terça-feira, maio 28, 2019

Nota: História de pequenas histórias socalistas no pós-europeias

Muito sinceramente acho que a demissão de Paulo Cafôfo da CMF não tem subjacente motivos políticos nenhuns. É uma questão legal - ele já sabia que tinha que abandonar o cargo - e de de ética. Como seria possível manter um Presidente da CMF, alegadamente a preparar-se para ser candidato - ainda que não oficializado - à presidência do Governo (agora é apenas um pré-candidato, apesar de já se comportar como se o fosse), mantendo-se ao mesmo tempo na autarquia onde muito esporadicamente comparecia? Acresce, interpretação minha, que Cafôfo já percebeu que tem internamente um problema complicado para resolver (desconheço como o fará), o da própria liderança do PS local, que afasta pessoas e que, cada vez que fala de improviso, retira credibilidade aos socialistas.
O resultado das europeias foi, segundo sei de fonte socialista da minha confiança, considerado "grave" por Cafôfo e pelos seus apoiantes mais directos, e parte dessa derrota é atribuída ao discurso vazio de Emanuel Câmara que, bem vistas as coisas, pouco ou nada trouxe de novo aos socialistas locais, que vivem a reboque de Costa e beneficiam da conjuntura política e eleitoral nacional.
O líder do PS local não se livrará de críticas internas quando (se) convocar os órgãos dirigentes para discutirem as europeias. Há quem sustente que Cafôfo deverá recomendar a Emanuel Câmara que, passadas as europeias, se contenha, apareça menos e deixe a equipa do ainda autarca funchalense tratar do assunto - algo que já o fez nas europeias, sem sucesso, o que coloca desde logo a questão da sua eficácia em cima da mesa. O radicalismo do autarca do Porto Moniz (que fala em mudança mas está envolvido na política regional há mais de 30 anos, é certo que sempre em lugares de segundo e terceiro plano, e que, por acaso até perdeu, nestas eleições, em 2 das 4 freguesias, só ganhando no concelho graças ao Porto Moniz, mas sobre isso não vamos deambular nem tentar esmiuçar nada, por agora) tem sido politica e eleitoralmente uma catástrofe (reconhecida por dirigentes que publicamente não o assumem para evitar polémicas públicas) para 
o PS regional.
Basicamente Cafôfo, que não é militante nem dirigente do PS local, quer impor, através dos seus homens de mão, orientações e decisões eleitorais no partido, deixando Emanuel Câmara num plano secundário, algo que o líder socialista dificilmente aceitará, por temer que isso signifique uma estratégia de esvaziamento dos seus poderes e consequente afastamento, a qualquer momento.

Câmara não deixará Cafôfo mandar na lista regional, mas...

A minha fonte socialista - acreditem se quiser, mas isso é-me indiferente, porque limito-me a desenvolver opinião em função de factos que me foram transmitidos - garante que Câmara não deixará nunca que seja Cafôfo a dar "ordens" no ordenamento da lista regional e a escolher pessoas da sua confiança para a integrarem, porque isso fragilizaria o líder e colocaria o partido nas mãos de um controlo externo, já que Cafôfo (alegadamente) nem militante do PS é. Tem contudo uma equipa de alguns colaboradores directos que ocupam posições de relevo no partido e que estarão dispostos a impor a sua vontade. Emanuel Câmara sabe que se isso acontecer, seja qual for o resultado das regionais de Setembro, estará perante o princípio do fim da sua liderança. Até porque é dado como adquirido que Cafôfo, passada a encenação das autárquicas de 2017 (não as de 2013), vai aderir ao PS logo depois das regionais e seja qual for o resultado deverá candidatar-se à sua liderança.
Câmara sente-se "rasteirado"...
A minha fonte garantiu-me que Câmara sentiu-se "rasteirado" na noite eleitoral. "Rasteirado" porque teve que fazer a "festança" a reboque dos resultados eleitorais nacionais, já que nem a tentativa de traçar cenários cor-de-rosa quanto ao que aconteceu na RAM evitou que o PS local tenha sido o grande derrotado da noite eleitoral e, por tabela, também Emanuel Câmara e Cafôfo. Há mesmo quem garanta que não existissem as regionais de Setembro a cabeça de ambos já estaria a ser reclamada, particularmente a de Emanuel Câmara.

