Portugal menos católico?
Segundo o DN de Lisboa, num texto da jornalista Rita Carvalho, "dados divulgados ontem pelo Vaticano mostram que, em 2008, 88,3% dos portugueses eram católicos. Dois anos antes, a percentagem estava nos 93%. Igreja já está a reflectir sobre o problema. Dez anos depois da última visita do Papa a Portugal, Bento XVI vai encontrar um país menos católico do que João Paulo II em 2000. Em dois anos, o número de fiéis caiu de 93% da população em 2006 para 88,3% em 2008. Dados divulgados ontem pelo Vaticano mostram que, de 2000 a 2008, diminuíram também os padres e seminaristas. A tendência de redução do número de católicos não surpreende os responsáveis da Igreja nem a socióloga da Universidade Católica do Porto, Vera Duarte. "As pessoas sentem que a Igreja não acompanha o que consideram que devia ser o ritmo da sociedade e acabam por desacreditá-la", afirmou a socióloga que tem estudado o fenómeno religioso, dando como exemplos a contracepção, o aborto, a eutanásia ou os casamentos homossexuais. Nisto a Igreja tem posições inflexíveis e tem estado na frente do combate. Vera Duarte considera que a mudança de hábitos religiosos reflecte as próprias alterações da sociedade nos últimos anos. "Antes nascia-se católico e morria-se católico. Ninguém questionava os princípios. Hoje, as pessoas encontram outros valores com os quais, bem ou mal, se sentem integradas e valorizadas. Valores como o consumismo, a produtividade ou a estética sobrepõem-se aos de matriz cristã, como a dádiva ou generosidade." Outro dado que ajuda a retratar a realidade é o número de crentes praticantes, neste caso, que vão à missa com regularidade. Em 2000 eram apenas dois milhões, enquanto o número de católicos passava os nove milhões. Além das mudanças sociais, Vera Duarte considera que "acontecimentos" que denigrem a imagem da Igreja levam os crentes a sentir--se "ofendidos". O escândalo de pedofilia ou a falta de pobreza manifestada por alguns sacerdotes criam mal-estar entre os crentes e gera confusão. "As pessoas justificam a falta de crença com o mal que a Igreja faz. São coisas diferentes: uma é a falta de fé em Deus, outra a falta de crédito na instituição." Este cenário lança novos desafios à Igreja que "tem de olhar a questão com preocupação e tentar chegar às pessoas de outra forma", considera a socióloga. E é isso que a hierarquia da Igreja está a fazer, garante Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa. Em curso está um profundo trabalho de reflexão sobre a pastoral da Igreja e para o ano haverá novas directrizes e linhas de acção. "A Igreja está a fazer este aprofundamento junto das bases, nas paróquias e movimentos. Já seguiu um documento com princípios e perguntas para serem respondidos", disse ao DN".
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