domingo, julho 05, 2020

Marcelo à (re)conquista da direita

O Presidente da República convidou para almoçar este sábado, na Cidadela, em Cascais, opinion makers de direita, entre eles José Manuel Fernandes e Sebastião Bugalho, do “Observador”, no âmbito de uma série de contactos que decidiu fazer com individualidades desta área para ouvir o que os preocupa na análise ao país. Marcelo Rebelo de Sousa sabe que uma das maiores preocupações deste sector é o seu próprio desempenho na chefia do Estado, que é criticado por ser excessivamente refém do poder socialista. E a seis meses de voltar a ir a votos — a recandidatura não está confirmada e nunca será anunciada antes de novembro, mas a preparação está em marcha —, Marcelo reaproxima-se da sua família política, apostado em estancar uma eventual fuga de votos de tradicionais eleitores do PSD e do CDS, seja para a abstenção, seja para o Chega de André Ventura. Há uma semana, o Presidente promoveu um primeiro jantar, que incluiu militantes do PSD, entre eles Miguel Morgado, ex-deputado, ex-colaborador de Pedro Passos Coelho e fundador do movimento 5.7, que surgiu com o propósito de ajudar a federar a direita. Os dois grupos são pequenos — aquém do número máximo que as regras da covid permitem para ajuntamentos na Grande Lisboa, 10 pessoas. E a ideia é repetir e continuar um processo que Marcelo define como de auscultação dos vários sectores da sociedade portuguesa mas que tem a óbvia particularidade de apostar numa reaproximação à direita, cujos votos o Presidente espera não estarem irremediavelmente perdidos.

Rui Rio foi informado pelo próprio Marcelo desta iniciativa. Quando recentemente almoçaram os dois em Lisboa, após o namoro com António Costa na Autoeuropa que resultou numa declaração informal de apoio do primeiro-ministro socialista à sua recandidatura a Belém, o Presidente comunicou ao líder social-democrata que tencionava perceber como é que esta direita inorgânica se situa entre o PSD e o Chega. Da lista de convidados de Marcelo constam nomes como Rui Ramos, Helena Matos, Alexandre Homem Cristo, José Manuel Fernandes, Miguel Morgado, Sebastião Bugalho e outros, uns mais próximos do PSD, outros do CDS e outros ainda de uma direita desalinhada.
Das conversas que já teve, sabe o Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa recolheu essencialmente três ideias: que se tratam de pessoas que estão pessimistas; que procuram um pensamento para a direita mais do que pessoas ou lideranças; e que refletem sobre uma alternativa de médio e longo prazo, sem estarem propriamente preocupadas em intervir no imediato. Assim, Marcelo terá confiado que as presidenciais não são a principal angústia deste sector. Onde alguns dos convidados, como é o caso de José Manuel Fernandes, até já aconselharam a direita que anda maldisposta com o Presidente a “pôr gelo nos pulsos” e a perceber que só tem a ganhar em fortalecer um chefe de Estado que, afinal, vem da sua área política, em vez de o deixar dependente do apoio da esquerda.
Oficialmente, Marcelo integra estes encontros naquilo que fonte próxima chama de “atividade normal e própria do Presidente da República” — “ouvir pessoas, de forma mais ou menos pública, sejam partidos, sejam parceiros sociais, sejam de direita ou de esquerda”. Na calha estão novas audiências em Belém até finais de julho com os líderes partidários e também com partidos que não estão representados no Parlamento. Os encontros com a direita mais desalinhada têm, no entanto, um ingrediente especial, que um dos participantes classifica ironicamente de “mimo”: “Marcelo quer dar e receber mimo”, porque as vozes que influenciam a direita desiludida são essenciais para estancar uma fuga de eleitores para Ventura, que o Presidente teme poder chegar aos 15%. O facto de se tratar de gente mais focada em encontrar uma resposta de médio e longo prazo do que na conjuntura imediata agrada a Marcelo. O (seu) segundo mandato presidencial só termina em 2026. Pode ser que, até lá, a direita se reorganize (Expresso texto da jornalista Angela Silva)

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