domingo, maio 06, 2012

Os "limites" da liberdade de imprensa e a libertinagem

O que se passou com as declarações do deputado Coelho do PTP acerca de um alegado suicídio de uma cuidada madeirense – facto desmentido pela família indignada - e a postura da comunicação social neste caso, foi uma vergonha que nos remete a todos para a necessidade de serem observadas regras rigorosas de precaução. Estou a falar claramente das cautelas que o jornalismo também deve ter, e que não se confunde, como hipocritamente alguns podem alegar, com censura ou outras formas de condicionamento da informação. Não duvidemos, para situações excepcionais, e para protagonistas excepcionais, comportamentos excepcionais. Quando constatamos que um deputado é publicamente obrigado a pedir desculpa por falsas declarações proferidas no plenário da ALM, abordando uma questão social (e pessoal) perfeitamente falsa e inventada, apenas porque resolveu dar projecção mediática "ao que se diz na freguesia" (como é que o jornalismo sério pode dar credibilidade a este tipo de comportamentos que usam estas "fontes de informação?!) julgo que estamos, por um lado, perante uma situação perigosa que, por um lado, confirma a definitiva falta de credibilidade de um político que encontra fácil espaço na comunicação social, graças a uma atitude de lamentável oportunismo, do mais asqueroso que há - a que se junta o mistério sobre a obtenção de uma fotografia exibida no plenário parlamentar e que a própria família admite ter sido obtida no cemitério! - e, por outro, perante a necessidade dos jornalistas e dos meios de comunicação social, de uma vez por todas, aprenderem a lição e se deixarem de utilizar declarações de terceiros para atacar outros e colocar o bom nome das pessoas em causa, dando imediata projecção ao que é dito sem que deontologicamente tenham ajuizado sobre as incidências e as implicações delas resultantes nem provado o que é afirmado. Se esse caso fosse levado ao extremo, pelos familiares, nomeadamente na justiça, teríamos certamente uma situação complicada para muitos dos protagonistas. Não podemos permitir que determinadas personagens transformem o jornalismo em "jornalismo-vuvuzela", por mera conveniência ou confluência de interesses, tal como os jornalistas, a partir de agora, devem precaver-se e não tolerar que os utilizem e os transformem em meras "caixas-de-ressonância" de políticos sem escrúpulos, numa situação que poderá ter custos elevados. Se persistirmos pelo caminho do vale tudo, ou uma espécie disso, o colapso é apenas uma questão de tempo. Aliás, julgo estarem à vista de todos os resultados concretos dessa degradação, os quais têm mais a ver com os efeitos negativos de um permanente atropelo de valores e de uma cegueira face às normas deontológicas mais essenciais, e menos com a conjuntura difícil que abala – e vai continuar a abalar negativamente – a comunicação social em geral. E não se esqueçam finalmente da questão porventura mais importante: um deputado, seja ele quem for, desfruta sempre da imunidade parlamentar que o impedirá, enquanto ocupar o lugar, de comparecer perante a justiça. Mas os meios de comunicação e os seus jornalistas esses, caso existam processos nos tribunais, são chamados a depois e obrigados a comparecer.
Não conheço a senhora em questão nem a sua família. Estou por isso completamente à vontade para abordar o assunto ao contrário do deputado em questão, como ele próprio reconheceu. Mas não podemos, seja em que circunstância for, proferir declarações apenas com base no "diz-se, diz-se" ou simplesmente porque nos apetece. Tendo a certeza de uma lamentável projecção mediática dos meios de comunicação social que se comportam nestes casos (e já temos inúmeros exemplos disso) como meros retransmissores ignorando até a gravidades das declarações e a complexidade do assunto. Em casos semelhantes – até pelos prejuízos causados, como parece ser o caso da senhora, cuja família indignada, segundo li, corre o risco de ficar privada até de seguros e de pensões de sobrevivência devido à falsa acusação de suicídio – a atenção deve ser redobrada e, doa a quem doer, a notícia passa a ser objecto de redobrado cuidado. Mesmo que alguns "arautos" venham chamar para a praça pública contra alegados "atentados" à liberdade de imprensa ou acusar seja quem for de censura. Confrontem sempre, os riscos que os meios de comunicação social correm e o conforto da imunidade parlamentar de quem pode, de um momento para outro, lançar jornalistas ou meios de informação opara uma penosa caminhada nos tribunais.

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