do caso madeirense, é “iluminada”. Significa que é imposta de cima sobre as Bases. São bandos de déspotas que impõem às massas populares os caminhos a seguir, e não as Bases a impulsionar a dinâmica política. São as cúpulas que, por métodos totalitários, incluso repressão policial, impõem, a seu modo, qual o papel que as Bases podem desempenhar. No caso madeirense, um factor externo ao Partido Social Democrata, alheio à vontade deste, veio facilitar-lhe as suas características.
A Oposição.
Num quadro como o da Madeira, em que há que combater o centralismo de séculos do Estado português, bem como o atraso sócio-económico-cultural, o facto de o maior Partido da Oposição local – o socialista – se ter assumido sempre como o “partido de Lisboa”, o guardião e zelador dos interesses do Estado central na Madeira, tal facilitou ao PSD a mobilização autonómica colectiva. Como também facilitou o PSD/Madeira pela rejeição que estabeleceu na população, a atitude constante, sistemática, da Oposição, num “bota-abaixo” cego contra tudo o que se fez e faz, e que tinha e tem de se fazer.
No meu entender, com as suas características de Partido-Vanguarda, o sucesso futuro do Partido Social Democrata da Madeira assenta nos seguintes três postulados:
- a continuidade da cumplicidade afectiva com as massas populares;
- o bom-senso desapaixonado quando das inevitáveis mudanças internas;
- a coragem para os passos futuros, ainda que não imediatos, demonstrados necessários.
Um Partido com a índole que o PSD/Madeira ganhou e cimentou em trinta e cinco anos nunca pode deixar de permanecer um “Partido de massas populares”, assente nas opções que as suas Bases vão indiciando ao longo dos tempos. Nunca se pode deixar transformar num “Partido de Interesses”, como são os do Rectângulo, apesar da sua longevidade legítima e democrática de poder. Nunca pode consentir que as suas decisões sejam apenas expressão da vontade de elites ou grupos preponderantes no seu seio, mas não identificadas com o querer e a vontade das Bases que sempre alavancaram a existência e os resultados do Partido.
Outra questão.

As mudanças internas são uma inevitabilidade da vida. Sem sentimentalismos, devem ser operadas nos momentos mais oportunos, sobretudo quando a Oposição é uma desgraça, não tem credibilidade, cultural e socialmente é de uma mediocridade escandalosa. As substituições, incluso a das lideranças, não se operam emocionalmente, com paixões, afectos ou ligações pessoais a este ou àquele. Operam-se com bom-senso e em dois momentos. Primeiro, a noção de a boa escolha ser aquela de melhor aceitação pelo Povo Madeirense, e não apenas, sequer, só pelo universo das Bases partidárias. Segundo, uma vez feita a escolha, o desaparecimento voluntário, por parte de cada um, de qualquer aposta pessoal e de qualquer anterior solidariedade de facção, para empenho militante, tudo-por-tudo, à volta do líder designado.
Aliás, em minha opinião pessoal, o teste mais difícil que o PSD/Madeira terá de passar não é propriamente o da eleição do futuro líder e o resultado das eleições a que logo se apresentará. Ninguém é suicida ou autofágico, pelo que se escolherá bem e seguir-se-á um cerrar de fileiras, “um por todos, todos por um”. O teste de risco maior reside no futuro líder, uma vez na governação, continuar, ou não, a agradar e a mobilizar o Povo Madeirense. Ainda mais esta questão. O Partido Social Democrata da Madeira tem de manter e incentivar a reflexão sobre o futuro não imediato, incluso a articulação com o PSD nacional. Para que um dia, todos tenham as convicções sólidas e fundamentadas, bem como a coragem, susceptíveis das grandes decisões que possam colocar-se ao Povo
Madeirense. Colocar, em termos do primado do Bem Comum e da prioridade das prioridades que são os Direitos, Liberdades e Garantias da Pessoa Humana, na Região Autónoma".

Sem comentários: