quinta-feira, março 01, 2012

Cortes na saúde criaram tragédia grega

Li no Dinheiro Vivo que "em apenas dois anos, o governo helénico reduziu a sua despesa na saúde dos 17 mil milhões de dólares para os 19,5 mil milhões, uma diminuição de 13% e para este ano, os gregos devem esperar novos cortes no valor de pelo menos 915 milhões de dólares. Apesar de muitos peritos reconhecerem que o sistema público de saúde helénico estava a precisar de várias reformas, em parte devido à corrupção galopante, os cortes orçamentais no sector criaram um problema muito maior que a médio e a longo prazo vai ter custos sociais e financeiros avassaladores. O acesso a medicamentos também se tornou um problema para muitos pacientes e algumas empresas farmacêuticas pararam de fornecer medicamentos aos hospitais. O Estado helénico deve milhões a estas empresas e algumas delas estão insatisfeitas com os valores mais baixos que o governo pretende agora pagar-lhes, conta o New York Times. Isto inclui a gigante farmacêutica Roche, que fabrica medicamentos exclusivos para o cancro. Muitos farmacêuticos estão também a exigir pagamentos em dinheiro dos pacientes, porque não estão dispostos a esperar pelos reembolsos do Estado. O presidente da associação farmacêutica de Atenas, Konstantinos Lourantos, disse ao NYT que poucos farmacêuticos têm a capacidade de esperar pelos reembolsos, especialmente em relação aos medicamentos para o cancro, que podem custar até 5 mil euros por mês.
Tragédia grega na saúde
Os cidadãos gregos estão assim a pagar a crise no seu país com o seu dinheiro e com a sua saúde. Recentemente, três médicos escreveram um artigo no jornal médico britânico Lancet onde alertavam para os perigos de uma potencial “tragédia grega” na saúde. Alexander Kentikelenis e David Stuckler da Universidade de Cambridge e Martin McKee da London School of Hygiene and Tropical Medicine avisaram para os perigos do dramático declínio na saúde da população e na deterioração dos serviços prestados nos hospitais devido aos cortes na saúde. Muitos gregos perderam acesso ao serviço nacional de saúde através de planos de saúde no trabalho e na Segurança Social, e o aumento dos níveis de pobreza significa que aqueles que usavam anteriormente o sector privado vão agora voltar para os hospitais do Estado. Além dos cortes selvagens na saúde, o aumento de utentes colocou imensa pressão num sistema caótico e corrupto que já estava em declínio, segundo o The Guardian. Os orçamentos dos hospitais caíram 40% entre 2007 e 2009, e existem relatos de falta de pessoal e de medicamentos e de pacientes a pagarem subornos ao pessoal médico para passarem à frente de filas. “Existem sinais de que a saúde tem piorado, especialmente em grupos vulneráveis”, dizem os autores do estudo. Houve um aumento de 14% no número de gregos a declararem o seu estado de saúde como “mau” ou “muito mau” entre 2007 e 2009.
Aumento dos suicídios
Os suicídios aumentaram 17% durante o mesmo período, e dados não oficiais falam de um aumento de 25% entre 2009 e 2010. O Ministério da Saúde revelou que no primeiro semestre de 2011 houve um aumento de 40% comparando com o mesmo período de 2010. “A linha de assistência ao suicídio reportou que 25% das chamadas eram de pessoas que enfrentavam dificuldades financeiras em 2010 e relatos nos média indicam que a inabilidade de pagar altos níveis de dívidas pessoais pode ser um factor-chave no aumento dos suicídios”, dizem os autores do artigo. “A violência também aumentou com a taxa de homicídios e de roubos a aumentarem para o dobro entre 2007 e 2009”. Os médicos de família e a consultas nos hospitais não são muito caras, mas muitos gregos não conseguem pagar a taxa moderadora de 5 euros que é exigida quando visitam estas unidades e os médicos dizem que muitas vezes são obrigados a discutir por causa do pagamento destas taxas. Entretanto, houve um aumento significativo no número de pessoas que foram admitidas em hospital: um aumento de 24% entre 2009 e 2010 e outros 8% no primeiro semestre de 2011, comparando com período homólogo.
Infecções de HIV sofreram um aumento significativo
O impacto dos cortes nos medicamentos é particularmente alarmante. As infecções de HIV aumentaram significativamente em 2010, com os utilizadores de drogas injectáveis a aumentarem em 50%, em 2011 estima-se com o número de toxicodependentes aumentou em 52%. Muitas das novas infecções estão também relacionadas com a prostituição e com o sexo desprotegido. O uso da heroína aumentou 20% em 2009, segundo o Centro Grego para a Documentação e Monitorização de Drogas
Os cortes orçamentais em 2009, 2010, 2011 e 2012 levaram à diminuição em um terço dos programas de combate ao uso de estupefacientes. “No geral, o cenário da saúde na Grécia é preocupante”, dizem os autores do artigo. “Num esforço para financiar dívidas, as pessoas comuns estão a pagar um preço elevado: perdendo o acesso a serviços de cuidados e de prevenção de saúde, enfrentando elevados níveis de HIV e de doenças sexualmente transmissíveis, e nos piores casos perdendo as suas vidas. É necessária uma maior atenção à saúde e ao acesso a cuidados de saúde para garantir que a crise grega não coloque em risco a última fonte de riqueza do país: o seu povo”, concluem os autores do artigo”.

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