A verdade é que há alguma descrença nas hostes socialistas porque este foi o primeiro teste eleitoral da nova liderança socialistas local, ainda por cima numa eleição (europeia) que nunca foi o prato-forte da perfomance eleitoral do PSD regional. Basta consultar os resultados e comparar com outras eleições.

Acresce que tendo Cafôfo alimentado durante algum tempo, erradamente, a ideia de que terá sido ele a escolher (não foi) a inexperiente (politicamente falando, já que nunca fez parte rigorosamente de nenhuma estrutura partidária ou política, e isso é constatável no seu currículo) candidata socialista regional ao PE, Sara Cerdas é um facto que, depois de conhecidos os resultados adversos, Cafôfo não encontrou refúgio que lhe permitisse fugir a essa realidade da derrota.

Perdeu em toda a linha no Funchal, perdeu em todas as freguesias - e muitas Juntas de Freguesia são lideradas por homens-de-mão de Cafôfo que não evitaram o descalabro, nalguns casos demasiado agreste - e apesar de ter elogiado Cerdas no Facebook, apressadamente surgiu nas redes sociais a tentar fechar rapidamente a porta das europeias para falar nas regionais, sabendo que tem pela frente um partido que acabara de levar um soco no estômago, quando não seria essa a previsão. 
Duvido, por isso, que o PS queira abrir o dossier regionais-2019 sem ter resolvido devidamente o dossier europeias-2019.
Por outro lado, o desastroso discurso de Emanuel Câmara na noite eleitoral - não percebo porque razão ele não se prepara devidamente para estes momentos, sabendo que tem dificuldades conhecidas em termos de oratória - revelou-se um pesadelo adicional, embora alguns tentem suavizar esse momento caricato de Câmara com a ideia dele querer mobilizar o PS e, também, porque sentiu que atiraram para cima dele o ónus da derrota.
"Saneados" (derrotados) à espreita
Os chamados "saneados" do PS local, basicamente os apoiantes de Carlos Pereira que foram derrotados pela máquina controlada por Emanuel Câmara no último Congresso, depois deste resultado estão a reorganizar-se. Nem eles próprios estariam à espera do penoso desfecho eleitoral. Carlos Pereira denunciou na RTP-M o facto da candidata ao PE ter sido imposta pela direcção regional e que nem foi aprovada pela Comissão Política Regional dos socialistas o que deixa transparecer a ideia de uma imposição de um nome por parte da liderança, obrigada a isso dada a certeza de que provavelmente o seu nome não passaria no escrutínio daquela Comissão. É sabido que a continuidade de Liliana Rodrigues (também, independente como Sara Cerdas) ou mesmo a candidatura de Sofia Canha eram as alternativas que alegadamente mais apoio obteriam internamente.
Cerdas polémica e PS-M albergue de "independentes"
Aliás a indicação da candidata socialista ao PE foi desde início criticada por uma linha do PS regional mais política que recusa a ideia de transformar o partido numa espécie de albergue de "independentes", como se não tivesse quadros próprios capazes de responderem a qualquer desafio. Na noite eleitoral, e apesar da euforia montada para consumo mediático e televisivo regional, não faltou mesmo quem tivesse também atribuído uma quota parte da "responsabilidade" pelo desaire eleitoral socialista à jovem candidata, pelo facto de ser desconhecida, não atrair eleitores e ser politicamente inexperiente, perdendo claramente sobretudo no confronto com a experiente (5 anos de mandato europeu e ex-deputada em São Bento) Cláudia Aguiar. 
Aliás, foi estranha a ausência da campanha eleitoral socialista de Liliana Rodrigues, nome que muitos socialistas, repito, entendiam que devia ter continuado e que porventura garantiria outro resultado eleitoral. Consta mesmo que essa continuidade tinha sido acertada, que o nome de Liliana chegou a ser enviado para Lisboa, mas que um estranho processo de manipulação e de pressão interna, envolvendo jogos de alegadas influências pessoais - e algo mais... - acabaram por fazer surgir um outro nome, Sara Cerdas, sem que até hoje Liliana tenha sido ouvida para que lhe dessem explicações plausíveis da decisão tomada.
Liliana castigada?
Aliás, uma das insinuações mais correntes no seio do PS regional foi a de que Liliana Rodrigues terá sido "saneada" pelo facto de não ter acedido a pressões para empregar em Bruxelas determinadas pessoas que a nova direcção socialista pretenderia que a ainda deputada chamasse para trabalhar junto de si, no final do mandato, como se a confiança pessoal não tivesse nada a ver com o trabalho de qualquer parlamentar.
A responsabilidade pela escolha...
Outra polémica interna tem a ver com a escolha de Sara Cerdas como candidata europeia, sem que a jovem tenha qualquer culpa pelo que se passou. Ela limitou-.se a aceitar um, convite que lhe foi dirigido por quem sabia que a sua experiência política era praticamente nula. A tese de que foi uma escolha pessoal de Cafôfo não é verdadeira. Sei que o edil funchalense nem conhecia a jovem e que a sua indicação teve o dedo de João Pedro Vieira, vereador da CMF - daí o envolvimento indevido de Cafôfo neste processo, apesar de ter dado "luz verde" ao nome, não se percebe muito bem a que título e fundamento. Aliás, apurei também que pese ter sido Pedro Vieira a realizar todos os contactos preliminares - desconhecemos como surgiu o nome de Cerdas em cima da mesa... - coube a Cafôfo, apenas a parte final do processo,  formalizar o convite que dependeu também do lugar garantido à Madeira na lista socialista nacional (algo