quarta-feira, julho 13, 2016

Afinal quais são os reais problemas da Europa? Banca italiana tem uma carteira de malparado que subiu para 200 mil milhões em Maio

É a nova bomba relógio europeia: a banca italiana que precisa de muito capital e de medidas de emergência. Os últimos dados do Banco de Itália revelam que o crédito mal parado italiano subiu em Maio para 200 mil milhões de euros. Os últimos dados do Banco de Itália, revelam que o crédito mal parado em itália, no mês de Maio, subiu ligeiramente face ao mês anterior para os 200 mil milhões de euros, avança a Reuters. Os bancos italianos continuam a sofrer as consequências de uma profunda recessão que dura há três anos. Os créditos maus tornaram-se no foco de preocupações da Europa, por causa da escassez do capital e da pressão sobre a rentabilidade já de si fraca. O Banco da Itália, diz no relatório mensal que "sofferenze", o pior tipo de crédito malparado, subiu para 199,99 mil milhões de euros em termos brutos em Maio, o que compara com 198,35 mil milhões de euros em Abril. Líquido de imparidades, o seu valor foi de 84,95 mil milhões de euros em Maio e de 83,96 mil milhões de euros no mês anterior. A banca italiana é a nova dor de cabeça da União Europeia.  Os analistas estimam que UniCredit, o único banco global importante na Itália, precise de 10.000 milhões de euros de capital. Os últimos números noticiados pela imprensa revelam que uns significativos 17% dos créditos em stock na carteira dos bancos italianos são créditos incobráveis, o que significa cerca de 360 mil milhões de euros em crédito malparado, muitos múltiplos acima dos níveis do pico da crise de 2008.

