Eu acho bem que Marcelo
aproveite o tempo que tem, para populismos da treta, porque se isto descambar
beijocas, abraços, selfies e palmadinhas nas costas, tudo isso vai acabar. As
pessoas não tardarão em pedir-lhe explicações, a quem se habituou a tentar
fugir por entre os pingos da chuva, sem decidir nada de concreto, sem resolver
seja o que for, salvo emitir opiniões sobre tudo e sobre todos. Porque não se
despiu ainda do fato de comentador privilegiado nas televisões, sem qualquer contraditório,
espaço mediático que foi a rampa de lançamento de uma candidatura presidencial
devidamente pensada, e que foi facilitada pela ausência de António Guterres. A
culpa desta palhaçada é da comunicação social que alimenta este presidencialismo
populista e vai a reboque do PR, por tudo e por nada, desgastando as sua imagem
– as pessoas vão começar a ficar fartas de ter que aturar MRS várias vezes ao
dia, todos os dias do ano.
É-me
absolutamente indiferente se Marcelo Rebelo de Sousa achar que por muito que vá
apaparicando os jornalistas - e ele tem sido ao longo dos anos mestre nisso -
impede que lhe sejam feitos ataques como acontecem com outros políticos; é-me
absolutamente indiferente este estranho endeusamento de MRS cujo percurso político
no pós-25 de Abril deixa muito a desejar em termos de envolvimento político
activo em todas as diferentes dimensões - não fossem as presidenciais de 2016 e
nunca teria ganho um acto eleitoral que fosse - como se andássemos todos numa
espécie de festança permanente à volta da figura presidencial.
Sou dos que ligam
rigorosamente ZERO a essas palhaçadas em
que MRS parece envolver-se, tentando ser o que nunca foi, até pela educação, pelo
ambiente familiar e pelos seus círculos sociais. Foi sempre um personagem
elitista, de um determinado estrato social, que pouco ou nada tinha a ver com o
povo, o verdadeiro para o qual corre agora frenético para os braços e beijocas,
deixando a segurança mergulhada numa transe colectiva de não saber bem o que
fazer para travar o homem.
Acho que MRS deve
aproveitar bem isso, porque o tempo vai escassear para ele. E quando as coisas
apertarem – porque vão apertar - quando os portugueses perceberem que ele vai
ter que fazer opções e tomar decisões, quando os eleitores que hoje beijam,
abraçam e riem para ele, perceberem que o homem vai ter que fazer coisas em
concreto, caso a austeridade bandalha e novos cortes venham a ser-nos impostos
em Bruxelas, a partir desse momento tudo
muda e este mundo algo ficcional em que este MRS populista e beijoqueiro
mergulha, provavelmente acabará mais rapidamente do que apareceu.
Acresce que MRS, acusado
de estar a correr o risco de banalizar a presidência da República e até de
retirar alguma sobriedade institucional à função presidencial, será o primeiro
a furtar-se a esse populismo beijoqueiro forçado. Salvo se lavar as mãos qual Pilatos,
tentando atirar para outros a responsabilidade que também é dele, e todos
sabemos que é dele.
Incomoda-me este
MRS que tenta ser o que nunca foi. Chegou a Belém a reboque da comunicação social
e do mediatismo televisivo, ora na RTP de onde foi despedido (episódio de Rui
Gomes da Silva, lembram-se?!), ora mais tarde na TVI, onde foi rei e senhor do
comentário sem contraditório.
Julgo que
dificilmente seria Presidente, caso Guterres tivesse concorrido (e tal como em
devido tempo revelei, pessoalmente apoiaria Guterres por razões que me dizem
respeito) se tivesse partido com as mesmas condições de outros concorrentes
presidenciais. Depois, por experiência, mérito e por percepção das coisas,
foi-se revelando um verdadeiro “manteigueiro” de jornalistas, vive em função
deles, corre ao encontro deles, fala de tudo e de nada, diz o que sabe e não
sabe, fala sobre o que deve falar e sobre o que não devia falar, enfim, comporta-se
como o comentador político pago à peça que se considera um entre os seus pares. Ganha relações, cria
canais de contacto, impede que se gerem
polémicas ou veiculem campanhas contra ele. MRS tem deste modo, de uma forma ou
de outra, a comunicação como um parceiro amarrado de curto. Há uma espécie de permuta
de serviços, prestados ou a prestar, para que tudo continue num ambiente de
aparente forrobodó, até que um dia isto descambe
e ele tenha que tomar, finalmente, decisões.
