sábado, junho 28, 2025

Opinião: O que se passa na candidatura do Funchal?

As pessoas precisam de entender que não se podem misturar política com questões pessoais. Posso garantir, porque o conheço, que José Luis Nunes é uma pessoa séria mesmo que admita que politicamente não tem muita experiência e que na gestão autárquica poderia sentir dificuldades, por desconhecimento das exigências decorrentes dessa tarefa, dificuldades acrescidas caso não contasse com a maioria absoluta dos mandatos.

Assumindo que desconheço todos os contornos do que se tem, passado nos bastidores deste processo, mas reunindo algumas informações obtidas, concluo que José Luís Nunes é o menos culpado desta sucessão de trapalhadas, tal como com Miguel Albuquerque.

Sei que há sectores do PSD-M que estão irritados e falam em descarada manipulação - a expressão não é minha – e de uma estranha tentativa de controlo ou condicionamento do processo de decisão social-democrata com imposição de nomes que nunca foram considerados na candidatura na capital.

Sei que há sectores no PSD-M - e assumo o que vou dizer – para os quais é estranha uma certa forma de obsessão controladora os quais já perceberem que os alvos dessa crítica interna generalizada não desistem dessa postura, mesmo que isso implique arrastar o PSD-Madeira para uma derrota eleitoral no Funchal ou para a perda da maioria absoluta dos eleitos, que são 11 no caso da capital madeirense.

José Luis Nunes, perante este quadro e incomodado com alguma (estranha) inércia por parte de quem, neste processo de decisão da candidatura funchalense, tem poder decisório, resolveu bater com a porta e não se sujeitar a ser um mero actor num filme que não era o dele.

Acredito que ninguém, seja quem for, se convidado para exercer funções, públicas ou privadas, aceite fazê-lo, abdicando de liderar uma equipa de colaboradores que não são os seus e nos quais tenha confiança pessoal. Se se trata de uma candidatura ainda mais pertinente se torna o assunto, mesmo que se possa admitir a eventual negociação, no seio de um partido, quanto à inclusão de algum nome com o qual o candidato não se identifique plenamente. 

Tendo como horizonte 6 em 11 mandatos, parece-me errado e altamente perigoso que uma candidatura, seja ela qual for, e no caso do PSD-Madeira que entretanto passou a conhecer os candidatos do JPP e do PSD,  não inclua pelo menos um protagonista político experimentado, com currículo limpo, conhecido social e politicamente, capaz de gerir pontes e de dialogar com a oposição que não podemos excluir possa reunir a maioria dos mandatos, mesmo que  nenhum partido da oposição vença as eleições nas urnas.

Não excluo definitivamente a candidatura de José Luis Nunes, mas obviamente que, chegados aqui, há muita pedra  para ser partida, decisões para serem anuladas e pragmatismo, muito pragmatismo, seriedade e respeito pelos cidadãos a ser colocado em cima da mesa. Um encontro, sem "vuvuzelas" entre Nunes e Albuquerque, que parece ser  possível este fim-de-semana, pode clarificar tudo, porque é importante que o PSD-Madeira retire rapidamente este tema da agenda mediática e partidária, para gaudio da oposição que parecer sentada de sofá espera de novos episódios de uma estranha novela que a seu tempo precisa e será esclarecida em todos os seus contornos.

Acredito que a lista de candidatos social-democratas, caso José Luis Nunes não avance como parece que também pode acontecer, seja obrigatoriamente repensada e refeita de alto abaixo porque há nomes que numa espécie de versão inicial da candidatura na capital não constavam dessa relação que foi sendo estranhamente divulgada a conta-gotas na comunicação social. Ninguém pode sair ganhador de um processo em que claramente o PSD-M corre o risco de ser o grande perdedor. O que é estranho porque tudo isto coloca em cima da mesa a percepção de uma certa “libertinagem” no processo de decisão social-democrata autárquico no Funchal. E pior do que isso, alimenta uma especulação que se vai generalizando nos bastidores da política, e não só, especulação que garantem ser pouco abonatória para todos os (as) protagonistas.

Solução? Se nada fizerem, direi, citando a malta nova, isto “vai dar erro” e vai fragilizar o PSD-M sem que tenha culpa, de facto, com o que alguns andam a fazer, nomeadamente naquilo que alguns designam de uma espécie de “corredor paralelo” de escolha e imposição de nomes. Perante a opção por José Luis Nunes, o PSD-Madeira, e Miguel Albuquerque só podem acalmar as hostes es regressarem à versão original da lista pensada inicialmente, e a começar pelo nº 2... Doa a quem doer! E sem permitirem o envolvimento de “estranhos” num assunto que não lhes diz respeito.