É cada vez mais consensual que Bruxelas vai ter de aplicar um resgate à banca italiana. Uma troika só para os bancos é que o mercado antecipa.
Ontem na reunião do Eurogrupo, que juntou 19 ministros das finanças da zona euro,  Jeroen Dijsselbloem disse que qualquer plano italiano para a banca teria de respeitar as regras da UE que obrigam a perdas com os credores antes que os bancos possam ser resgatados com dinheiro dos contribuintes.
Isto faz de Itália uma bomba relógio. Itália é um país com elevada taxa de poupança (quando Portugal foi intervencionado pela troika, Itália tinha uma dívida pública em percentagem do PIB superior a 100%, mas a diferença face a Portugal é que estava menos dependente dos mercados internacionais porque a dívida do Estado italiano estava maioritariamente colocada nos italianos, o que dá uma ideia da capacidade poupança). Os dados do Eurostat de 2013 revelavam que a taxa de poupança das famílias italianas estava em cerca de 12%, sendo a taxa mais alta a da Suécia com 18%. Itália é um país com bancos antigos e "dinheiro antigo", a ideia de que esse dinheiro será usado para salvar os bancos poderá ter consequências imprevisíveis sistémicas no sistema bancário europeu. O sistema financeiro italiano precisa de muito capital e pode vir a tornar-se no detonador de uma nova crise bancária na Europa. 
Itália começou por criar um bad bank, cujo financiamento é feito no mercado com garantias estatais, que o Primeiro-Ministro de Portugal admitiu ser modelo adaptável a Portugal, que é o segundo na linha de sucessão dos problemas de falta de capital dos bancos, excesso de balcões e baixa rentabilidade. Mas como disse em entrevista ao Económico a presidente do Euronext, Maria João Carioca,  "Um ‘banco mau’ é tão ou tão pouco útil, consoante tenha acesso a capital para resolver aquilo que o portefólio de créditos que têm de ser resolvidos para que essa resolução possa acontecer. Um ‘banco mau’ que não tem acesso a capital não serve para absolutamente nada".
Foi em Abril que o governo italiano anunciou a criação de um banco mau, com uma dotação entre 5 a 6 mil milhões de euros. Mas este não chega para dar resposta à desconfiança dos investidores que teriam de comprar essas carteiras de crédito mau. Mesmo que fosse possível limpar os balanços dos bancos com um banco mau, há em Itália um problema de excesso de bancos e falta de rentabilidade, e não é só por baixo retorno das taxas de juro. Segundo a OCDE, Itália tem mais agências bancárias que pizzerias. Para que o sistema bancário se ajuste a si propósito, há que cortar dezenas de milhares de empregos e fechar balcões.
Itália vive a tempestade perfeita, pois ao crescimento económico lento ou nulo da economia italiana, às taxas de juro historicamente baixas e às relações da banca com a política, muitas vezes pouco claras, ainda surgiu o Brexit e a sua instabilidade para o sistema financeiro. Como é que os bancos italianos vieram aqui parar? Eram prudentes e mais conservadores que os seus rivais anglo-saxónicos. Tinham escapado aos créditos subprime e aos derivados, os complexos instrumentos financeiros que destruíram os balanços das instituições do Estados Unidos e do Reino Unido. Mas o desenrolar dos acontecimentos veio a demonstrar que não era bem assim o mais antigo banco do mundo, o Monti dei Paschi (fundado em 1472), tinha adquirido um activo sobrevalorizado, no rescaldo da ruptura de ABN Amro em plena crise financeira. O banco italiano nunca se recuperou dos 9.000 milhões de euros que pagou pelo Antonveneta sem fazer uma prévia auditoria financeira.
Para Matteo Renzi a banca italiana é a sua preocupação número um. Aprovou leis que convertem os bancos mutualistas em sociedades anónimas, com o objecto de forçar à consolidação entre bancos, que ao todo somam 600 entidades independentes. O seu Governo também procurou abordar o sistema judicial e aprovar reformas para acelerar os procedimentos de insolvência das empresas que levaram os bancos a acumular créditos incobráveis. É preciso que a média de tempo de recuperação de um crédito não seja superior a oito anos, revela a imprensa internacional.
É mais do que os governos em Portugal fizeram. Melhorar a actual lei dos processos de insolvência, redefinindo as prioridades dos credores no sentido de decisões rápidas que permitam contribuir para a aceleração da recuperação económica dos activos, é um dos apelos dos bancos. Nuno Amado, presidente do BCP fez o apelo, como forma de renovar os balanços dos bancos e a dar mais crédito, e lembrou que "temos um período de recuperação muito complexo e burocrático".  Disse então o presidente do BCP: "É relevante para o sector financeiro e para a economia portuguesa que possa haver uma evolução nas leis do contencioso, do enquadramento judicial dos processos de recuperação de empresas, por forma a que a limpeza da economia real [...] seja conseguida".
Um artigo do Expansión, diz que os bancos italianos têm contabilizado os créditos incobráveis (activos tóxicos que são normalmente destacados em veículos a quem se atribui um desconto face ao valor nominal) a 40 cêntimos mas que o real valor de mercado está nos a 20 cêntimos. Ou seja há uma sobrestimação do valor dos créditos tóxicos. O Banco de Itália não tem dados oficiais sobre a necessidade de capital dos bancos, mas os analistas da Goldman Sachs acreditam que, no seu pior cenário a banca italiana tem "um buraco" de capital bruto de 38.000 milhões de euros.
Infelizmente para Matteo Renzi o tempo de actuação está a esgotar-se. O Governo italiano poderia ter feito uma grande recapitalização entre 2008 e 2010, quando a Europa e os EUA passaram por um processo similar; Poderia ter criado um 'bad bank' em 2012, como fez o governo espanhol, quando ainda havia espaço para outras formas de intervenção dos Estados na banca antes de entrar na política de recuperação e resolução de crises da UE que entrou em vigor no final de 2015. Isto é, antes da nova lei que chama aos regates os credores dos bancos (depositantes e detentores de obrigações).
As novas medidas destinadas a evitar novos resgates impopulares financiados pelos contribuintes, impõem que agora nenhum banco italiano pode ser recapitalizado com dinheiro público sem impor pesadas perdas para os investidores, incluindo, em muitos casos, pequenos aforradores a quem foram vendidos milhares de milhões de euros em dívida através de produtos questionáveis. Entre um terço a metade dos 60.000 milhões de euros de obrigações subordinadas emitidas por bancos estão nas mãos de 60.000 pequenos investidores. Só o Monte dei Paschi tem 5.000 milhões em dívida subordinada.
O pior ainda está por vir
A Itália precisa não só de recapitalizar o seu banco de mais de 500 anos, o Monti dei Paschi, os analistas estimam que o UniCredit, o único banco global importante na Itália, precisa de 10.000 milhões de euros de capital. Pequenas instituições regionais como Cesena e Rimini precisam de centenas de milhões, e não está claro se o Vicenza e o Veneto Banca não vão precisar de capital adicional, avança o Expansión. Em Abril, o Vicenza tentou levantar 1.500 milhões de euros de capital subscrito pelo UniCredit, mas não encontrou compradores. O fracasso obrigou Renzi a criar um fundo de resgate de 4.250 milhões, capitalizado por bancos de Italia, incluindo o Monte dei Paschi, para comprar as acciones de Vicenza e dar una saída ao UniCredit. Atlas, o fundo de resgate, demonstrou ser demasiado pequeno, e muitos temem que tenha piorado a situação, vinculando o futuro de alguns dos bancos mais saudáveis de Italia ao dos mais débeis do sistema. O executivo italiano liderado por Matteo Renzi já estimou serem necessários 40 mil milhões de euros para reforçar o capital dos bancos em Itália. A Itália estará a preparar um plano para resgatar parte do seu sistema financeiro, depois do descalabro bolsista registado após a decisão do Brexit, diz o Expansión (Economico)

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