sábado, julho 25, 2020

Casos, mortes, doentes críticos, testes. Reino Unido está mesmo melhor que Portugal?

O Reino Unido tem uma taxa de incidência da doença mais baixa do que Portugal e realiza mais testes de despiste. Já Portugal regista menos mortes. A pressão diplomática não resultou e Portugal voltou a ficar de fora da lista dos corredores de viagem do Reino Unido. O governo português insiste que não entende a decisão, que os critérios epidemiológicos não são claros, mas como comparam os dois países? Proporcionalmente, o Reino Unido faz mais testes de rastreio que Portugal e regista menos infeções, no entanto, tem uma taxa de letalidade muito mais elevada do que a portuguesa.
O governo britânico atualizou, esta sexta-feira, a lista de países para os quais tem aberto o corredor aéreo. Nessa lista aparece o nome de Portugal, mas apenas como referencia para os Açores e a Madeiras, as únicas regiões que são consideradas seguras relativamente à pandemia de covid-19. Ou seja, os passageiros que viajem a partir de Portugal continental terão de fazer quarentena (de 14 dias) assim que chegarem ao Reino Unido, apesar da imprensa britânica ter antecipado que esta situação iria ser alterada, esta semana. Como aliás aconteceu para a Estónia, a Letónia, a Eslováquia, a Eslovénia e São Vicente e Granadinas (destinos que também não constavam da lista de três de julho).

Numa reação à decisão do executivo do Reino Unido, que o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou "não fundamentada nos factos conhecidos e públicos", Augusto Santos Silva adiantou que cumpriu o combinado com o homólogo britânico. Nomeadamente a respeito de cinco critérios em que a situação epidemiológica portuguesa é "muito positiva": capacidade de testagem, taxa de letalidade, índice de reprodução, capacidade de resposta do sistema de saúde e número de casos por 100 mil habitantes.
"As autoridades britânicas tiveram a cortesia de nos informar ontem [quinta-feira] da decisão, mas não foram capazes de explicar os fundamentos científicos e técnicos da decisão tomada", concluiu o governante português.
Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais sete pessoas e foram confirmados mais 313 casos de covid-19 (um crescimento de 0,6% em relação ao dia anterior). Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta sexta-feira (24 de julho), no total, desde que a pandemia começou registaram-se 49692 infetados, 34687 recuperados (mais 318) e​ 1712 vítimas mortais no país.
Já no Reino Unido - no mesmo período - foram notificadas 123 mortes por causa do novo coronavírus e 770 novos casos de infeção, de acordo com a direção-geral de Saúde de Inglaterra (Public Health England). Desde o início da pandemia, morreram 45 677 pessoas dos 297 914 casos de contágio verificados.
Nos últimos sete dias, Portugal confirmou 1616 infeções de covid-19 e o Reino Unido 4 599. No entanto, por milhão de habitantes, o Reino Unido tem agora 4 387 casos, quando Portugal tem 4 874.
E os novos casos (considerados sempre proporcionalmente) são um dos grandes pilares analisados pelo governo britânico na hora de tomar decisões sobre destinos seguros. O Reino Unido terá determinado como condição para levantar a quarentena uma taxa de 20 casos por 100 000 habitantes. O que Portugal ainda não alcançou, apesar de ter vindo a melhorar os valores deste indicador no último mês.
A taxa de incidência da doença no país demonstra "um padrão bastante confortável", referiu a ministra da Saúde, esta sexta-feira, "embora haja ainda muito trabalho para fazer". "O país teve uma taxa de incidência nos últimos sete dias de 15,7 novos casos por 100 mil habitantes e uma taxa de incidência nos últimos 14 dias de 37,1 novos casos por 100 mil habitantes", afirmou a governante, em conferência de imprensa. Sendo que será esta última a considerada pelo governo britânico. Na quinzena anterior, Portugal apresentava 43,2 infeções por 100 mil habitantes, fator que pesou ainda nas restrições aos viajantes de Portugal por outros países, como Áustria, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Finlândia ou Bélgica.
O indicador com números ainda elevados, levou a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, a manifestar, logo na semana passada, pouca confiança na admissão de Portugal à lista dos corredores de viagem com o Reino Unido devido ao critério usado, que considera que "poderia ser melhorado". Sugeriu ainda que fossem incluídos outros fatores como os internamentos em cuidados intensivos ou a taxa de letalidade do país.
Taxa de letalidade mais baixa em Portugal
A taxa de letalidade é um dos indicadores de que Portugal beneficiaria se fosse tido em conta, uma vez que o país tem uma taxa de letalidade de 3,4%, quando a britânica - uma das mais elevadas da Europa, em conjunto com a belga - é de 15,4%.
Se em Portugal, desde que a pandemia começou, se registaram 1712 vítimas mortais, no Reino Unido foram 45 677. Sendo que estes números aplicam-se apenas aos casos confirmados por teste, já que estatísticas britânicas relativas a casos cujas mortes foram atribuídas ao coronavírus na certidão de óbito ultrapassam os 55 000.
Cuidados Intensivos a descer
Esta sexta-feira, em Portugal, estão internados 420 doentes (menos 11 que no dia anterior) e nos cuidados intensivos há agora 52 pessoas (menos sete que na véspera). O número de doentes em estado critico é o mais baixo desde 24 de março, quando estavam nos cuidados intensivos 48 doentes. Já no Reino Unido, de acordo com o site Wordometer, existem agora 110 pessoas em estado critico.
Reino Unido faz mais testes
Quanto ao número de testes de rastreio à covid realizados até então, proporcionalmente, o Reino Unido faz mais exames. Os britânicos já fizeram 13 974 097 análises para detetar a presença da covid, o que corresponde a 205 779 testes por milhão de habitantes, segundo o Wordometer. Enquanto Portugal realizou 1 512 972 testes de rastreio, o que dá 148 407 por milhão de habitantes (DN-Lisboa com Lusa, texto da jornalista Rita Rato Nunes)

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