sábado, julho 02, 2016

Opinião: Marcelo que aproveite o tempo que tem, porque se isto descambar...

Eu acho bem que Marcelo aproveite o tempo que tem, para populismos da treta, porque se isto descambar beijocas, abraços, selfies e palmadinhas nas costas, tudo isso vai acabar. As pessoas não tardarão em pedir-lhe explicações, a quem se habituou a tentar fugir por entre os pingos da chuva, sem decidir nada de concreto, sem resolver seja o que for, salvo emitir opiniões sobre tudo e sobre todos. Porque não se despiu ainda do fato de comentador privilegiado nas televisões, sem qualquer contraditório, espaço mediático que foi a rampa de lançamento de uma candidatura presidencial devidamente pensada, e que foi facilitada pela ausência de António Guterres. A culpa desta palhaçada é da comunicação social que alimenta este presidencialismo populista e vai a reboque do PR, por tudo e por nada, desgastando as sua imagem – as pessoas vão começar a ficar fartas de ter que aturar MRS várias vezes ao dia, todos os dias do ano.

Estamos a falar de uma instituição da democracia portuguesa que vale o que vale, pouco mais que a rainha da Inglaterra. E que tem a sua arena bem definida. Nem a demagogia fácil e populista de MRS consegue alterar esta realidade.
É-me absolutamente indiferente se Marcelo Rebelo de Sousa achar que por muito que vá apaparicando os jornalistas - e ele tem sido ao longo dos anos mestre nisso - impede que lhe sejam feitos ataques como acontecem com outros políticos; é-me absolutamente indiferente este estranho endeusamento de MRS cujo percurso político no pós-25 de Abril deixa muito a desejar em termos de envolvimento político activo em todas as diferentes dimensões - não fossem as presidenciais de 2016 e nunca teria ganho um acto eleitoral que fosse - como se andássemos todos numa espécie de festança permanente à volta da figura presidencial.
Sou dos que ligam rigorosamente  ZERO a essas palhaçadas em que MRS parece envolver-se, tentando ser o que nunca foi, até pela educação, pelo ambiente familiar e pelos seus círculos sociais. Foi sempre um personagem elitista, de um determinado estrato social, que pouco ou nada tinha a ver com o povo, o verdadeiro para o qual corre agora frenético para os braços e beijocas, deixando a segurança mergulhada numa transe colectiva de não saber bem o que fazer para travar o homem.
Acho que MRS deve aproveitar bem isso, porque o tempo vai escassear para ele. E quando as coisas apertarem – porque vão apertar - quando os portugueses perceberem que ele vai ter que fazer opções e tomar decisões, quando os eleitores que hoje beijam, abraçam e riem para ele, perceberem que o homem vai ter que fazer coisas em concreto, caso a austeridade bandalha e novos cortes venham a ser-nos impostos em  Bruxelas, a partir desse momento tudo muda e este mundo algo ficcional em que este MRS populista e beijoqueiro mergulha, provavelmente acabará mais rapidamente do que apareceu.
Acresce que MRS, acusado de estar a correr o risco de banalizar a presidência da República e até de retirar alguma sobriedade institucional à função presidencial, será o primeiro a furtar-se a esse populismo beijoqueiro forçado. Salvo se lavar as mãos qual Pilatos, tentando atirar para outros a responsabilidade que também é dele, e todos sabemos que é dele.
Incomoda-me este MRS que tenta ser o que nunca foi. Chegou a Belém a reboque da comunicação social e do mediatismo televisivo, ora na RTP de onde foi despedido (episódio de Rui Gomes da Silva, lembram-se?!), ora mais tarde na TVI, onde foi rei e senhor do comentário sem contraditório.
