quarta-feira, maio 02, 2012

Opinião: A Crise e o Desemprego nos Açores

"No início de 2012, quando foram conhecidos os dados relativos à taxa de desemprego do 4º. trimestre de 2011, a notícia de que o desemprego tinha atingido 15,1% caiu que nem uma bomba e podemos afirmar que foi talvez o indicador ao nível da economia regional que maior oscilação teve desde que a actual crise se manifestou.Ao nível dos outros indicadores de actividade, os Açores, apesar de tudo, gozam de um clima económico globalmente mais favorável do que o Continente e a Madeira.Ao longo das últimas décadas, a taxa de desemprego apresentou taxas muito baixas, entre os 2 a 5%, conforme é possível verificar no quadro 1 onde só destoam as taxas de 1994 a 1996, resultantes da recessão económica iniciada nos anos 1993/94.De notar que a crise de 2003, com fortes repercussões a nível nacional, não é perceptível nas taxas dos Açores, dado estarmos em contraciclo devido ao crescimento da economia e do emprego sentidos nesses anos, com especial destaque para os sectores da construção civil e do turismo.De notar ainda o crescimento continuado da taxa de desemprego desde 2001 até à actualidade em 9,2 pontos percentuais.Na tentativa de encontrar algumas explicações para o sucedido no 4º. trimestre, se analisarmos o comportamento da evolução da população activa e população empregada, ao longo dos últimos anos, verificamos a evolução destas variáveis no quadro 2.A análise deste quadro revela o seguinte:1 – A população residente aumentou de 1995 para 2010 em 3,3%, com mais 7.822 pessoas.2 – A população activa (população com mais de 15 anos e inserida no mercado de trabalho) aumentou 27,8% com mais 26.219 indivíduos.3 – A população empregada aumentou 22,5% com mais 19.542 indivíduos.4 – A maior parte do crescimento verificado na população activa (26.219 indivíduos) é originada fundamentalmente pela entrada de mulheres no mercado de trabalho, com mais 19.062 pessoas, representando 72,7%, enquanto que os homens tiveram um aumento de apenas 7.156 indivíduos (27,3%).Isto significa que, de forma consistente, a taxa de actividade aumentou significativamente nos Açores ao longo das últimas duas décadas e apesar do número de empregos também ter crescido significativamente, devido ao grande incremento sentido no sector dos serviços, que emprega hoje cerca de 63% da população activa, não foi suficiente para absorver as entradas de novos activos em número superior à criação de postos de trabalho.Relativamente às taxas resultantes destas alterações, veja-se o quadro 3.Apesar do forte crescimento da taxa de actividade nos Açores, de referir que a percentagem de inactivos (estudantes, reformados, crianças e outros fora do mercado de trabalho) é ainda muito superior à média nacional, se tivermos em conta que a taxa de activos nos Açores em 2010 foi de 48,2%, enquanto que a média do país se situa em 74%. Isto significa que a nível nacional só 26% da população residente é inactiva, enquanto que nos Açores essa percentagem é o dobro (51%).Relativamente à taxa anual de desemprego nos Açores em 2011, de 11,5% é importante fazer as seguintes comparações:1) A mesma taxa anual verificada em 2011 no país, foi de 12,7% e na Região da Madeira de 13,8%.2) A subida do valor da taxa registada em 2008, (5,5%) que representa o início da actual crise, mais do que duplicou relativamente à taxa de 2011 (11,5%).Quanto à taxa registada no último trimestre de 2011, no valor de 15,1%, esta representa, face ao valor homólogo de 2010 que registou 7%, um aumento superior ao dobro (8,1 pontos percentuais).Face a valores tão elevados e em rápida aproximação aos níveis das taxas nacionais, impõe-se colocar a questão se esta é uma flutuação cíclica ou se estamos perante um movimento estrutural, não é fácil avançar com explicações simples para mudanças tão radicais no comportamento desta variável económica.Sabemos que no início de 2011 houve alteração no critério de recolha e análise estatística e possivelmente esta mudança representa sensivelmente entre 1 a 2 pontos percentuais, se compararmos os valores do 4º. trimestre de 2010 com os valores da nova série apresentados no 1º. trimestre de 2011.Também os dramáticos efeitos da crise ao nível do sector do turismo, que não cresce há 3 anos, e ao nível do sector de construção são outra das causas que explicam a forte subida do desemprego.De facto, segundo o Serviço Regional de Estatística dos Açores, o número de licenças de edifícios caiu em Fevereiro de 2012, face aos 3 meses anteriores 43,2% e, relativamente a Fevereiro de 2011 29,7%. Estas licenças já tinham sofrido, em 2011, uma queda de 13,5% face a 2010, o que revela bem o difícil momento que todo o sector atravessa.Outra causa que explica igualmente o aumento da taxa de desemprego é o constante aumento da taxa de actividade, em especial da participação feminina.Por outro lado o aumento generalizado dos prazos do subsídio de desemprego faz aumentar o tempo de duração do mesmo, tornando-se assim promotor do desemprego de longa duração. Esta questão vai requerer medidas de política a curto prazo, já que em 2011 a percentagem de desempregados de longa duração (mais de 12 meses) representava nos Açores quase metade (47,6%) do total de desempregados pode não significar que as taxas actuais de desemprego nos Açores representam um problema não cíclico mas estrutural da economia açoriana.Por último, estudos económicos recentes do Banco de Portugal referem que em alturas de crise, a entrada de novos activos para o mercado de trabalho se processa a um ritmo superior ao normal, já que pessoas preocupadas com o futuro ou que simplesmente estão muito dependentes do ordenado de um dos membros do agregado familiar, têm tendência a ingressar no mercado de trabalho, de forma a prevenir eventuais despedimentos ou baixas de rendimento do agregado familiar.Com esta análise podemos prever que as taxas de desemprego actuais vão permanecer, futuramente, na casa dos dois dígitos por mais alguns anos e que o mercado laboral, devido às elevadas taxas de desemprego, irá sofrer fortes ajustamentos.A crise económica e as alterações do mercado de trabalho, condicionadas quer pela taxa de desemprego quer pelas mexidas na legislação laboral, vão estar também na origem de futuros ajustamentos ao nível da dimensão e qualificação da força de trabalho nas empresas.Em contrapartida, estes ajustamentos podem vir a revelar-se de crucial importância para a eficiência do funcionamento de muitas empresas, dando-lhes mais competitividade e produtividade no futuro" (texto de Carlos Alberto da Costa Martins, publicado no Correio dos Açores, com a devida vénia)

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