segunda-feira, agosto 30, 2021

Sondagem: Medina leva vantagem sobre Moedas no potencial de voto



Autarca socialista soma 67% entre os lisboetas com a certeza na escolha e os que "poderiam" votar. Social-democrata fica-se pelos 47%. João Ferreira (CDU) em terceiro com 35%, seguido de Beatriz Gomes Dias (BE), com 28%. Fernando Medina está em vantagem na corrida à Câmara de Lisboa. Quando falta um mês para as eleições, tem um potencial de voto de 67% e está à frente de Carlos Moedas, que marca 47%, de acordo com uma sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF. O socialista tem também vantagem sobre o social-democrata entre os que já têm a certeza do voto, bem como na taxa de rejeição. Mais atrás seguem João Ferreira, da CDU (35%), e Beatriz Gomes Dias, do BE (28%). Será possível perceber até que ponto o potencial se materializa em intenções de voto quando for publicada, na próxima segunda-feira, a segunda parte da sondagem.

É a segunda vez que Medina encabeça a lista do PS a Lisboa (embora seja presidente desde 2015, na sequência da renúncia de António Costa). E a sondagem, cujo trabalho de campo foi efetuado entre os dias 14 e 21 de agosto, aponta para uma repetição da vitória de 2017. Mesmo que a polémica sobre o envio de dados de manifestantes para a embaixada da Rússia tenha causado mossa (59% dos lisboetas admitem que o caso teve um impacto negativo), a avaliação ao último mandato tem um saldo positivo: 42% estão satisfeitos, 23% dão negativa. Já a gestão da pandemia merece mais elogios: quase dois terços (63%) dão nota positiva.

MEDINA SEMPRE NA FRENTE

A vantagem do atual presidente sobre Carlos Moedas, o ex-comissário europeu que lidera uma coligação de centro-direita, é evidente em todos os parâmetros. No potencial de voto (a soma dos que já têm a certeza do voto e dos que "poderiam" votar), Medina tem 20 pontos de vantagem sobre o social-democrata. Se isolarmos os que têm a certeza do voto, são 14 pontos de vantagem. E até na taxa de rejeição (os que nunca votariam num determinado candidato) está mais bem colocado, com menos 10 pontos do que Moedas.

No terceiro lugar deste ranking de voto potencial (no fundo, o alcance máximo a que um candidato poderia aspirar nesta altura, se todos os simpatizantes se transformassem em eleitores) está o comunista João Ferreira, com sete pontos de vantagem sobre a bloquista Beatriz Gomes Dias. No entanto, e considerando apenas os votos "garantidos", um escasso ponto separa CDU e BE. Ferreira também fica a perder na taxa de rejeição, mas tem maior notoriedade (ainda há 23% de lisboetas que não conhecem a candidata bloquista).

RECORDE DE REJEIÇÃO AO CHEGA

No patamar seguinte, e rigorosamente empatados, surgem, com 21% de potencial de voto, os candidatos do Iniciativa Liberal, Bruno Horta Soares, e do PAN, Manuela Gonzaga. São também estes os candidatos com mais problemas de notoriedade (27% dos inquiridos não os conhecem). Pior do que isso, a sua taxa de rejeição já é muito elevada: mais de metade dos lisboetas dizem que nunca votariam em qualquer um deles.

Ainda assim, e no que diz respeito a taxas de rejeição, ninguém bate o candidato do Chega: 77% dos inquiridos nunca votariam em Nuno Graciano. Como a esse dado acresce que 9% não o conhecem, a sua margem de voto potencial é nesta altura a mais estreita: 14%.

RUSSIAGATE COM IMPACTO NEGATIVO

Foi uma das maiores polémicas dos últimos meses: a Câmara de Lisboa enviou para a embaixada da Rússia os dados pessoais dos organizadores de uma manifestação contra Putin. 82% dos lisboetas diz estar a par da situação. Pior do que isso, no que diz respeito a Fernando Medina, são 59% os que admitem que o caso teve impacto negativo na sua avaliação à gestão do autarca socialista (em particular os que vivem na Penha de França/Arroios, os mais jovens, e as duas classes sociais mais altas).

Também 36% dos que se inclinam por votar no PS admitem o mal-estar. Ainda assim, pouco mais de um terço (35%) dos cidadãos afirma que o "Russiagate" não teve qualquer impacto na sua avaliação ao presidente (com destaque para quem vive em Marvila/Beato, os que têm 65 ou mais anos e os mais pobres). Há 57% de potenciais eleitores socialistas que também não dão qualquer valor à polémica.

