sexta-feira, julho 15, 2011

Marques dos Santos ao "Expresso": “Estamos à procura de parceiros

A jornalista do Expresso, Isabel Vicente, entrevistou o Prsidente do Banif, trabalho que a seguir reproduzimos com devida vénia:
"Mais de um ano após perder o seu fundador, o Banif, tal como os outros bancos portugueses, debate-se com um contexto económico adverso que não dá mostras de serenar. Joaquim Marques dos Santos, que sucedeu a Horácio Roque nos destinos do grupo, diz que é preciso reestruturar e encontrar um parceiro com liquidez para dar seguimento à estratégia de crescimento do banco.
Como está o Banif a reagir à crise?
- A fazer o trabalho de casa. A cortar nos custos, a reduzir no crédito e a reforçar os depósitos... A arrumar a casa e a seguir as linhas orientadoras do Banco de Portugal e da troika de forma a cumprir com todas as exigências.
O que quer dizer com arrumar a casa?
- Autonomizar negócios que estão dentro da holding que controla o banco, a Banif SGPS, e arranjar parcerias para as operações que temos no exterior, entre outras iniciativas que estamos a estudar.
Isso passa também por arranjar um parceiro internacional de peso para o grupo?
- Tendo em conta a atual situação seria importante ter um parceiro que permitisse alavancar o banco para o crescimento. É um cenário que não descuramos. Ter um parceiro que nos aportasse capital e liquidez seria bem-vindo.
E será um maioritário?
- Estamos à procura de um parceiro e a preparar essa hipótese. Se for um parceiro muito interessante que queira ter a maioria do capital estudaremos esse cenário... Não temos limitações. Está tudo em aberto.
Pode então dizer-se que o Banif está à venda?
- Acho que é mais uma união de facto. O Banco não está propriamente à venda. Como já disse, se for um parceiro interessante, vamos equacionar os vários cenários possíveis. O Banif tem um papel importante na sociedade portuguesa. Lideramos na Madeira, nos Açores e somos um banco de relação que preserva e cultiva uma relação de proximidade com os clientes. A gestão do banco quer preservar o projeto com a garantia e melhoria de valor para os acionistas. Perante a atual situação económica e financeira, a solução para o Banif passa por encontrar um parceiro que ajude o banco não só a crescer, mas a crescer com rentabilidade.
Há interessados?
- Já há trabalho feito. Há conversas
O jornal “Público” referiu esta semana que o banco angolano BIC tinha sido sondado para comprar o Banif...
- Desconhecemos qualquer negociação. No comunicado que tivemos de fazer à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) é referido que as duas herdeiras do comendador Horácio Roque declaram não ter mandatado ninguém para vender a sua posição detida através da Rentipar.
Poderiam chegar a acordo com algum parceiro noutras geografias onde têm operação, por exemplo Malta, Espanha ou Cabo Verde?
- Não necessariamente.
Também já se falou no Banco do Brasil, curiosamente o mesmo banco que foi sondado para comprar o BPN...
- Sobre esse assunto também já fizemos um comunicado à CMVM em maio. Hoje, tal como na altura, não existe qualquer acordo ou processo negocial relativo à venda de uma posição do Banif.
Quando falou em autonomizar negócios dentro do grupo e arranjar parcerias nas operações que têm no exterior, está a referir-se exactamente a quê?
- Estamos a tomar medidas internas de desagregação para algumas unidades de negócio, como nos seguros e na área do turismo que temos nos Açores. E ao mesmo tempo a agregar outras actividades e a arranjar parcerias no exterior.
De que forma vai autonomizar os seguros? Vai precisar da aprovação dos accionistas...
- Por exemplo através de uma operação de spin off. Obviamente teremos de ouvir os accionistas em Assembleia Geral. Estas e outras medidas estão a ser programadas para ficarmos perto dos 9% de rácio de capital de base ( core tier 1) exigidos pela troika até ao final do ano. Servem para aliviar a componente dos rácios de capital.
No final de 2010 reforçaram o capital. Vão voltar a precisar de aumentar o capital?
- É provável.
E vão recorrer à linha de apoio do Estado se não arranjarem um parceiro até ao final do ano?
- O nosso desejo seria o de termos um novo acionista de referência até ao final do ano, mas se for necessário não temos qualquer problema em recorrer à linha de recapitalização do Estado.
Mas o governador do Banco de Portugal veio dizer que seria melhor os bancos resolverem a situação sem recorrer à linha de recapitalização do Estado...
- E é o que estamos a procurar fazer. É isso que queremos, mas se for necessário não enjeitaremos essa possibilidade, depois de conhecer as condições.
Qual o montante máximo a que podem recorrer?
- Teoricamente o montante destinado ao banco, segundo um cálculo nosso, está entre os €500 milhões e os €600 milhões. Mas nunca será necessário um montante tão elevado.
Há duas semanas, a Moody’s reviu a notação de risco do Banif para lixo, o mesmo patamar onde a Fitch o colocou desde Abril. Esta semana, depois de descer para lixo o rating da República portuguesa, também baixou o dos empréstimos que os bancos têm com aval do Estado. É expectável que possam baixar novamente os da banca?
- O downgrade do Banif e da banca em geral tem resultado sempre da descida do risco da República. Em Abril, quando desceu o rating de todos os bancos, decidiu não nos afectar porque estava a analisar o nosso comportamento na evolução do crédito. Fê-lo há duas semanas. E pode voltar a fazê-lo nos próximos dias, embora a situação da banca seja igual à que era há três meses, com o devido respeito pela degradação económica em geral que, obviamente, nos afecta.
Como é feita a avaliação ao Banif?
- Os senhores da Moody’s, da Fitch e da Standard & Poor’s estão lá nos gabinetes, onde analisam as contas, fazem-nos uma visita anual e escalpelizam tudo. Depois fazem perguntas e fazem as suas análises. Nós damos mais valor à análise que o Banco de Portugal faz e à que os nossos auditores fazem.
Houve alguma manifestação de interesse por parte das filhas do comendador Horácio Roque na gestão do banco?
- Não houve nenhuma manifestação nesse sentido. A dra. Teresa Roque já fazia parte do conselho consultivo do banco e mantém-se nesse órgão. Na última Assembleia Geral foi eleita membro não executivo do conselho de administração da Banif SGPS, assim como também o dr. Vítor Nunes, do Banif Mais. Foi a única alteração”.

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