que Cafôfo e Costa, aqui sim, terão negociado pessoalmente sem que Emanuel Câmara tenha sido parte neste processo, posição destacada que teve muito a ver com a realização de eleições regionais este ano na RAM e com a obsessão de Costa quanto a elas). Emanuel Câmara também não teve rigorosamente nada a ver com a escolha e apesar do filho liderar a JS, esta organização não escondeu alguma discreta insatisfação pelo facto dos "independentes" serem promovidos nestas circunstâncias e desta forma, quando à JS é exigida uma presença activa no terreno para poder em troca disso candidatar uma ou duas pessoas nas regionais ou mesmo nas autárquicas. Asseguram-me ter a JS acabado por aceitar o envolvimento na campanha eleitoral, mas os sectores mais políticos desta organização nunca esconderam a sua insatisfação (e ultrapassagem) pelos procedimentos adoptados na questão da candidatura europeia e na escolha de alguém que nunca teve qualquer ligação ao partido. Um sentimento que também envolveu autarcas e deputados regionais, mas a "tranquilidade" é apenas garantida, repito e reafirmo, pela realização de eleições regionais em Setembro deste ano.
Ala política preocupada
A ala política do PS regional não esconde, sobretudo depois das europeias, a sua descrença. Desde logo porque acha que serão inevitáveis conflitos internos na hora de elaboração da lista de candidatos, já que os mentores do sucesso de Câmara, incluindo alguns autarcas, vão reclamar posições de destaque na candidatura, algo que eleitoralmente poderá ser negativo no caso de alguns protagonistas e de histórias que curiosamente estiveram ausentes deste debate eleitoral mas que dificilmente estarão ausentes no debate e na campanha para as regionais.
Acresce que esses políticos socialistas, mais perspicazes, alertam internamente o PS para o facto do PSD poder estar a estabilizar-se internamente e de ter resolvido focos de conflitos ou amuos internos que influenciaram os resultados eleitorais de 2015 mas que pelos vistos parece que tiveram igual influencia na estabilização política e eleitoral do PSD regional e nos consequentes resultados das europeias de 26 de Maio.
A presença de Cafôfo na campanha e a "ausência" na noite da derrota
Uma outra questão, sem dúvidas mais polémica, tem a ver com o ziguezague de Paulo Cafôfo neste processo. Desde logo, repito, deixou alimentar a ideia, antes das eleições, de que Cerdas era uma escolha pessoal quando na realidade não foi. O mérito (ou demérito) foi de Vieira, secretário-geral do PS e vereador na CMF, e também licenciado em medicina como a candidata, que para além da amizade com Cerdas terá sido colega de curso ou de parte do percurso escolar de ambos. Este assumir "indevido" de uma escolha por parte de Cafôfo, na perspectiva  de obter ganhos políticos pessoais, desvaneceu-se na noite da derrota eleitoral, quando ele se escondeu deliberadamente de tudo e de todos. Apesar de ter estado na sede do PS, o autarca do Funchal percebeu que tinha sido um dos derrotados da noite, pelo que qualquer visibilidade pessoal colocaria ainda mais em evidência essa realidade. Cafôfo, dizem-me, terá sido aconselhado pela estrutura de imagem - outro problema que se-lhe colocará, ao PS e à CMF - a remeter-se a uma posição discreta porque a realidade eleitoral não o favorecia em nada. A verdade é que Cafôfo, que teve um envolvimento diário na campanha eleitoral - contrariando ideias e opiniões que foram produzidas - quer nas iniciativas da campanha de Cerdas, quer numa espécie de estados-gerais que o PS local foi promovendo para ganhar espaço mediático, apesar de não terem trazido nada de novo à Região - furtou-se a qualquer protagonismo, algo que os jornalistas presentes na sede do PS não tiveram curiosidade em desvendar. Optou Cafôfo pelo comentário na sua página do Facebook.
Primeiras divergências?
Tudo indica que podemos ter as primeiras divergências entre estes vários protagonistas na CMF, depois da saída de Cafôfo. Miguel Gouveia, tido como próximo do ainda autarca do Funchal, será uma espécie de mais do mesmo, mas o interesse e curiosidade residem em saber quem será o novo número dois, o vice-presidente. Idalina Perestrelo seria em situações normais a candidata natural ao lugar, mas o seu envolvimento num processo judicial relacionado com a queda da árvore no Monte - e que poderá ainda atingir Cafôfo... - parece que a afasta definitivamente desse lugar. Madalena Nunes, professora, que integrou a equipa de Cafôfo em 2017, terá sido uma escolha pessoal do ainda Presidente e embora esteja na corrida, segundo alguns sectores, não tem força política nem apoios no partido suficientes que possam favorecer essa alegada candidatura. Com Bruno Martins, considerado demasiado tecnocrata e muito distante de envolvimentos partidários mais activos, de fora desta corrida, resta Pedro Vieira, médico, vereador e secretário-geral do PS local que politicamente será o mais forte candidato, mas que parece não ter o acordo de Miguel Gouveia que porventura aposta mais em Madalena Nunes, porventura por pressão de Cafôfo.
Trata-se de um assunto que terá que ser resolvido rapidamente, confirmando-se a saída hoje anunciada de Paulo Cafôfo da CMF, pondo termo a uma situação que já era vergonhosamente insustentável. Neste momento está longe de ser pacífico, mas provavelmente Emanuel Câmara será colocado à margem deste processo na CMF, que é sobretudo autárquico, apesar de ter (ou poder vir a ter) ramificações (ou extensões) partidárias.