Análise candidato a candidato

Fernando Medina, PS/Livre

A análise aos diferentes segmentos da amostra (freguesias, género, grupos etários, classes sociais e preferências eleitorais) permite perceber melhor algumas das forças e das fraquezas dos diferentes candidatos. No caso de Fernando Medina, quando se detalha os resultados ao nível do território (a sondagem agrupa as 24 freguesias em dez grupos geográficos, para se conseguir uma dimensão estatística mais significativa), o melhor resultado no potencial de voto (os que votam "de certeza" e os que "poderiam" votar) está no conjunto Marvila/Beato (86%), enquanto a maior taxa de rejeição (os que nunca votariam no candidato) aponta para Santa Clara/Lumiar (39%). No que diz respeito às idades, o autarca socialista (que concorre em coligação com o Livre) está acima da média no voto potencial entre os mais jovens e os mais velhos, enquanto os que mais o rejeitam são os que têm 50 a 64 anos (36%). Outra evidência é que, quanto mais pobre o eleitor, maior é o potencial de voto (80% do fundo da escala); e quanto mais rico, maior a rejeição (chega aos 34% no topo). O atual presidente segura os votos socialistas de 2017 (89%), mas também tem uma boa fatia de simpatizantes entre os que votaram no PSD (36%) e no CDS (25%) há quatro anos.

Carlos Moedas, PSD/CDS/PPM/MPT/Aliança

O antigo secretário de Estado do Governo de Passos Coelho, antigo comissário europeu e, mais recentemente, administrador da Gulbenkian, tem o potencial de voto mais elevado (55%) nos grupos que incluem Estrela/Campo de Ourique e Santa Clara/Lumiar (precisamente onde Medina tem as maiores taxas de rejeição). De novo em espelho com o socialista, as maiores taxas de rejeição do social-democrata são em Marvila/Beato, onde é mais elevado o potencial de Medina. Também nas classes sociais, a situação de Moedas é a inversa do principal rival: quanto mais rico o lisboeta, maior é o seu potencial de voto (chega aos 61% no topo da escala); e quanto mais pobre, maior a rejeição (67% no fundo). No caso dos grupos etários, Moedas também tem um resultado linear: quanto mais jovem o eleitor, mais simpatizantes angaria (57% de voto potencial nos 18 a 34 anos); quanto mais velho, maior é a rejeição (51% nos que têm 65 ou mais anos). O líder da coligação de centro-direita à capital é um dos que revela algum desequilíbrio de género: vale mais seis pontos de voto potencial entre os homens, talvez porque haja mais mulheres que não o conhecem (10 pontos a mais que no género masculino). Finalmente, Moedas revela-se eficaz a atrair quem votou no PSD em 2017 (91%), e um pouco menos no CDS (80%). Mas também tem simpatias nos que foram eleitores socialistas (35%).

João Ferreira, CDU

O antigo eurodeputado europeu e recente candidato à presidência da República tem os seus melhores resultados no grupo de freguesias de Santa Maria Maior/Misericórdia/Santo António/S. Vicente (41% de voto potencial); mas uma elevada taxa de rejeição em Alvalade/Avenidas Novas/Areeiro (63%). Quando o critério de análise é a idade, está melhor nos dois escalões mais jovens (sempre a rondar os 40 pontos no voto potencial) e pior nos dois mais velhos (a rondar os 60 pontos na rejeição). Curiosamente, o comunista tem melhor imagem entre as duas classes sociais mais elevadas e é mais rejeitado na que inclui os mais pobres (58%). A situação relativamente ao género é praticamente igual à de Moedas. No que diz respeito ao voto de 2017, consegue a simpatia de cerca de um terço do eleitorado do PS e dos que votaram em Assunção Cristas, do CDS.