Julgo que dificilmente seria Presidente, caso Guterres tivesse concorrido (e tal como em devido tempo revelei, pessoalmente apoiaria Guterres por razões que me dizem respeito) se tivesse partido com as mesmas condições de outros concorrentes presidenciais. Depois, por experiência, mérito e por percepção das coisas, foi-se revelando um verdadeiro “manteigueiro” de jornalistas, vive em função deles, corre ao encontro deles, fala de tudo e de nada, diz o que sabe e não sabe, fala sobre o que deve falar e sobre o que não devia falar, enfim, comporta-se como o comentador político pago à peça que se considera  um entre os seus pares. Ganha relações, cria canais de contacto,  impede que se gerem polémicas ou veiculem campanhas contra ele. MRS tem deste modo, de uma forma ou de outra, a comunicação como um parceiro amarrado de curto. Há uma espécie de permuta de serviços, prestados ou a prestar, para que tudo continue num ambiente de aparente  forrobodó, até que um dia isto descambe e ele tenha que tomar, finalmente, decisões.
Promulga diplomas com avisos ao governo de Costa mas insiste na postura de uma no cravo outra na ferradura. Pica mas não provoca Costa. Critica o governo, porventura sonha derrubá-lo, mas antes disso tem contas a ajustar com o PSD e com Passos e pandilha que com ele tomou o partido de assalto o PSD e o descaracterizaram. MRS sabe isso tudo, quer isso tudo, mas foge como o diabo da cruz quando tentam encostá-lo à parede e o confrontam com a possibilidade de ser ele o potencial gerador de uma crise política.
Referendo sobre a Europa? Nunca. MRS não quer chatices. Chegou a Belém para 5 anos, mas mal colocou pé no palácio já pensa nos 5 anos seguintes. Não vale a pena disfarçar. É isto que ele quer, 10 anos presidenciais, que aos poucos deixarão de ser este forrobodó beijoqueiro que tem sido.
Bem vistas as coisas MRS não deu rigorosamente nada ao povo. Nem dará porque não tem essa competência constitucional. Esse mérito, bem ou mal, é do governo que o PR quer aguentar no poder até ver, provavelmente por ter uma agenda política que ninguém mais conhece. Não sei se vai durar muito, se será uma reversão da austeridade porca para sempre. MRS limita-se a assinar os diplomas que chegam a Belém com propostas e medidas que a outros pertencem, não a ele.
Aquela cena de ir a correr à Europa com a ilusão na bagagem de que iria resolver alguma coisa é patética, demasiado patética para ser levada a sério e ser associada à sua pessoa. A Europa se tiver e quiser lixar-nos,  lixa-nos mesmo e estão-se nas tintas para o frenético MRS que passou 4 anos do anterior governo sem se queimar muito com opiniões mais ousadas. A ambição presidencial e a necessidade de não hostilizar o PSD serviam de travão.
O que pode acontecer é esta Europa, que atravessa um dos piores momentos da sua história, refém de uma crise de identidade, de valores, de liderança, uma crise económica, orçamental e social, é descambar. Tudo graças às falcatruas mafiosas de meia dúzia de falcões de uma Europa tomada de assalto por corporações e por máfias ligadas ao capital, à finança e à face mais suja da banca. E contra isso MRS vale zero. E não é o único. Por muito peito-cheio e cara-feia que exibam frente a um espelho ampliador de imagem...
O chefe do Mecanismo Europeu de Estabilidade diz que o único país que o preocupa é Portugal, devido às reformas do governo. Marcelo corre para os braços dos jornalistas para desvalorizar o germânico, por acaso um palerma que tudo fez para colocar Passos no poleiro depois das eleições de 2015: "Faz parte da vida, convivemos com essas preocupações e devemos distinguir aquilo que é mesmo preocupação daquilo que é uma forma de pressão a cinco ou seis dias de uma decisão [eventuais sanções a Portugal por incumprimento da meta do défice]."

Dias antes, quando se falou na eventualidade de um novo resgate de Portugal, depois de declarações do ridículo ministro das finanças alemão, eis de novo MRS na arena mediática, desvalorizando - que mais pode ele fazer?! - tais declarações: O Presidente da República relativizou essas declarações, considerando que fazem parte da "pressão política" que costuma anteceder decisões europeias. "Quando estamos a oito dias de uma decisão europeia - sobre qualquer país, não é sobre Portugal - começa a haver notícias nalguns jornais, declarações aqui e acolá, especulações aqui e acolá: vai acontecer, não vai acontecer".

