sábado, julho 25, 2020

Cafofo eleito no PS-M: uma mera formalidade para ser o que já era, mesmo não podendo ser, por não ser eleito


Cafofo vai hoje a votos, no PS-Madeira, sem adversário na corrida que já ganhou e para concretizar aquilo que foi uma espécie de farsa partidária inédita iniciada no último congresso regional dos socialistas locais, quando Emanuel Câmara assumiu a liderança do PS-M garantindo contudo, e desde logo, que não queria ser candidato a nada e que o candidato dele a tudo e o que mais houvesse seria o ex-edil funchalense, Paulo Cafofo. Que nem militante era. Cafofo, sim, esse mesmo que foi descoberto em 2013 por Vítor Freitas (e Sofia Canha) - quando percebeu que o dividido PSD-Madeira estava a cometer erros fatais na gestão da candidatura ao Funchal e que o PS-M poderia beneficiar disso desde que não apresentasse um candidato partidário próprio antes tentando uma solução mais abrangente, o     que veio a acontecer. Cafofo era apenas um personagem ligado a um gabinete de estudos do PS-M, criado pelo então líder Vítor Freitas, a pensar nas regionais de 2015.
Emanuel Câmara - que foi eleito nas "directas" há dois anos por uma escassa margem, suficiente no entanto  para derrotar Carlos Pereira, que demorou tempo demais a perceber que lhe estavam a "fazer a cama" - foi diferente, usando desde o início do "jogo" o trunfo Cafofo, apontado às regionais de 2019 e à futura liderança do partido.
O desfecho eleitoral não foi o esperado e isso causou grande frustração e desânimo nas hostes socialistas regionais. O PS-M de Camara e Cafofo somou 3 derrotas eleitorais em 2019 - europeias, legislativas e regionais - que nem o aumento dos votos e de eleitos disfarçou. Crescimento eleitoral claramente a reboque da colagem do PS-M a Costa e decorrente ainda do impacto da política nacional, natural e expectável.
No caso das regionais o PS-M, mesmo sem a sonhada coligação - que em regionais é sempre utópica e eleitoral pouco rentável (o PS-M de Vítor Freitas que o diga em 2011...), beneficiou um pouco da influência pessoal de Cafofo - ainda a reboque da CMF - e uma certa desilusão e algum desejo de mudança que se apoderou de uma parte muito importante do chamado eleitorado flutuante (não quer dizer que continue a pensar hoje da mesma forma).
Ao PS-M de Cafofo ficou o mérito político para consumo interno, de ter conseguido eleger o maior número de deputados - muitos deles à custa das perdas da esquerda (o Bloco perdeu 2 deputados, a JPP perdeu outros 2, o PTP perdeu 1 deputado, tal como o PCP e o ex-PND desapareceu do parlamento), 7 lugares que já não eram do PSD-M desde 2011 - mas sobretudo ter contribuído para que o PSD-M pela primeira vez na história da autonomia regional tivesse perdido a maioria absoluta parlamentar.
Os desafios de Cafofo, que hoje será eleito líder do PS-M, são simples:
- ser eleito com uma margem credível de eleitores, ou seja, com uma participação significativa de militantes em condições de votar, para que a sua eleição não seja questionável, em termos de fragilidade ou consistência, logo no primeiro dia, o que nada tem a ver com legitimidade do eleito;
- designar um secretário-geral da sua confiança pessoal e que seja um operacional de indiscutíveis méritos, não sendo recomendável que o faça entre os seus mais próximos (que não abundam neste momento), sobrecarregando-os com actividades diferentes, acabando por não conseguir a eficácia necessária. Neste caso em concreto, julgo que Cafofo conhece os subterrâneos da chamada máquina partidária (alguns usam o termo aparelho) porque foi com ela, e graças a ela, que Emanuel Câmara ganhou as directas de há dois anos. Ou seja, Cafofo tem que ser ele próprio a controlar o "aparelho" que não pode ficar sob controlo de terceiros sobre os quais o líder eleito dificilmente terá qualquer ascendência, o que o fragiliza;
