quinta-feira, junho 02, 2011

Saúde: a dignidade de Pedro Ramos

Não conheço o dr. Pedro Ramos, apenas de vista e da comunicação social. Por isso estou àvontade para elogiar a sua tomada de posição, onde divulgada no Jornal da Madeira, a propósito da forma tendenciosa como algumas questões ligadas ao sector da saúde na Região, particularmente com a ortopedia, têm sido levadas até ao Bastonário e a forma algo descuidada – porque é importante conhecer todos os contornos e não apenas casos isolados, desligados uns dos outros – como este tem intervido confundindo a dignidade que está atribuída a um Bastonário com questões do foro meramente sindical.
Continuo a pensar que o Bastonário, médico José Manuel Silva, é uma pessoa séria, que sabe o que se passa, que se demarcou com uma herança de má memória que lhe foi deixada, que não pretende seguir os mesmos conflitos nem vingar-se por causa de exigências corporativistas recusadas. Acredito que o médico José Manuel Silva saberá assumir a realidade da saúde na Madeira, que não vai confundir a árvore com uma imensa floresta, que não deve confundir um a ou duas maças podres num cesto onde todas as demais estão em perfeitas condições e que vai certamente normalizar rapidamente o que é preciso normalizar, ainda por cima quando a qualidade dos serviços e a competência profissional dos médicos e enfermeiros, apesar de todas as dificuldades que sabemos existirem no país, é inatacável. E quando se fala na idoneidade formativa dos serviços hospitalares na Madeira desafio quem quer que seja a compará-la com o que se passa na esmagadora maioria dos hospitais do continente, com excepções, porque há hospitais novos (veja-se o de Braga, por exemplo) e com condições que os nosso não têm, como é evidente e fácil de reconhecer. Mas quanto à competência profissional dos médicos, quando se fala em idoneidade formativa, tenho a certeza de que eles pedem meças aos seus pares continentais e que certamente se sentem indignados com o facto de unilateralmente terem sido desrespeitados, ridicularizados e postos em causa pelo anterior Bastonário de má memória que inclusivamente publicamente os desautorizou, quando a quase totalidade os directores de serviços hospitalares deram voz aos eu protesto pela situação criada e remeterem uma carta contestando tudo o que foi feito e de exigência da sua rápida normalização. É bom que as pessoas se recordem de tudo o que se passou e que tenham presente os culpados e os cúmplices, localmente falando, desses tempos e dessas decisões.
A posição do médico Pedro Ramos, que o dignifica, é, certamente, resultado de um grito de revolta que ele e muitos outros médicos sentem, devido ao facto da ortopedia continuar a ser, sistematicamente, quer o “abastecedor” de sindicalismos, quer o detractor da imagem do sector da saúde. E não é preciso as pessoas fazerem um grande esforço para perceberem que é isso que se passa. Não posso, nem devo, obviamente, generalizar a todos os profissionais da Ortopedia, mas que me parece óbvio que é o único sector hospitalar que aparece nos jornais, e nunca por bons motivos, dando uma má imagem dos serviços, que não corresponde à realidade, disso não tenho dúvidas. Aliás, até parece que os médicos ortopedistas são uma espécie de “salvadores da pátria” e que só eles se preocupam com os doentes, que só eles estão empenhados em operar, só eles cumprem horários, só eles não dão “secas” aos doentes que por eles esperam no Hospital, etc, etc. Aliás deixo um desafio aos jornalistas mais acutilantes ou que por razões que não vêm agora ao caso, tem acesso a determinados documentos, hoje no âmbito da justiça, e que alguns jornalistas terão tentado sem sucesso obter: é ou não verdade que existiu um documento, com circulação interna, fazendo o ponto da situação à realidade na ortopedia, enumerando várias situações em concreto e concluindo claramente que enquanto se mantiver esta direcção clínica no Hospital do Funchal, o sector nunca poderá aceitar nenhum director de serviços? A mim garantiram-me que existe, mas não me compete confirmá-lo. Já o teria feito se estivesse no exercício do jornalismo, o que não é o caso presente.
Sei que muitos outros médicos e médicas pensam como o dr. Pedro Ramos, que subscrevem as suas preocupações e críticas, que se sentem indignados e indignadas com a continuada suspeição levantada contra os serviços de que fazem parte, que estão furiosos e furiosas com o facto da sua dignidade e competência profissionais ser posta em causa ou ter sido questionada por causa de questiúnculas corporativistas e “vendettas” internas que, sinceramente, desconheço se são pessoais, políticas, ou mesmo profissionais ou institucionais. Os jovens médicos, quer os chamados IAC (internos de ano comum), quer os que este ano iniciaram fora da Região a sua especialização, quer aqueles que em situações normais teriam sido colocados na Madeira - a quem, em situações normais teriam sido atribuídas mais vagas em áreas cuja necessidade é mais urgente – sabem o que se passa, sabem quem são os culpados pela situação deprimente e desmotivante que hoje vivem. Sei de situações de jovens médicos que desistiram da suas especialidade para a retomarem mais tarde, sei de jovens médicos que vagas da Madeira e que se sentem “marginalizados” e estão a ser pressionados, dada a demora inaceitável na normalização da situação, a abdicar delas para que sejam integrados plenamente nos hospitais continentais que os acolheram, que partem do princípio que só assim investirão na formação de um futuro médico que por lá ficará, não o fazendo nos casos em que sabem que, mais cedo ou mais tarde, regressam à Madeira. Pergunto: será que acham normal e justo que isto aconteça? Será normal e justo que além de terem obrigado estes jovens médicos, os IACs e os da especialidade, a permaneceram no Continente, lhes imponham a despesas adicionais, resultantes da sua colocação fora da Madeira, e quando auferem ainda parcos salários? É uma indignidade, uma vergonha, uma situação que deveria envergonhar aqueles que permanentemente desestabilizam a saúde (ou tentam, porque não vão conseguir nada) e que conseguem, estranhamente, notícias e destaques mediáticos nalguma comunicação social, provavelmente alimentada não pelo rigor deontológico, mas pela conhecida ânsia de vingança pessoal e institucional. Uma nota final: o que tem feito a secção regional da Ordem dos Médicos em relação a tudo isto, não relativamente aos ortopedistas - porque quanto a isso estamos esclarecidos, e de que maneira? Mas em termos de resolução acelerada de uma situação que a todos deveria envergonhar, até porque não me parece difícil concluir que os (as) médicos (as) que hoje estão naquela instituição de classe sabem, melhor do que ninguém, que é esta a triste realidade com que nos confrontamos. E pouco me importa saber que posições foram assumidas em reuniões do CNIM ou CNE (ou coisa do género) quando se falou na problemática dos internatos médicos na RAM e especular sobre as motivações que a elas estiveram subjacentes.


P.S. Nos meus tempos profissionais no Jornalismo, uma das propostas que andou durante anos a passar pela s redacções visava a constituição d e uma Ordem dos Jornalistas. Creio que esse sonho mais elitista persiste nalguns, poucos, profissionais. A esmagadora maioria dos jornalistas, eu próprio, estivemos sempre contra essas corporações, porque entendíamos na altura, e julgo que hoje essa perspectiva se mantém, que as questões profissionais da classe deveriam ser abordadas, negociadas e resolvidas pelo Sindicato dos Jornalistas que continua a existir. Hoje, quando me confronto com esta confusão entre corporativismo e sindicalismo, quando olho para determinadas situações, fico com a consciência tranquila pois convictamente concluo que sempre estive então no lado certo da contenda.

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