quinta-feira, maio 17, 2012

Desemprego: há 24 anos que não havia tão poucas pessoas a trabalhar no País!

Escrevem, os jornalistas do Económico, Margarida Peixoto e Luís Reis Pires que "a taxa de desemprego em Portugal atingiu um novo recorde no trimestre: 14,9%. É preciso recuar a 1988, quando Cavaco Silva era primeiro-ministro e George Michael liderava os tops com o single ‘Faith', para encontrar um ano com tão poucos trabalhadores em Portugal, face ao conjunto das pessoas disponíveis. Os dados revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que há apenas 4.662,5 mil trabalhadores - um número que representa pouco mais de metade da população em idade activa (com mais de 15 anos, nove milhões de pessoas). Os desempregados, pelo contrário, nunca foram tantos. O grupo dos trabalhadores está cada vez mais magro - e, entre os que trabalham, bem mais de metade (63,5%) ganha menos de 900 euros. Além disso, trimestre após trimestre a população empregada tem vindo a cair - uma tendência que no longo prazo pode ser explicada pelo envelhecimento da população, mas que no curto prazo está a ser acentuada pela subida do desemprego. Face ao conjunto da população em idade activa, há 24 anos que o número de trabalhadores não era tão baixo. São 51,7% do total. Em termos absolutos, o número de empregados está ao nível do registado em 1997, mas nesse ano a população em idade activa também era mais baixa.
Agora, trata-se antes de uma destruição líquida de postos de trabalho, com o consequente aumento dos desempregados. O INE registou menos 203,5 mil empregos no primeiro trimestre deste ano, face ao mesmo período de 2011. A consequência foi um aumento do número de desempregados para valores nunca vistos: há 819,3 mil pessoas activamente à procura de trabalho. Entre Janeiro e Março deste ano, quem ficou desempregado foram sobretudo homens, com habilitações ao nível do ensino secundário e pós-secundário, que trabalhavam nos Serviços. O mais provável é que a maioria destes desempregados leve mais de um ano a sair desta situação. A taxa de desemprego de longa duração continua a aumentar (atingiu já 7,6%) e o INE mostra que 50,8% dos desempregados demora mais de 12 meses a encontrar trabalho.E apesar do desemprego ser mais acentuado entre a população mais velha - dos 45 aos 64 anos -, o impacto da crise também se está a reflectir de forma significativa nas ofertas de trabalho para a população mais nova: a taxa de desemprego jovem - dos 15 aos 24 anos, segundo a metodologia do INE - supera já os 36%.
Há 1,2 milhões de pessoas que queriam trabalhar mais
Apesar da dimensão histórica dos números do desemprego, estes dados escondem, ainda assim, uma realidade mais negra. Para contar nas estatísticas dos desempregados, o critério do INE - que é o mesmo seguido em toda a União Europeia - exige que os indivíduos tenham procurado activamente trabalho nas últimas três semanas. Caso contrário, não são considerados desempregados, mesmo que digam que não trabalham, mas gostavam de trabalhar. Ainda assim, é possível calcular o desemprego real: aquele que contabiliza todas as pessoas que querem trabalhar mas por alguma razão não fizeram diligências para isso, bem como aquelas que estão empregadas, mas queriam trabalhar mais horas e não encontram alternativa. Ora, fazendo as contas a este universo verifica-se que há 1.224,4 mil pessoas que, no critério do senso comum, poderiam ser consideradas desempregadas.
Sem crescimento não há criação de emprego
O valor recorde do primeiro trimestre poderá dar lugar a algum alívio nos próximos meses. "É possível que no segundo trimestre haja alguma melhoria em relação aos 14,9%, devido a movimentos sazonais", afirma Paula Carvalho, economista do BPI, acrescentando que, "se tal se verificar, isso pode acomodar algum agravamento" que deverá ocorrer na segunda metade do ano. No entanto, frisa a economista, por agora "os registos nos centros de emprego continuam a aumentar bastante". O eventual alívio no segundo trimestre nunca será ao ponto de evitar uma taxa historicamente elevada, avança Eduardo Catroga. "Infelizmente, vamos continuar com uma taxa de desemprego elevada este ano e no próximo, seguramente", disse o economista e ex-ministro das Finanças à Lusa. "A economia portuguesa começa a criar emprego quando a taxa de crescimento económico caminha para os 2%. Não vejo capacidade de criação de emprego enquanto isso não acontecer", concluiu. A opinião dos economistas é corroborada pelas perspectivas dos empresários contactados pelo Diário Económico: é unânime a afirmação de que, enquanto a economia nacional não inverter o ciclo recessivo, não haverá lugar à contratação".

Sem comentários: