terça-feira, junho 30, 2009

Açores: leiam esta história de mentira e manipulação sobre as provas de aferição

O Diário dos Açores, pela pena do jornalista Manuel Moniz, publicou uma peça, sobre as provas de aferição deste ano naquela região e as mentiras e manipulações da Secretaria Regional da Educação que vale a pena ler (Aviso: o autor do texto não é o responsável deste blogue...): "Os resultados das provas de avaliação sumativa externa (PASE) realizadas este ano nos Açores “apresentam uma evolução positiva em relação a 2008, em especial no primeiro ciclo do ensino básico, onde as provas de Matemática e Língua Portuguesa revelaram uma grande melhoria”. A Secretária Regional de Educação, Maria Lina Mendes, falou ontem sobre os dados relativos a estas provas (embora não tenham sido divulgados oficialmente), salientando que apresentam uma “subida positiva em todos os níveis de ensino, tanto a Língua Portuguesa como a Matemática, comparativamente aos verificados no ano passado”.Segundo a Secretária, “os alunos do 4.º ano de escolaridade foram os que apresentaram o melhor desempenho, com 61% de notas positivas a Língua Portuguesa e 54% a Matemática, enquanto no 6.º ano registaram-se 55% de notas positivas a Português e 44% a Matemática. Os piores resultados foram registados pelos alunos do 9.º ano de escolaridade, que conseguiram apenas 54% de notas positivas a Língua Portuguesa e 33% a Matemática”.
10 anos para o Topo...
E depois, uma preciosidade: a Secretária Regional da Educação afirma que “se conseguíssemos evoluir a este ritmo, provavelmente daqui a dez anos estaríamos no topo”. Esqueça-se a forma verbal, que linguisticamente parece comprovar que nem ela própria acredita nisso. O problema é que a sua afirmação tem muito pouco de realista: na verdade, os resultados não melhoraram em relação à PASE de 2008 em todas as disciplinas (na Língua Portuguesa são mesmo piores) e o pouco que subiram em Matemática dificilmente nos colocariam no “topo” em 2019. Talvez 20 anos fosse mais realista, mesmo sem considerar a curiosa abordagem governamental, que tende a esquecer o real problema: os jovens que continuam a não conseguir atingir médias positivas e o facto de que mais 10 anos a este ritmo significaria um atraso incomensurável do arquipélago em termos educativos.
Os números reais...
Os números o que dizem é que o desastre continua – e até piorou. No 4º Ano, aumentou-se de 60,22% de média global em Língua Portuguesa para 61% (mais 8 décimas), e em Matemática de 52% para 54% (2 pontos percentuais). No 6º Ano, baixou-se de 57,5% em Língua Portuguesa para 55% (menos 2,5 pontos percentuais), e em Matemática aumentou-se de 41,6% para 44% (2,4 pontos). E no 9º Ano, baixou-se na Língua Portuguesa de 59,3% para 54% (menos 5,3 pontos) e aumentou-se em Matemática de 31,2% para 33% (mais 1,8 pontos). Fazendo a contabilidade, na realidade não houve qualquer subida, mas antes uma descida de 0,87 pontos, quando se soma as diferenças na Língua Portuguesa e na Matemática.
E ainda há pior...
De onde virá a felicidade da Secretária da Educação? É difícil perceber, tanto mais que estes nem são os piores dados. Há pior. Numa estratégia curiosa, os piores alunos são retirados a estes “dados oficiais” – que são os do “ensino regular” – havendo uma segunda categoria chamada de “Casos Particulares”. E não são poucos: em média, cerca de 20% dos alunos regulares.Ora, nesta categoria “particular”, os resultados são ainda piores. No 6º Ano, a média global em Língua Portuguesa foi de 31,44%, e em Matemática foi de 20,09%. No 9º Ano, foi de 34,8% na Língua Portuguesa e de 8,9% em Matemática. Para se ter uma ideia mais precisa: 98% de negativas em Matemática no 9º Ano e 92% no 6º… Dá que pensar!Aliás, a este nível nem é uma questão apenas de más notas: o número dos alunos que faltaram poderia piorar ainda mais os resultados: no 6º Ano, em média cerca de 30% dos alunos faltaram à prova (e não deve ter sido por saberem muito da matéria), enquanto que no 9º Ano a média baixou para os 25%...Terá a Secretária da Educação mentido propositadamente ou apenas cometido um equívoco involuntário? A sua reacção a esta notícia – a existir – di-lo-á.
“Negas” com fartura
Mesmo em relação aos alunos do ensino “regular” as notas de felicidade não são muitas – ou não deveriam ser. O que é que se pode pensar quando, já depois de retirados os piores, quase 30% dos alunos do 4º ano têm negativa em Língua Portuguesa e 44,6% chumbam em Matemática?No 6º Ano, quase 33% tiveram nega em Língua Portuguesa e 67% em Matemática – uma maioria absoluta muito pouco reconfortante... E no 9º Ano, 22,8% tiveram nega em Língua Portuguesa e um recorde de 78,8% chumbaram em Matemática. Ainda “bem” que nenhumas destas notas servem para passar ou reprovar os alunos – no fundo é tudo a brincar, apenas para “aferir da qualidade do ensino”, como referem os documentos que lançaram estas provas.No entanto, o facto é que todos estes jovens (os regulares como os particulares) passarão de ano, mesmo que mais de 80% não perceba patavina de números, nem que se consiga perceber qual é a estratégia governamental para fazer face a esta espécie de praga que tende a não abandonar os jovens açorianos.A Secretária – e por conseguinte o Governo – está satisfeita. Talvez não tanto por saber que 80% dos alunos que vão obrigatoriamente ingressar no 10º Ano de Escolaridade pouco sabem de contas, fórmulas ou números, mas talvez por imaginar que inventou uma nova fórmula para protelar o juízo que se irá fazer sobre o seu trabalho em prol da Educação (10 anos, ao que parece).Mas a este nível de decréscimo, onde é que se estaria daqui a 10 anos? A resposta real: um pouco mais abaixo!".
E como remate final lá estão os anexos das Provas PASE 2008. E já agora, leiam também o texto intitulado "PASE: Médias nos Açores piores em 30% que as nacionais" acompanhado do respectivo ranking como anexo. Desconfio que não
tarda muito e a PT do espertalhão Bawa vai aos Açores comprar este jornal...

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