Assessoria de imagem
Podendo parecer uma questão menor, ela não o é. É sabido que desde 2013, Cafôfo tem contado com o apoio de uma equipa de assessoria de comunicação (a LPM do jornalista Luís Paixão Martins, muito experimentado nesta tem
ática, e actual comentador desportivo num programa semanal na TVI24) - assessoria esta que não contesto porque sabemos todos que isso é cada vez mais é normal nos políticos - prestadora de serviços pagos pela CMF essencialmente para tratar da imagem da edilidade. O problema é que Cafôfo ao abandonar a CMF, e sem que o PS tenha recursos financeiros suficientes para assumir tal responsabilidade, deixará de contar com essa assessoria. E não vejo que a empresa queira correr riscos - sobretudo na lógica de uma eventual auditoria do Tribunal de Contas ou de qualquer iniciativa da Entidade de Contas dos Partidos - prestando serviços a entidades terceiras quando está contratada por uma entidade pública e não por um partido político - embora nada o impeça que seja ou venha a ser. Sei que o assunto será discutido em breve e que não está colocada fora de hipótese a possibilidade de Cafôfo poder dispor, também no PS, do crescente apoio da LPM.
Sei também que Cafôfo teme que ao abandonar a CMF, e por oficialmente não ser ainda coisa nenhuma em termos de regionais de 22 de Setembro, que mediaticamente possa ser penalizado em termos de presença diária nos meios de comunicação, já que não julgo que estes estejam disponíveis e preparados para confrontar-se com o anúncio imediato (e hipotético) de mais sete, oito ou nove alegadas candidaturas à presidência do governo regional, interessadas apenas em ter o mesmo espaço informativo que Cafôfo venha a beneficiar, independentemente da sua posterior formalização. Isto promete (LFM)

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