Beatriz Gomes Dias, BE

Senegalesa de nascimento, portuguesa de pleno direito, a deputada do Bloco de Esquerda consegue os seus melhores resultados, ao nível da geografia citadina, nos grupos de freguesias do Parque das Nações/Olivais e de Alcântara/Ajuda/Belém (33% de voto potencial em ambos os casos); enquanto a maior rejeição se regista na Estrela/Campo de Ourique (63% nunca votariam na candidata). A exemplo de Moedas, quanto mais novo o eleitor, melhor o resultado do voto potencial (45% nos 18 aos 34 anos), com a pior taxa de rejeição a acontecer nos 50 a 64 anos (65%). Tem também um problema de notoriedade entre as mulheres (29% não a conhecem, mais 13 pontos que nos homens) e, no caso das classes sociais, a única que se destaca é a dos mais pobres, por ser aquela em que tem menor voto potencial (13%) e maior taxa de rejeição (59%). Nas três restantes fica sempre muito próximo da sua média geral. Relativamente à forma como os lisboetas votaram em 2017, o melhor que consegue é um voto potencial de 22% no PS (a sondagem só destaca os segmentos do PS, PSD e CDS, por uma questão de dimensão da amostra).

Bruno Horta Soares, Iniciativa Liberal

O candidato que os liberais escolheram para a corrida à Câmara de Lisboa tem os seus melhores resultados, em termos geográficos, nos grupos de freguesias de Alvalade/Avenidas Novas/Areeiro, Benfica/Carnide e Santa Maria Maior/Misericórdia/Santo António/S. Vicente (27% de potencial de voto nos três casos), enquanto a maior fragilidade se sente em Alcântara/Ajuda/Belém (58% de taxa de rejeição). A exemplo de outros candidatos, há um desequilíbrio de género (mais 10 pontos no potencial de voto masculino), provavelmente devido ao maior desconhecimento do candidato entre as mulheres (mais 11 pontos). Quanto mais jovem o lisboeta, maior é a probabilidade de apoio (40% nos 18 aos 34 anos), com as taxas de rejeição a serem mais elevadas nos dois escalões mais velhos (68% nos 50 a 64 anos). Como é habitual nos liberais, quanto mais elevada a classe social, maior é o apoio. No que diz respeito ao voto de 2017, tem um significativo potencial entre quem escolheu o CDS (46%) e uma taxa de rejeição mais elevada entre os socialistas (65%).

Manuela Gonzaga, PAN

Teve uma candidatura falhada às eleições presidenciais de 2016 (não conseguiu reunir o número necessário de assinaturas) e é agora candidata pelo partido animalista e ambientalista à Câmara de Lisboa (há quatro anos, a cabeça de lista foi uma quase desconhecida Inês Sousa Real, agora líder do partido). O seu potencial de voto é maior nas freguesias de Alvalade/Avenidas Novas/Areeiro e Alcântara/Ajuda/Belém (23%); e a rejeição é mais acentuada em Benfica/Carnide e Santa Maria Maior/Misericórdia/Santo António/S. Vicente (56%). Quanto mais alto na escala social está o eleitor, melhores são as perspetivas de apoio (vai dos 2% aos 25% nos quatro escalões), e, inversamente, quanto mais pobre, maior a rejeição (dos 48% aos 69%). A leitura é igualmente linear se a análise incidir sobre as faixas etárias: quanto mais novo o lisboeta, melhor é o voto potencial (dos 8% aos 37%), enquanto a rejeição é maior nos dois escalões mais velhos (quase nos 70 pontos). No que diz respeito ao voto passado, tem a simpatia de quase um terço dos que votaram em Cristas (CDS) em 2017.

Nuno Graciano, Chega

A antiga figura televisiva que os radicais de Direita escolheram para disputar a Câmara de Lisboa tem a maior taxa de rejeição de todos os candidatos a nível geral (77%). Onde a situação é pior é nas freguesias da Estrela/Campo de Ourique (85%). Ao contrário, o maior potencial de voto é em Santa Clara/Lumiar e Benfica/Carnide (17%). No que diz respeito às faixas etárias, a situação é tanto melhor, quanto mais jovens os eleitores (vai dos 6% a 23% no voto potencial), com a rejeição a bater recordes nos que têm 50 a 64 anos (87%). Como é habitual no Chega, há um maior apoio entre os homens (neste caso não se justifica pelo desconhecimento feminino). Nas classes sociais, o melhor resultado está no terceiro de quatro escalões (20%) e a maior percentagem de críticos logo a seguir, no quarto e último escalão (85%). Relativamente ao voto de 2017, é entre os sociais-democratas que recolhe maior simpatia (26% de voto potencial) e é entre os socialistas que a rejeição se acentua (85%) (Texto do jornalista Rafael Barbosa, Jornal de Notícias)

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