Marcelo mediatiza tudo o que faz e tudo o que se mete. Tudo isso tem que ser aproveitado em prol da sua imagem, dos seus objectivos políticos. O percurso até Belém não aconteceu por acaso, foi calculado, preparado paulatinamente, foi antecipado até ao nível de obstáculos e desafios que porventura surgissem nessa sua caminhada. E surgiram. O sonho presidencial não podia ser ameaçado. A única ameaça real que surgiu nestes últimos anos chamou-se Passos Coelho, mais ele que o PSD profundo que acabou por ser, expectavelmente, a causa da sua eleição. Sem o PSD nada feito. MRS sabia isso, pelo que foi obrigado a gerir uma espécie de conflito pessoal oculto com P. P. Coelho de forma discreta (mas com recados enviados através da comunicação, por ele ou por terceiros a ele ligados...), por vezes numa posição de submissão. Pelo simples facto de que se por um lado não tinha medo, e não tinha mesmo, da nomenclatura caduca e derrotada do PSD nacional, por outro nunca podia hostilizar um partido do qual foi Presidente e ao qual estará inevitavelmente ligado.


Para MRS tudo passava pela televisão, pelo comentário sem contraditório, por um espaço de opinião que lhe foi entregue de mão beijada, primeiro pela RTP, depois da TVI. Marcelo sabe como lidar com isto, sempre soube como fazê-lo. Nada acontece por acaso, nada é feito ao acaso. Tudo é pensado previamente. Milimetricamente pensado!
Hoje foi a notícia, obviamente passada por Belém para o exterior, segundo a qual Cavaco Silva comprou a poucos meses das eleições um Mercedes S500 Longo de 129 mil euros. MRS recusou tal luxo e pelos vistos garante que alugou um carro de gama mais baixa para viatura oficial da presidência.
Por vezes até parece que Marcelo quer disputar com Costa o discurso contra a Europa decadente, contraditória, mais fundamentalista, pressionante, obcecada com o défice, teimosa e manipuladora. Interrogo-me por vezes se este protagonismo do MRS-comentador em Belém não tem alguma coisa a ver com o PSD e com a expectativa sobre o que pode acontecer nas autárquicas a PPC e à pandilha que o suporta e tolera. 
É mais do que óbvio que não será nunca por MRS - que não esquece as hesitações do PSD nas presidenciais bem como o exemplar "entusiasmo" mostrado no terreno pelo contrariado PPC quanto ao apoio claro e inequívoco à candidatura presidencial de Marcelo - que o PSD pode ter a vida facilitada em 2017, ano autárquico.

Aliás, já este ano caso as regionais dos Açores corram mal para os social-democratas, como tudo parece apontar nessa direcção, é bem provável que venham a surgir graves divergências partidárias com Lisboa e que os Açores, mais cedo do que se esperaria, comecem a dar sinais de que PPC penaliza o partido impondo-se por isso mudanças a tempo e enquanto for tempo.

Como foi posta de lado a venda, por causa da desvalorização do carro, a opção foi outra: MRS doou o carro a António Costa, dado que o automóvel que o primeiro-ministro utilizava era já antigo. Ou seja, tudo o que de mais negativo esse Mercedes podai representar caso fosse usado a Belém, foi exportado para São Bento para Costa. O homem dado a luxos que até usou um carro recusado pelo Presidente Marcelo, o mesmo "austero" que cobrava milhares de euros por pareceres jurídicos! Simplesmente diabólico.
Ao Correio da Manhã, a Presidência da República, justifica a recusa de Marcelo: “O Presidente preferiu utilizar um veículo de gama mais baixa, um Mercedes série E 220, tendo alugado e não comprado, um carro desta gama, que o Presidente”. (LFM)

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