quarta-feira, julho 08, 2020

Bruxelas ainda mais pessimista prevê quebra de 9,8% para a economia portuguesa

A Comissão Europeia reviu em baixa as projeções para 2020 da economia portuguesa e da zona euro segundo o documento de previsões intercalares de verão publicado esta terça feira. Bruxelas é, agora, mais pessimista do que o Banco de Portugal que apontava para uma quebra de 9,5% em Portugal e distancia-se ainda mais da previsão de uma recessão de 6,9% prevista no orçamento suplementar. A Comissão Europeia prevê que a economia portuguesa se afunde 9,8% em 2020, segundo o documento de previsões intercalares de verão publicado esta terça-feira em Bruxelas. É uma quebra ainda maior do que a projetada pelo Banco de Portugal nas suas mais recentes previsões, onde apontava para uma recessão de 9,5%. E distancia-se ainda mais da previsão de uma quebra de 6,9% inscrita no orçamento suplementar apresentado pelo governo. Em apenas dois meses, Bruxelas cortou a previsão da recessão em Portugal em 3 pontos percentuais. Em maio apontava para uma quebra de 6,8%, próxima da que o governo de António Costa apresentou no orçamento suplementar.

O maior pessimismo da Comissão baseia-se no que entretanto se passou na economia portuguesa entre abril e junho. Os economistas de Bruxelas apontam para uma quebra histórica de 14% na economia portuguesa no segundo trimestre em relação aos três meses anteriores, devido à 'hibernação' da economia portuguesa com o confinamento e a uma queda a pique do turismo (de quase 100% em abril).
Bruxelas reviu em baixa a previsão para a zona euro este ano, agravando a recessão em 1 ponto percentual em relação ao documento publicado em maio. A zona euro deverá cair 8,7% em 2020, a mesma previsão feita recentemente pelo Banco Central Europeu.
A Comissão cortou, também, nas previsões para 2020 da maioria das economias do euro, com exceção da Alemanha. As novas previsões para Espanha, França e Itália aproximam-se, agora, das avançadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) na atualização feita em junho. O nosso principal cliente, Espanha, poderá registar uma quebra de 10,9%, segundo Bruxelas. O FMI, ainda mais pessimista, aponta para uma recessão de 12,8% no nosso vizinho. No caso da Alemanha, Bruxelas melhorou ligeiramente a previsão, reduzindo a quebra em 2020 de 6,5% para 6,3%.
Com esta revisão em baixo, Portugal integra, agora, o grupo das quatro economias que registam recessões mais profundas na zona euro, depois de Itália (quebra de 11,2%), Espanha (-10,9%) e França (-10,6%), sinalizando os quatro "doentes" em cuidados intensivos no espaço do euro. Se em maio, nas previsões anteriores, a economia portuguesa registava uma recessão inferior à do conjunto da zona euro (-6,8% versus -7,7%), agora, com as novas previsões, terá uma quebra superior (-9,8% vs. -8,7%).
As previsões avançadas esta terça-feira pela Comissão, apesar de ainda mais pessimistas do que em maio, continuam a basear-se no pressuposto de que não ocorrerá uma segunda vaga da pandemia da covid-19. No entanto, ainda não tomam em consideração o efeito positivo sobre as expetativas dos agentes económicos que a aprovação de um Fundo de Recuperação (com uma proposta de envelope de 750 mil milhões de euros, maioritariamente assente em subvenções aos estados membros da União), proposto pela Comissão, para 2021 poderá ter. Paolo Gentiloni, o comissário para a Economia, sublinhou, por isso, na apresentação das Previsões, que é vital "obter um acordo rápido sobre o plano de recuperação".
Bruxelas não deixa de referir que a conjuntura poderá agravar-se se se concretizarem alguns riscos, como a falta de coordenação entre os estados membros no combate à pandemia, maior volume de falências, atraso na recuperação do mercado de trabalho (pois a desativação das medidas de apoio aos layoff poderão provocar aumento do desemprego), maior turbulência nos mercados financeiros, o fracasso nas negociações entre a União e o Reino Unido e uma deriva excessiva no abandono das cadeias globais de produção que sustentam uma economia mundial interligada. A Comissão reviu em baixa a previsão para o crescimento mundial fora da União, apontando, agora, para uma queda global de 3,9%, um agravamento de 1 ponto percentual em relação à previsão apresentada em maio. Recorde-se que o FMI corrigiu em baixa a sua previsão de recessão mundial em 2020, apontando, agora, para uma quebra de 4,9%. A expetativa de uma retoma económica na zona euro em "V" está cada vez mais distante. Bruxelas cortou a previsão de expansão para 2021, de 6,3% para 6,1% para o conjunto da área da moeda única. Mas para Portugal melhorou a previsão de 5,8% para 6%, de qualquer modo abaixo da média da zona euro. Nos pressupostos para 2021, Bruxelas considera que os efeitos positivos da política monetária do BCE vão continuar a sentir-se fortemente, prevendo que a taxa da Euribor a 3 meses desça ainda mais em terreno negativo, caindo de -0,4% em 2020 para -0,5% em 2021, em termos de média anual (Expresso, texto do jornalista JORGE NASCIMENTO RODRIGUES)

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