Promulga diplomas
com avisos ao governo de Costa mas insiste na postura de uma no cravo outra na
ferradura. Pica mas não provoca Costa. Critica o governo, porventura sonha
derrubá-lo, mas antes disso tem contas a ajustar com o PSD e com Passos e pandilha
que com ele tomou o partido de assalto o PSD e o descaracterizaram. MRS sabe isso
tudo, quer isso tudo, mas foge como o diabo da cruz quando tentam encostá-lo à parede
e o confrontam com a possibilidade de ser ele o potencial gerador de uma crise
política.
Referendo sobre a
Europa? Nunca. MRS não quer chatices. Chegou a Belém para 5 anos, mas mal
colocou pé no palácio já pensa nos 5 anos seguintes. Não vale a pena disfarçar.
É isto que ele quer, 10 anos presidenciais, que aos poucos deixarão de ser este
forrobodó beijoqueiro que tem sido.
Bem vistas as
coisas MRS não deu rigorosamente nada ao povo. Nem dará porque não tem essa
competência constitucional. Esse mérito, bem ou mal, é do governo que o PR quer aguentar no poder até ver, provavelmente por ter uma agenda política que
ninguém mais conhece. Não sei se vai durar muito, se será uma reversão da
austeridade porca para sempre. MRS limita-se a assinar os diplomas que chegam a
Belém com propostas e medidas que a outros pertencem, não a ele.
Aquela cena de ir
a correr à Europa com a ilusão na bagagem de que iria resolver alguma coisa é
patética, demasiado patética para ser levada a sério e ser associada à sua
pessoa. A Europa se tiver e quiser lixar-nos, lixa-nos mesmo e estão-se nas tintas para o
frenético MRS que passou 4 anos do anterior governo sem se queimar muito com
opiniões mais ousadas. A ambição presidencial e a necessidade de não hostilizar
o PSD serviam de travão.
O que pode
acontecer é esta Europa, que atravessa um dos piores momentos da sua história, refém
de uma crise de identidade, de valores, de liderança, uma crise económica,
orçamental e social, é descambar. Tudo graças às falcatruas mafiosas de meia
dúzia de falcões de uma Europa tomada de assalto por corporações e por máfias
ligadas ao capital, à finança e à face mais suja da banca. E contra isso MRS
vale zero. E não é o único. Por muito peito-cheio e cara-feia que exibam frente
a um espelho ampliador de imagem...
O chefe do
Mecanismo Europeu de Estabilidade diz que o único país que o preocupa é
Portugal, devido às reformas do governo. Marcelo corre para os braços dos
jornalistas para desvalorizar o germânico, por acaso um palerma que tudo fez
para colocar Passos no poleiro depois das eleições de 2015: "Faz parte da
vida, convivemos com essas preocupações e devemos distinguir aquilo que é mesmo
preocupação daquilo que é uma forma de pressão a cinco ou seis dias de uma
decisão [eventuais sanções a Portugal por incumprimento da meta do
défice]."
Dias
antes, quando se falou na eventualidade de um novo resgate de Portugal, depois
de declarações do ridículo ministro das finanças alemão, eis de novo MRS na
arena mediática, desvalorizando - que mais pode ele fazer?! - tais declarações:
O Presidente da República relativizou essas declarações, considerando que fazem
parte da "pressão política" que costuma anteceder decisões europeias.
"Quando estamos a oito dias de uma decisão europeia - sobre qualquer país,
não é sobre Portugal - começa a haver notícias nalguns jornais, declarações
aqui e acolá, especulações aqui e acolá: vai acontecer, não vai
acontecer".
Marcelo
mediatiza tudo o que faz e tudo o que se mete. Tudo isso tem que ser
aproveitado em prol da sua imagem, dos seus objectivos políticos. O percurso
até Belém não aconteceu por acaso, foi calculado, preparado paulatinamente, foi
antecipado até ao nível de obstáculos e desafios que porventura surgissem nessa
sua caminhada. E surgiram. O sonho presidencial não podia ser ameaçado. A única
ameaça real que surgiu nestes últimos anos chamou-se Passos Coelho, mais ele
que o PSD profundo que acabou por ser, expectavelmente, a causa da sua eleição.