- escolher para os órgãos partidários pessoas da sua confiança pessoal ou política, embora admita que possa chamar e envolver personagens conotadas com outras correntes, incluindo aquela que aos olhos dos militantes do PS-M e dos eleitores socialistas constitui a alternativa, pronta a avançar e a "cobrar" o que foi feito nas directas de 2017. Falo da corrente (existirá hoje, mesmo, uma corrente organizada?) conotada com Carlos Pereira. Isto porque,  apesar da tentativa de concorrer contra Cafofo, nunca acreditei que o projecto de Carlos Jardim - o que nada tem a ver com os seus méritos e com a sua legitimidade partidária - estivesse a ser convictamente preparado no terreno (não é no espaço mediático que se ganham eleições internas nos partidos) ou que reunisse apoios que a fortificassem, mais do que declarações de intenções ou propostas lançadas avulso para cima da mesa.
Aliás recordo que no pretérito dia 6 de Julho, Carlos Jardim numa missiva enviada aos miltantes socialistas, enumera uma série de razões - muitas delas associadas aos efeitos da pandemia também na política e nos partidos - para justificar a sua desistência da candidatura à liderança do PS-M terminando que "decidi, não sem custo, reconheço, retirar a minha candidatura à presidência do PS-M e, como sempre no passado, colocar a minha disponibilidade e o meu trabalho ao serviço do Partido com que me identifico e em que acredito";
- finalmente, e só depois de ter o "aparelho" e de sentir que também tem o partido na mão, Cafofo, já como líder do PS-M - o que até hoje não acontecia, facto que em certa medida reduzia o seu espaço de manobra e a sua capacidade política interna, num partido que até ao próximo Congresso será dirigido por Emanuel Câmara (estranhamente "desaparecido" sem que se perceber bem os contornos e os motivos do seu aparente ocaso partidário), porque julgo que estatutariamente os novos órgãos partidários do PS-M só serão eleitos no pós-congresso socialista - tem que ir para o terreno, (re)dinamizando as estruturas concelhias, na lógica da preparação das autárquicas de 2021 que não sendo decisivas para a continuidade ou não de Cafofo, podem contudo consolidar ou fragilizar a sua liderança na lógica das eleições regionais de 2023 (apesar de sabermos que os socialistas locais tudo farão, sobretudo nos bastidores, para dar cabo da coligação PSD-CDS antes dessa data, se necessário for usando alguns marginais ressabiados conotados com os dois partidos no poder, como se o futuro da coligação dependesse deles ou de ambições pessoais, frustrações corporativistas ou movimentações políticas mais ou menos previsíveis e patéticas...).
Cafofo vai apostar em Santa Cruz e no Porto Santo e quer manter Machico e o Funchal, tal como o P orto Moniz onde dificilmente Emanuel Câmara deixará de ser novamente candidato. No caso da Ponta do Sol, Cafofo sabe que muita coisa depende do que acontecer com o PSD-M, no fundo tal como ocorreu em 2017. De resto, e olhando para a realidade eleitoral, não vejo que tenha possibilidade de pensar mais ambiciosamente, embora ele queira - e vai assumir isso - aumentar o número de eleitos nos concelhos onde dificilmente terão razões de sucesso. Salvo se o PSD-M cometer os mesmos erros e as infantilidades políticas de 2013 e 2017, ainda no processo de escolhas de candidaturas.
Portanto, a eleição de Cafofo, hoje, não trs nada de novo, não muda rigorosamente nada num PS-M que já dependia dele, porque é bom lembrar que foi Cafofo quem liderou o processo (não na totalidade...) de elaboração da lista de candidatos a deputados regionais e definiu toda a estratégia de campanha eleitoral, em estreita ligação com a estrutura nacional do PS de António Costa que marcou presença discreta na campanha eleitoral das regionais de Setembro de 2019. Para Cafofo e o PS-M o que importa é o "day after", depois de uma mera formalidade estatutária necessária para que Cafofo seja o que já era sem ser, líder eleito do PS-M (LFM)

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