Historiando

Recuando às eleições de 26 de Setembro de 2021, lembro os resultados no Funchal:

  •      PSD-CDS, 26.841 votos, 47%, 6 mandatos
  •      Coligação PS, Bloco, PAN, MPT e PDR, 22.694 votos, 39,7%, 5 mandatos
  •       JPP, 974 votos, 1,7%, sem eleitos
  •       Chega, 1.476 votos, 2,6%, sem eleitos
  •      Votantes, 57.135 dos 106.357 eleitores inscritos, 53,7% de participação

Perante estes resultados, foram eleitos:

  • Pedro Calado - Presidente, PSD-CDS
  • Cristina Pedra, PSD-CDS
  • Bruno Pereira, PSD-CDS
  • João Rodrigues, PSD-CDS
  • Margarida Pocinho, PSD-CDS
  •  Nádia Coelho, PSD-CDS
  • Micaela Camacho, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  • Ruben Abreu, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  • Vítor Jesus, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  • Miguel Silva Gouveia, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  • Claudia Ferreira, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR

(fonte: Secretaria-Geral da Administração Interna)

Neste momento, consultando o site da CMF, integram o executivo funchalense:

  • Cristina Pedra, PSD-CDS, Presidente depois da renúncia de Pedro Calado ao mandato autárquico;
  • Bruno Pereira, PSD-CDS
  • João Rodrigues, PSD-CDS
  • Nádia Coelho, PSD-CDS
  • Helena Leal, PSD-CDS, vereadora em vez de Margarida Pocinho, mas recordo adiante os contornos deste processo
  • Ana Bracamonte, PSD-CDS, passou a integrar o executivo depois da renúncia do mandato de Pedro Calado

Vereadores da oposição sem pelouros atribuídos:

  •       Miguel Gouveia, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  •      Micaela Camacho, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  •      Ruben Abreu, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  •      Vítor Jesus, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR
  •       Claudia Ferreira, PS, Bloco, PAN, MPT e PDR

O CDS perdeu o vereador

Sobre o facto do CDS não estar representado na edilidade madeirense, apesar de ter concorrido uma coligação PSD-CDS, recordo o jornalista Rui Marote no Funchal Notícias, em Junho de 2022, sobre o que se passou com a suspensão do mandato e depois renúncia do mesmo por parte de Margarida Pocinho:

“(…) A vereadora do CDS foi eleita para o executivo na lista conjunta da “Funchal à Frente”. Margarida Pocinho, em finais de Março, pediu a suspensão do mandato por três meses, por motivos de saúde. Foi substituída durante duas semanas por Filipe Spínola, o autarca seguinte na lista. Abdicou de um cargo que tinha na Junta de Freguesia de São Martinho, uma vez que a lei não permite acumular dois cargos autárquicos. Deixou, portanto, o cargo na Junta para substituir Pocinho na CMF.

No entanto, a prestação de Filipe Spínola não agradou a Pedro Calado, pelo que o CDS efectuou nova substituição no lugar de vereador: Filipe Spínola voltou para o seu cargo anterior na Junta de São Martinho e o CDS optou por colocar na CMF o nome a seguir na lista: Isabel Costa secretária de Teófilo Cunha, o governante com a tutela das Pescas (na altura dos factos). Porém, Isabel Costa tinha concorrido à direcção de Serviços do Mar e estava em período de estágio durante seis meses. Quando estava a meio do estágio, suspendeu-o para ocupar provisoriamente o lugar de Margarida Pocinho.

O Funchal Notícias sabe que Isabel Costa comunicou à direcção de Serviços do Mar que regressaria a 3 de Agosto. Tempo suficiente para Pedro Calado preparar uma nova vereadora da cor laranja, Helena Leal. O CDS não esgotou os seus suplentes: restava um membro da Juventude Popular, que foi “aliciado” com um cargo em serviços governamentais. No dia em que Isabel Costa assinou o termo de posse, já tinha a “sentença” dada, ou seja, o seu mandato terminava a 31 de Julho”.

Finalmente uma curiosa coincidência: todos os seis eleitos em 2021 pela coligação PSD-CDS não vão continuar. Este processo autárquico, de Outubro de 2025, levou agora ao afastamento dos últimos quatro sobreviventes eleitos originalmente há quatro anos: Cristina Pedra, Bruno Pereira, João Rodrigues e Nádia Coelho (LFM)

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