Sem o PSD nada feito. MRS sabia isso, pelo que foi obrigado a gerir uma espécie
de conflito pessoal oculto com P. P. Coelho de forma discreta (mas com recados
enviados através da comunicação, por ele ou por terceiros a ele ligados...),
por vezes numa posição de submissão. Pelo simples facto de que se por um lado
não tinha medo, e não tinha mesmo, da nomenclatura caduca e derrotada do PSD
nacional, por outro nunca podia hostilizar um partido do qual foi Presidente e
ao qual estará inevitavelmente ligado.
Para MRS
tudo passava pela televisão, pelo comentário sem contraditório, por um espaço
de opinião que lhe foi entregue de mão beijada, primeiro pela RTP, depois da
TVI. Marcelo sabe como lidar com isto, sempre soube como fazê-lo. Nada acontece
por acaso, nada é feito ao acaso. Tudo é pensado previamente. Milimetricamente
pensado!
Hoje foi a
notícia, obviamente passada por Belém para o exterior, segundo a qual Cavaco
Silva comprou a poucos meses das eleições um Mercedes S500 Longo de 129 mil
euros. MRS recusou tal luxo e pelos vistos garante que alugou um carro de gama
mais baixa para viatura oficial da presidência.
Por vezes até parece que Marcelo quer disputar com Costa o discurso contra a Europa decadente, contraditória, mais fundamentalista, pressionante, obcecada com o défice, teimosa e manipuladora. Interrogo-me por vezes se este protagonismo do MRS-comentador em Belém não tem alguma coisa a ver com o PSD e com a expectativa sobre o que pode acontecer nas autárquicas a PPC e à pandilha que o suporta e tolera.
É mais do que óbvio que não será nunca por MRS - que não esquece as hesitações do PSD nas presidenciais bem como o exemplar "entusiasmo" mostrado no terreno pelo contrariado PPC quanto ao apoio claro e inequívoco à candidatura presidencial de Marcelo - que o PSD pode ter a vida facilitada em 2017, ano autárquico.
Aliás, já este ano caso as regionais dos Açores corram mal para os social-democratas, como tudo parece apontar nessa direcção, é bem provável que venham a surgir graves divergências partidárias com Lisboa e que os Açores, mais cedo do que se esperaria, comecem a dar sinais de que PPC penaliza o partido impondo-se por isso mudanças a tempo e enquanto for tempo.
Por vezes até parece que Marcelo quer disputar com Costa o discurso contra a Europa decadente, contraditória, mais fundamentalista, pressionante, obcecada com o défice, teimosa e manipuladora. Interrogo-me por vezes se este protagonismo do MRS-comentador em Belém não tem alguma coisa a ver com o PSD e com a expectativa sobre o que pode acontecer nas autárquicas a PPC e à pandilha que o suporta e tolera.
É mais do que óbvio que não será nunca por MRS - que não esquece as hesitações do PSD nas presidenciais bem como o exemplar "entusiasmo" mostrado no terreno pelo contrariado PPC quanto ao apoio claro e inequívoco à candidatura presidencial de Marcelo - que o PSD pode ter a vida facilitada em 2017, ano autárquico.
Aliás, já este ano caso as regionais dos Açores corram mal para os social-democratas, como tudo parece apontar nessa direcção, é bem provável que venham a surgir graves divergências partidárias com Lisboa e que os Açores, mais cedo do que se esperaria, comecem a dar sinais de que PPC penaliza o partido impondo-se por isso mudanças a tempo e enquanto for tempo.
Como foi
posta de lado a venda, por causa da desvalorização do carro, a opção foi outra:
MRS doou o carro a António Costa, dado que o automóvel que o primeiro-ministro
utilizava era já antigo. Ou seja, tudo o que de mais negativo esse Mercedes
podai representar caso fosse usado a Belém, foi exportado para São Bento para
Costa. O homem dado a luxos que até usou um carro recusado pelo Presidente
Marcelo, o mesmo "austero" que cobrava milhares de euros por
pareceres jurídicos! Simplesmente diabólico.
Ao Correio
da Manhã, a Presidência da República, justifica a recusa de Marcelo: “O
Presidente preferiu utilizar um veículo de gama mais baixa, um Mercedes série E
220, tendo alugado e não comprado, um carro desta gama, que o Presidente”. (LFM)
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